segunda-feira, 16 de julho de 2012

Amilenismo ou A Verdade do Retorno do Senhor Jesus.

Importante: O texto a seguir é de autoria do Rev. Dale H. Kuiper, pastor da Igreja Protestante Reformada Sudeste em Grand Rapids, Michigan.

Nos dois artigos anteriores as teorias do pós-milenismo e do pré-milenismo foram definidas e brevemente discutidas. Em ambos os casos foi mostrado que estas visões não satisfazem todos os dados revelados, nos apresentados pelas Escrituras. Cada visão tem elementos de verdade para recomendá-la; todavia, ao mesmo tempo, cada uma delas entra em conflito com várias porções da Bíblia. Embora a verdade concernente à parousia (grego, presença) de Jesus Cristo tenha sido sugerida anteriormente, é a tarefa deste artigo desenvolver mais completamente esse verdadeiro conceito, e mostrar como a unidade das Escrituras pode e deve ser preservada também com respeito ao dia do aparecimento de Cristo. Cremos que isto se realiza quando alguém sustenta o que tem sido chamado de Amilenismo.
Este termo é, talvez, desafortunado. Literalmente ele significa “não mil anos”; o amilenismo, então, não crê no milênio. O defeito no nome é que a Bíblia ENSINA um período de 1000 anos num CERTO sentido, e o termo [amilenismo] é completamente negativo. Visto que o termo está conosco, definamo-lo de uma forma que apresente o seu conteúdo positivo:
Amilenismo é aquela visão das últimas coisas que nega um reino literal de mil anos de Cristo sobre esta terra (pré-milenismo) ou um período de mil anos de paz e justiça sobre esta terra antes do retorno de Cristo (pós-milenismo), mas que sustenta que o milênio mencionado em Apocalipse 20 refere-se ao período inteiro entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, do Pentecoste até antes do Julgamento.
Esta visão não é nova! Ela está implícita nos credos históricos primitivos do Cristianismo. Ela foi sustentada pelos maiores teólogos da Igreja - Agostinho, Lutero e Calvino. Teólogos mais recentes também têm esposado esta visão: A. Kuyper e H. Bavinck na Holanda e L. Berkhof e H. Hoeksema neste país. Além do mais, esta é a posição das Confissões Reformadas, e, por conseguinte, de todos os crentes verdadeiramente reformados. Apocalipse 20:1-10 deveria ser lido neste ponto. Um breve comentário sobre esta passagem é apropriado.
O livro de Apocalipse é altamente simbólico e figurativo e não deve ser imaginado que os seus capítulos estão numa cronologia exata. Portanto, ele não deve ser interpretado literalmente em muitas passagens, nem nos apresentado com vinte e dois capítulos de eventos que acontecem numa ordem consecutiva. Repetidamente o apóstolo João recapitula e nos dá outra visão do mesmo período de tempo (Ap 6:12-16, 16:15-19, 14:17-20 por exemplo). Dessa forma, seja o que for que os primeiros dez versos de Apocalipse 20 possam significar, não deve ser compreendido que tudo isto será no futuro. Antes, o apóstolo vê um longo período da historia de outro ponto de vista, aquele das nações de Gogue e Magogue. E visto que esta é uma visão, e o anjo, a cadeira, e o prender são todos figurativos, podemos seguramente assumir que os mil anos são também figurativos. A freqüência dos números neste livro visionário mostra que eles devem ser compreendidos como simbólicos!
A morte, ressurreição e ascensão de Cristo tiveram um grande significado não somente para a Igreja, mas para Satanás também (veja Jo 16:11 e Ap 12:7-9). Em nossa presente passagem a visão é que Satanás, que deriva todo seu poder de Deus (Jó 1), tem o poder limitado durante a presente era; este é o significado do aprisionamento dele por mil anos - verso 2.
Satanás, que deseja trazer toda força possível contra a Igreja de Cristo para destruí-la completamente, é impedido de realizar o seu propósito. Oh, ele ainda está ativo numa extensão considerável: ele anda em derredor bramando como leão; todavia, ele não é capaz de fazer tudo que tem em mente para fazer. Ele está preso (restrito) desde o tempo da ascensão de Cristo até antes de Seu retorno glorioso. Então, por um pouco de tempo, ele será solto para realizar o seu desejo: enganar Gogue e Magogue, aquelas nações que durante esta era vivem nos arredores da civilização e da história (versos 7-8); aquelas vastas multidões juntas, sob a direção do diabo, se dirigirão contra todas as nações Cristãs nas quais a Igreja é encontrada, mas Deus as destruirá todas com fogo, assim como Ele destruiu os inimigos de Israel com fogo (Ez 38).
Qual é brevemente o ponto principal da passagem pode também ser apresentado a partir do verso quarto. O apóstolo João vê...
...“as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem (13:12), e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos (13:16,17); e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos” (Ap 20:4).
Claramente, estes mil anos é o mesmo período de tempo durante o qual o diabo estará preso. É igualmente claro que estes indivíduos degolados são santos que já morreram e estão no céu, e que reinam com Cristo até a última ressurreição dos mortos. Naquele dia, todos aqueles que são de Cristo se unirão a Ele, em corpo e alma, em completa perfeição e glória celestial. Aqueles que não são Seus, que Ele nunca conheceu, não vivem agora e não viveram após a ressurreição; eles perecerão eternamente (verso 5).
Em outras palavras, durante as eras da história há um simultâneo desenvolvimento de duas linhas ou sementes. Desde o tempo do Paraíso, a semente da serpente e a Semente da mulher crescem e se multiplicam: a Semente da linha de Eva é Jesus Cristo e todos aqueles dados a Ele pelo Pai, a igreja; a culminação e o ponto final da semente da serpente é no reino do Anticristo. Se Gogue e Magogue se referem às numerosas multidões a serem encontradas na Ásia oriental, talvez possamos dizer que vivemos não somente perto do fim dos tempos, mas durante aquele período no qual Satanás será “solto por um pouco de tempo”. De qualquer forma, todas as coisas alcançam sua plenitude e desenvolvimento no mesmo momento. O reino deste mundo, o império de Satanás, culmina no homem do pecado, o filho da perdição, o Anticristo. Sob a graça longâmina de Deus, o último dos Seus eleitos nascerá e virá ao arrependimento para que ocorra a ceifa completa dos filhos de Deus. Dessa forma, o propósito eterno de Deus e o Seu beneplácito são alcançados: a Igreja é salvo dentre o mundo para Sua glória eterna!
Uma interpretação como esboçada acima permite uma explicação natural e consistente de todas as passagens das Escrituras que falam do retorno de Jesus. Notemos uns poucos pontos relevantes:

1. Há UMA igreja, e UM pacto, composta de toda a semente espiritual de Abraão, quer sejam judeus ou gentios (Gl 3).
2. A maioria da humanidade não será salva, mas a verdadeira Igreja em qualquer tempo será pequena e desprezada (Lc 12:32 e Mt 22:14).
3. O Anticristo não veio no passado, como na destruição de Jerusalém, por exemplo, mas ainda está para vir (2 Ts 2:3-10).
4. O mundo não está sendo trazido sob a influência Cristã e as guerras não estão desaparecendo, mas a impiedade aumenta e as guerras abundam (Mt 24:6,7).
5. A Igreja não será tirada misteriosamente da terra antes da grande tribulação começar, mas estará na terra com o chamado para perseverar (Mt 24:22).
6. Devemos esperar ainda a apostasia e uma queda da fé para um estado titubeante (Mt 24:10-12 e 1 Tm 4:1).
7. Haverá uma ressurreição de todos os mortos no retorno de Cristo em julgamento (Jo 5:28-29).
8. Este retorno de Cristo está muito perto, embora nenhum homem saiba o dia ou a hora, “Já está próximo o fim de todas as coisas” (1 Pe 4:7) e “Filhinhos, é já a última hora” (1 Jo 2:18).

Dessa forma, a verdade ortodoxa e Reformada da Escritura declara que Cristo brevemente aparecerá com poder e glória em Seu corpo ressurreto. Ele virá para levantar todos os mortos e mudar os corpos dos vivos, para julgar todos os homens e recompensá-los segundo as suas obras, para fazer um novo céu e uma nova terra como lugar apropriado para Si mesmo e para o Seu povo, e então, para fazer toda a criação participar da liberdade dos filhos de Deus; e finalmente, Ele virá para receber Sua Igreja redimida à glória eterna e lançar o diabo, duas hostes e todos os ímpios no fogo eterno.
Qual é o nosso chamado à luz de tudo isto? Como devemos reagir ao fato de que vivemos perto do fim, à própria beira da eternidade? Pedro expressa isso desta forma:
“Sede, portanto, sóbrios, e vigiai em oração” (1 Pe 4:7b).
Não titubeiem, como bêbados, durante toda a vida, ignorando toda a realidade, especialmente a realidade da Verdade da Palavra de Deus. Não zombem e digam:
“Onde está a promessa de Sua vinda? Porque desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação” (2 Pe 3:4).
Não permaneçam com lágrimas em seus olhos à medida que vêem este mundo chegar ao fim. Mas com SOBRIEDADE ESPIRITUAL se regozijem à medida que vêem a historia se movimentando para o fim! Esperem até o fim, pois a vossa redenção está próxima!
O filho de Deus deve também VIGIAR. Observar os sinais da vinda de Cristo: o mundo está se enchendo deles se tivermos olhos para ver. Veja o cumprimento de Mateus 24 na natureza, na história da igreja e na história das nações. Observe o mundo no qual você deve por um tempo viver. Isto não requer participar das coisas do mundo, mas antes, fazer uma análise crítica de suas atividades e filosofias. Veja no mundo o inimigo, uma ameaça real à paz de Deus. E também observe a si mesmo, constantemente fazendo a pergunta:
“Eu sou um estrangeiro aqui? Eu vivo como um verdadeiro perígino, pelo poder da esperança?”
Você perceberá imediatamente que tal atitude sóbria e vigilante requer oração. O peregrino não tem esta força em si mesmo, mas deve freqüentemente buscar refúgio no esconderijo do Altíssimo e debaixo das sombras do Todo-poderoso. Através da oração nós damos a entender que nosso Deus está no céu, soberanamente fazendo Seu beneplácito. Através da oração recebemos a força para perseverar durante as severidades e tentações de cada dia; através da oração somos encorajados e cheios com determinação e fidelidade. E é através da oração que sabemos que nossos pecados são perdoados, de forma que quando Cristo vir como Juiz, seremos perfeitamente vindicados pelo Seu sangue! Então, também desejamos orar:
“Venha o Teu reino, seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu” (Lc 11:2). E “Vem Senhor Jesus, sim, vem sem demora” (Ap 22:20).

3 comentários:

  1. Por que tem tanta confiança que tudo o que está no apocalipse é alegórico? Se não são mil anos de paz, porque então há a referência do número mil?

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    Respostas
    1. Evandro,

      É uma questão de análise. Quando se leva em conta o gênero literário do Apocalipse, qualquer intenção de ler o livro literalmente ocasionará em uma exegese frágil.
      Ou você realmente acha que quando João cita o dragão, a besta, os quatro cavaleiros, os 144.000, a mulher vestida de sol, Jesus com uma espada saindo de Sua boca, uma cidade quadrangular com as medidas de 2.200 quilômetros, etc, etc, etc, ele está realmente dizendo que devemos tomar tais descrições de maneira estritamente literal? Obviamente, não!
      Sendo assim, a expressão "mil" de Ap 20 não é exceção.

      Novamente, "mil" sugere completude, ou seja, um período completo de tempo. Um exemplo bíblico que corresponde exatamente ao que eu estou falando é o Salmo 105:8 que diz:

      Ele se lembra para sempre da sua aliança, por mil gerações, da palavra que ordenou. (NVI)

      Certamente Deus não deixará de lembrar da sua aliança ao término de mil anos, mas o próprio texto diz que ele o fará perpetuamente (para sempre), dando assim o significado da expressão "mil".

      Mac.

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    2. Corrigindo:

      Certamente Deus não deixará de lembrar da sua aliança ao término de mil gerações, mas o próprio texto diz que ele o fará perpetuamente (para sempre), dando assim o significado da expressão "mil".

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