Importante: O texto a seguir é de autoria de Leandro Lima, pastor efetivo na IPB de Santo Amaro, SP, mestre em Teologia e História pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper e doutor em Letras - Literatura, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Os Santos reinam.
Em seguida, Apocalipse 20.4-6 narra um reinado milenar. Aqueles que seguem uma abordagem cronológica do capítulo 20, dizem que todos estes acontecimentos seguem o 19. Então, na segunda vinda de Jesus, Satanás seria preso, e, em seguida, haveria a primeira ressurreição e os crentes reinariam com Cristo por mil anos na terra. Depois destes mil anos haveria a segunda ressurreição somente dos ímpios para o juízo. Nossa dificuldade com esta interpretação já foi descrita acima. Não cremos que o capítulo 20 seja uma seqüência do 19, mas que recomeça um novo ciclo. Vimos que a derrota e a prisão de Satanás já aconteceram na primeira vinda de Jesus.
Tronos no céu.
Mas, há uma dificuldade ainda maior em pensar que o milênio começa com a ressurreição dos crentes. João não diz que vê corpos reinando com Cristo na terra, mas “almas” (Ap 20.4). Ele diz que viu tronos, e sentados nestes tronos aqueles que têm a autoridade de julgar. Quem estão assentados nestes tronos? São as almas que João viu. O texto grego não contém a expressão “vi ainda”, como se fosse um grupo diferente daquele que está assentado nos tronos. Diz simplesmente: “E as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus e da Palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tão pouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante os mil anos” (Ap 20.4).
Note que estas almas estão “vivendo” com Cristo e reinando por mil anos. A expressão “e viveram” (no grego ezesan) não significa necessariamente “e ressuscitaram”, até porque a palavra grega “ressuscitaram” é outra (anastásei). O texto nos diz que as almas dos que morreram estão “vivendo” e reinando com Cristo por mil anos, que é o tempo inteiro da dispensação cristã, desde a primeira vinda de Cristo até a segunda vinda. Além disso, estes tronos certamente devem estar no céu, pois como diz W. J. Grier, “sempre que se faz referência a tronos, no Apocalipse, quer se trate do de Cristo, quer dos de Seu povo, são localizados no céu” [8]. (Ver Ap 4.4).E como diz Kistemaker, “o vocabulário de tronos, juízo e almas representa uma cena celestial” [9].
Quando João diz que os restantes dos mortos não reviveram “até que se completassem os mil anos” e chama o acontecimento de “viver” de primeira ressurreição, ele não está dizendo que isso vai acontecer depois do milênio. Aliás, a palavra “reviveram” é a mesma usada para “viveram” no verso anterior. O que João quer dizer é que os mortos sem Cristo continuaram mortos física e espiritualmente, e depois do milênio vão ressuscitar, mas para entrar na morte eterna. Portanto, a primeira ressurreição aqui é o “viver” com Cristo no céu.
Os ímpios não vão “viver” com Cristo no céu até o dia da ressurreição final. Aquele que tem parte na primeira ressurreição (espiritual) vai para o céu, e não precisa temer a segunda morte que é o Lago de Fogo. Nem seria preciso falar algo assim se os cristãos já estivessem com seu novo corpo aqui na terra. Num resumo: “Os que pertencem a Cristo morrem uma vez, porém ressurgem duas vezes (espiritual e fisicamente), enquanto os que o têm rejeitado ressurgem uma vez, porém morrem duas vezes (física e espiritualmente)” [10].
As pessoas que João viu no céu (decapitados como Paulo e João Batista) ascenderam espiritualmente ao céu (primeira ressurreição), e ressuscitarão fisicamente na vinda de Jesus. As pessoas que morrem sem Cristo não vão ao céu (não tem parte na primeira ressurreição), mas ressuscitarão na vinda de Jesus para o grande julgamento.
A situação dos mortos.
Um argumento que reforça esta interpretação vem de outras partes do livro de Apocalipse. Devemos sempre lembrar que João está escrevendo para cristãos do primeiro século. Aqueles cristãos estavam sofrendo grandes perseguições. Muitos já haviam morrido por causa do Evangelho. Era natural que a igreja se perguntasse: O que aconteceu com os cristãos que foram martirizados? Deus não vai fazer nada para vingá-los? Em praticamente todas as seções, João dá informações sobre esses mortos.
No capítulo 6, ele diz que viu as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. Essas almas estavam debaixo do altar de Deus, e clamavam por vingança. Foi lhes dito que deviam esperar, vestidas de vestiduras brancas, até que se completasse o número dos mártires (Ver Ap 6.9-11).
No capítulo 7, João dá mais informações sobre os mártires. Ele diz que “se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário. E aquele que se assenta no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo. Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima” (Ap 7.15-17). Ou seja, João está tentando consolar os amigos e parentes das vítimas, dizendo que elas estão numa posição privilegiada.
No capítulo 14, João diz que os mortos no Senhor são “bem-aventurados”, podem descansar de suas fadigas, pois suas obras os acompanham (Ap 14.13).No capítulo 20, ele torna a ver as almas destes mártires, e agora acrescenta que além de estarem num estado de bem-aventurança, estão reinando com Cristo e serão os próprios juízes de seus algozes (Ap 20.4).
Portanto, na sequência lógica do Apocalipse, este texto não está falando coisa alguma sobre um reino literal e terreno de Cristo sobre a terra durante mil anos, mas da situação dos mortos em Cristo no céu, durante todo o tempo da dispensação cristã.
Como já vimos, aqueles que reinam com Cristo por mil anos não são pessoas ressuscitadas fisicamente, mas almas que reinam no céu. Neste ponto, há mais uma dificuldade para a interpretação pré-milenista que é o fato de que o texto localiza apenas dois grupos de pessoas que reinam com Cristo, e são os “decapitados por causa do testemunho de Jesus e os que não adoraram a besta”. Cadê o resto dos crentes mortos?
Além disso, está falando apenas dos que morreram, e se eles ressuscitaram fisicamente, onde estão os vivos que serão transformados? Eles não participam do milênio? Como diz Hoekema, “não há nada dito aqui acerca de crentes que não morreram, mas ainda estavam vivos quando Cristo retornou” [11]. Mas quando lembramos que João está querendo explicar justamente a situação dos mártires, toda dificuldade desaparece.
Tronos no céu.
Mas, há uma dificuldade ainda maior em pensar que o milênio começa com a ressurreição dos crentes. João não diz que vê corpos reinando com Cristo na terra, mas “almas” (Ap 20.4). Ele diz que viu tronos, e sentados nestes tronos aqueles que têm a autoridade de julgar. Quem estão assentados nestes tronos? São as almas que João viu. O texto grego não contém a expressão “vi ainda”, como se fosse um grupo diferente daquele que está assentado nos tronos. Diz simplesmente: “E as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus e da Palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tão pouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante os mil anos” (Ap 20.4).
Note que estas almas estão “vivendo” com Cristo e reinando por mil anos. A expressão “e viveram” (no grego ezesan) não significa necessariamente “e ressuscitaram”, até porque a palavra grega “ressuscitaram” é outra (anastásei). O texto nos diz que as almas dos que morreram estão “vivendo” e reinando com Cristo por mil anos, que é o tempo inteiro da dispensação cristã, desde a primeira vinda de Cristo até a segunda vinda. Além disso, estes tronos certamente devem estar no céu, pois como diz W. J. Grier, “sempre que se faz referência a tronos, no Apocalipse, quer se trate do de Cristo, quer dos de Seu povo, são localizados no céu” [8]. (Ver Ap 4.4).E como diz Kistemaker, “o vocabulário de tronos, juízo e almas representa uma cena celestial” [9].
Quando João diz que os restantes dos mortos não reviveram “até que se completassem os mil anos” e chama o acontecimento de “viver” de primeira ressurreição, ele não está dizendo que isso vai acontecer depois do milênio. Aliás, a palavra “reviveram” é a mesma usada para “viveram” no verso anterior. O que João quer dizer é que os mortos sem Cristo continuaram mortos física e espiritualmente, e depois do milênio vão ressuscitar, mas para entrar na morte eterna. Portanto, a primeira ressurreição aqui é o “viver” com Cristo no céu.
Os ímpios não vão “viver” com Cristo no céu até o dia da ressurreição final. Aquele que tem parte na primeira ressurreição (espiritual) vai para o céu, e não precisa temer a segunda morte que é o Lago de Fogo. Nem seria preciso falar algo assim se os cristãos já estivessem com seu novo corpo aqui na terra. Num resumo: “Os que pertencem a Cristo morrem uma vez, porém ressurgem duas vezes (espiritual e fisicamente), enquanto os que o têm rejeitado ressurgem uma vez, porém morrem duas vezes (física e espiritualmente)” [10].
As pessoas que João viu no céu (decapitados como Paulo e João Batista) ascenderam espiritualmente ao céu (primeira ressurreição), e ressuscitarão fisicamente na vinda de Jesus. As pessoas que morrem sem Cristo não vão ao céu (não tem parte na primeira ressurreição), mas ressuscitarão na vinda de Jesus para o grande julgamento.
A situação dos mortos.
Um argumento que reforça esta interpretação vem de outras partes do livro de Apocalipse. Devemos sempre lembrar que João está escrevendo para cristãos do primeiro século. Aqueles cristãos estavam sofrendo grandes perseguições. Muitos já haviam morrido por causa do Evangelho. Era natural que a igreja se perguntasse: O que aconteceu com os cristãos que foram martirizados? Deus não vai fazer nada para vingá-los? Em praticamente todas as seções, João dá informações sobre esses mortos.
No capítulo 6, ele diz que viu as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. Essas almas estavam debaixo do altar de Deus, e clamavam por vingança. Foi lhes dito que deviam esperar, vestidas de vestiduras brancas, até que se completasse o número dos mártires (Ver Ap 6.9-11).
No capítulo 7, João dá mais informações sobre os mártires. Ele diz que “se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário. E aquele que se assenta no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo. Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima” (Ap 7.15-17). Ou seja, João está tentando consolar os amigos e parentes das vítimas, dizendo que elas estão numa posição privilegiada.
No capítulo 14, João diz que os mortos no Senhor são “bem-aventurados”, podem descansar de suas fadigas, pois suas obras os acompanham (Ap 14.13).No capítulo 20, ele torna a ver as almas destes mártires, e agora acrescenta que além de estarem num estado de bem-aventurança, estão reinando com Cristo e serão os próprios juízes de seus algozes (Ap 20.4).
Portanto, na sequência lógica do Apocalipse, este texto não está falando coisa alguma sobre um reino literal e terreno de Cristo sobre a terra durante mil anos, mas da situação dos mortos em Cristo no céu, durante todo o tempo da dispensação cristã.
Como já vimos, aqueles que reinam com Cristo por mil anos não são pessoas ressuscitadas fisicamente, mas almas que reinam no céu. Neste ponto, há mais uma dificuldade para a interpretação pré-milenista que é o fato de que o texto localiza apenas dois grupos de pessoas que reinam com Cristo, e são os “decapitados por causa do testemunho de Jesus e os que não adoraram a besta”. Cadê o resto dos crentes mortos?
Além disso, está falando apenas dos que morreram, e se eles ressuscitaram fisicamente, onde estão os vivos que serão transformados? Eles não participam do milênio? Como diz Hoekema, “não há nada dito aqui acerca de crentes que não morreram, mas ainda estavam vivos quando Cristo retornou” [11]. Mas quando lembramos que João está querendo explicar justamente a situação dos mártires, toda dificuldade desaparece.
Continua...
Link original: http://www.ipsantoamaro.com.br/artigos/o-reino-milenar.html
[8] W. J. Grier. O Maior de Todos os Acontecimentos, p. 128.
[9] Simon Kistemaker. Apocalipse, p. 675.
[10] Simon Kistemaker. Apocalipse, p. 680.
[11] Antony Hoekema. A Bíblia e o Futuro, p. 244.
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