Será que o estudo de Teologia Sistemática pode ser aplicado em nossos dias? Como colocar em prática questões teológicas? Como o estudo de escatologia, em especial o Milênio (na visão amilenista), pode ser aplicado em missões?
Neste artigo procurarei mostrar que na visão amilenista existe algo bem mais prático para o evangelismo.
Como entender Apocalipse 20.1-4?
Antes de tentar entender sobre a prisão de Satanás e o reinado de mil anos, devemos entender primeiro como interpretar o Apocalipse.
O sistema de interpretação mais satisfatório, para mim, é aquele conhecido como paralelismo progressivo, defendido pelo Dr. Hendriksen em seu livro Mais que Vencedores, e pelo Rev. Leandro Lima, em seu livro Razão da Esperança, ambos da Editora Cultura Cristã.
De acordo com essa interpretação, o livro do Apocalipse consiste em sete seções que se desenrola paralelamente, cada uma delas retratando a igreja e o mundo, desde a época da primeira vinda de Cristo até o tempo de sua segunda vinda.
A primeira seção: Cristo no meio dos sete candeeiros (Ap 1 – 3); Segunda seção: A visão do céu e dos Sete selos (Ap 4 – 7); Terceira seção: As sete trombetas (Ap 8- 11); Quarta seção: O Dragão perseguidor (Ap 12 – 14); Quinta seção: As sete taças (Ap 15 – 16); Sexta seção: A queda da Babilônia (Ap 17 – 19); Sétima seção: A Grande consumação (Ap 20 – 22).
Sendo assim, agora podemos adentrar em Apocalipse 20.1-4. Tentarei responder algumas perguntas: Satanás está preso? Por que o Milênio não é literal?
A prisão de Satanás e os mil anos.
Entendemos biblicamente que o Diabo, a antiga serpente, está amarrado. Em Apocalipse 20.1-3 nos é dito que um anjo prendeu Satanás. Para tentar entender o impedimento da atuação de Satanás, vejamos a história de Jó.
Jó 1.6-12 relata um livre acesso de Satanás para se achegar à presença de Deus junto com os “filhos de Deus” (v.6). E, tendo este livre acesso, ele acusou Jó. Mas, segundo Jesus Cristo, advertindo seus discípulos que voltavam do campo em grande alegria, disse que Satanás foi expulso do céu como um raio (Lc 10.18,19).
A prisão de Satanás tem a ver com a primeira vinda de Cristo. Estes textos bíblicos comprovam isso:
- “Ou, como pode alguém entrar na casa do homem valente, e furtar os seus bens, se primeiro não maniatar o valente, saqueando então a sua casa?” Mt 12.29
- “Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso...” Jo 12.31,32.
- “E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo.” Cl 2.15
- “... pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo;” Hb 2.14
- “... Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo.” 1Jo 3.8
- E em Apocalipse 12.5-17 nos mostra que a expulsão de Satanás foi resultado da coroação de Cristo.
Por isso, entendemos que desde a vinda de Cristo com a sua consumação na cruz, Satanás foi amarrado. Claro que não devemos entender isso de forma literal, mas simbólica. Pois, como um espirito poder ser preso em cadeias literais?
Logo, após a vinda de Cristo e a prisão de Satanás, nós entendemos que o milênio é agora na época da igreja, segundo a interpretação descrita acima no paralelismo progressivo. Mas, este reinado não é na terra, como se ensina em outras interpretações. Vejamos o texto:
“E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos.” Ap 20.4
Entendemos que o termo alma não quer dizer um corpo humano, mas como o próprio João mostra, são as almas daqueles que foram mortos por causa do testemunho de Cristo. Há também referência a tronos. Em todo o Apocalipse, tanto o trono de Cristo, quanto o seu povo sempre estão no céu. Assim, os versículos 4-6 formam a visão do reinado milenar dos cristãos com seu Salvador, após eles partirem desta vida e enquanto esperam a segunda vinda de Cristo, a ressurreição e a felicidade eterna.
A prisão de Satanás, o Milênio e missões.
Simon Kistemaker observa:
Por toda a era veterotestamentária, somente a nação de Israel recebeu revelação de Deus (Rm 3.2). [01]
Deus não revelou sua Santa Palavra para todos os moradores da terra, como observou Kistemaker acima, mas somente ao povo escolhido. Na Antiga Aliança o não judeu tinha que vir até Jerusalém para fazer parte do pacto e/ou participar das festas religiosas, mas não vemos isso na Antiga Aliança. O que vemos, são exceções: Raabe salva, Rute confessando ao Deus Todo Poderoso e um Judeu pregando para uma nação ímpia: Jonas e os ninivitas. Mas Deus revelou em sua Palavra, por intermédio dos profetas, que os gentios seriam convidados a participarem do pacto na Nova Aliança (Rm 9.25-2; Cf. Os 1.10; 2.23).
Na cruz Satanás é preso, mas não totalmente, pois o texto nos diz que ele está impossibilitado de enganar as nações [gentios] (Ap 20.3), não diz que ele está preso e ponto final. Como vimos acima, antes do ministério de Cristo, Israel era a única nação chamada entre todas as nações. No entanto, louvado seja Deus! Cristo amarra o valente e saqueia a sua casa (Mt 12.29), e no Dia de Pentecoste o Espirito Santo é derramado sobre toda carne (At 2.17), o que significa que o Evangelho é para todas as nações, e não apenas para os judeus.
A era das missões mundiais havia começado e a obra enganadora de Satanás havia chegado ao fim, como disse o Senhor: “Livrando-te deste povo, e dos gentios, a quem agora te envio. Para lhes abrires os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás a Deus; a fim de que recebam a remissão de pecados, e herança entre os que são santificados pela fé em mim” (At 26:17-18). As portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja, disse Jesus a Pedro. Toda autoridade, tanto no céu como na terra, fora dada a Cristo e, por isso, Cristo nos ordena a pregar e fazer discípulos em todas as nações.
Desde o inicio da era Cristã Satanás está preso, impossibilitado de impedir o avanço do Evangelho por todas as nações, dentre elas, os eleitos serão alcançados e serão salvos. Por isso, não podemos negar a nossa responsabilidade de pregar o Evangelho a qualquer pessoa e em qualquer lugar, porque “hoje é o tempo aceitável, eis aqui agora a salvação” (2Co 6.2), “se ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais os vossos corações” (Hb 3.7,8). Não haverá chance para pregação e salvação após a vinda de nosso Senhor, porque o tempo é HOJE.
Autor: Denis Monteiro.
[01] Simon Kistemaker. Apocalipse. 2004: p. 673.
Caro escritor,
ResponderExcluirConcordo em gênero, número e grau com suas considerações, todavia, aos olhos do que mostra a Bíblia, não há como crer que “almas” recebam vestes brancas (Ap 6:11) e, nem mesmo, se assentem em trono para reinar “no céu” (Ap 20:4) por uma série de razões, explicitadas mais adiante.
A Bíblia diz que ninguém ainda subiu ao céu, nem mesmo o rei Davi (At 2:34), mostrando-nos que os textos bíblicos estão centrados na SEGUNDA RESSURREIÇÃO (a ressurreição física), ou seja, aquela que será a grande apoteose da história humana na terra e o momento em que o próprio apóstolo Paulo, por exemplo, esperava receber o tão esperado prêmio (2 Tm 4:8).
Diversas passagens nos garantem que a morte é o pior dos castigos e o grande vilão a ser vencido naquele grande Dia (1 Co 15:26), exatamente porque representa o fim de todas coisas para os que haviam sido criados para ser eternos.
Se a morte fosse apenas uma passagem para pré-castigos e pré-coroações não haveria necessidade de julgamento e nem mesmo de ressurreição.
Além do que, dar-se-ia, inclusive, sustentação para uma série de doutrinas heréticas, bem como para as palavras mentirosas do diabo, que disse a Eva que ela não iria morrer se ela obedecesse a sua voz (Gn 3:4).
Se entendermos que a morte é apenas uma passagem, tenho por mim que não houve, de fato, um real castigo pela desobediência de Adão, mas, sim, um prêmio, uma vez que assentar-se em um trono, no céu, e reinar com Deus, parece ser bem melhor do que viver “preso” neste corpo de carne (uma doutrina grega).
O próprio Deus classifica o homem como “pó” (Gn 3:19) e não como possuindo uma entidade presa pelo corpo. Tal ideia, a meu ver, consiste uma heresia grega que ganhou espaço entre os judeus e cristãos, levando-os ao paganismo e à diminuição do imensurável valor da morte e ressurreição de Cristo.
A Bíblia mostra que o grande troféu dos crentes é exatamente a ressurreição, uma vez que a morte é a extinção da vida, pois está dito que, no sepulcro (na morte), não há mais condição de se louvor a Deus. Veja algumas comprovações:
1 - Comprovações bíblicas da total inconsciência apos a morte: Sl 115:17; Ec 9:5,6,10; Sl 94:17; Jò 14:12,21; 2 Re 22:20; Sl 6:5; Sl 146:4; Sl 88:10-12; Is 38:18,19.
2 - Comprovações bíblicas do SONO DA MORTE (uma simbologia para a morte): Sl 13:3; Sl 76:5,6; At 7:60; Jr 51:57; 1 Ts 4:13; Jo 11:11-14; Jò 14:12,21; Jò 3:11,13.
Por isso, creio que o melhor entendimento para Ap 20:4 é considerar que se trata simplesmente de uma visão consoladora que Deus deu a João, mostrando-nos que os crentes já reinam em vida, assentados nos lugares celestiais (Ef 2:6), e devem guardar no coração a promessa de que naquele grande Dia, ao ressuscitar, julgarão o mundo.
Aliás, esse tipo de mensagem consoladora fez parte da vida do próprio Filho de Deus, o qual foi consolado, em vida, por anjos, num momento de grande angústia (Lc 22:43) e guardou, no coração, a promessa de que, pelo gozo que lhe estava proposto (Hb 12:2), traria a incorrupção aos que cressem n´Ele (Is 53:10-11), tendo sido ouvido, pelo Pai, naquilo que temia: a MORTE, o terrível inimigo que representa o fim de todas as coisas (Hb 5:7).
Quando Jesus disse ao ladrão da cruz que, naquele mesmo dia, ele estaria no paraíso, creio que Jesus estava nos revelando que o sono da morte, sob o ponto de vista divino, é um abrir e fechar de olhos. Ou seja, ao morrer, deixamos a dimensão de tempo e espaço e mergulhamos num eterno agora, o tempo de Deus, de tal sorte que, na ressurreição do último Dia, acordaremos todos juntos, no mesmo instante, para o juízo final (Hb 9:27).
Por isso, creio se tratar de um erro formular doutrina em cima de um livro ou passagem alegórica, e, muito menos, em cima de parábolas que trazem apenas lições morais, sendo incongruente, por exemplo, achar que Deus louvaria um mordomo infiel (Lc 16:8-9) ou que Ele desejaria que alguém cortasse a mão por causa de um pecado (Mt 5:30).
Deus te abençoe e parabéns pelo texto.