quinta-feira, 17 de março de 2011

O que são mil anos entre amigos? - Parte 3

...continuação.

Importante
: O texto a seguir é de autoria do Dr. Kim Riddlebarger, pastor sênior na Igreja Reformada de Cristo e professor temporário de teologia sistemática no Seminário de Westminster, Califórnia.


Isso significa que o retorno de Jesus Cristo é "O" evento chave na profecia bíblica. Quando nosso Senhor Jesus retornar, ao final desta era, a ressurreição, o julgamento e a criação de Novos Céus e Nova Terra entrarão em cena! Isto está em nítido contraste com o pré-milenismo, que insiste em uma terra parcialmente redimida com pessoas em corpos naturais ainda procriando – Jesus declarou tal impossibilidade (Lucas 20:34).

Portanto, o modelo “duas-eras” é muito simples em sua estrutura e é baseado em textos que só podem ser descritos como claros e diretos, e nos permite tirar conclusões sobre a natureza do ensino do Novo Testamento sobre o retorno de Cristo e o tempo da assim chamada “era milenar”.

Primeiro, os “últimos dias” começaram com a vinda de Cristo e continuarão até o volta de Cristo (At 2:17; Hb 1-2). Este período de tempo - “esta era” - está destinado a passar, e é caracterizado pela guerra, fome, desastres ambientais, perseguição e até o martírio do povo de Deus. Embora haja toda a probabilidade de que esta angústia aumente no período imediatamente anterior ao retorno de Cristo, nenhum homem sabe o dia e a hora da vinda do nosso Senhor. A imagem das dores de parto provavelmente significa que devemos esperar um período alternado de paz e intensificação do mal que fará com que muitos especulem indevidamente sobre o iminente retorno de Cristo. Trata-se de agudas e penetrantes dores de parto, mas elas não são um fim em si mesmas. Portanto, nossa preocupação não deve ser com os sinais do fim, mas em vez disso, devemos ser consumidos com a tarefa atribuída à igreja nos “últimos dias”, a proclamação do evangelho do reino.

Segundo, o retorno de Cristo marca claramente o fim da natureza temporal da vida como a conhecemos - “o presente século mau”. Jesus ressuscitará os crentes mortos, julgará todos os homens, e enviará os ímpios para o fogo do Inferno em Seu regresso. Os elementos da Terra queimarão e os Novos Céus e Terra serão estabelecidos. Este cenário destrói completamente muita da especulação profética evangélica contemporânea, que defende uma vinda “secreta” de Cristo e o arrebatamento dos crentes (que texto pode ser apresentado para provar que Jesus retornará secretamente?), bem como um período de sete anos antes do julgamento final no retorno corpóreo de Cristo. Será que Jesus voltará uma ou duas vezes, com uma delas sendo secreta? Tal especulação não faz sentido quando vista à luz dos textos citados anteriormente, que universalmente descrevem o retorno de Cristo, a ressurreição dos mortos, e o julgamento dos justos e injustos como parte do mesmo evento.

Isto também destrói a ideia de um reino milenar terreno de Cristo, depois que Ele retornar para o juízo. Uma vez que este suposto reinado de mil anos ocorre depois que o destino eterno de todos os homens e mulheres for eternamente selado no julgamento, a simples idéia de Jesus governando sobre um mundo onde ainda existem homens e mulheres em corpos naturais repovoando a Terra simplesmente não é apoiada por textos que são claros (por exemplo, Lucas 20:34). Se o reino milenar descrito em Ap 20 está na verdade se referindo a um futuro período de tempo, surge um outro problema ainda mais significativo (conferir Ap 20:1-10):

“E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos. E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pós selo sobre ele, para que não mais engane as nações, até que os mil anos se acabem. E depois importa que seja solto por um pouco de tempo. E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos. Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos. E, acabando-se os mil anos, Satanás será solto da sua prisão, e sairá a enganar as nações que estão sobre os quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, cujo número é como a areia do mar, para as ajuntar em batalha. E subiram sobre a largura da terra, e cercaram o arraial dos santos e a cidade amada; e de Deus desceu fogo, do céu, e os devorou. E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre.”
No final destes mil anos, João nos diz que haverá uma grande apostasia (uma segunda queda, se preferir), enquanto Jesus está governando fisicamente as nações (Ap 20:7-10). Isto soa muito mais como algo que aconteceria nesta era, e quando fazemos um paralelo com uma passagem frequentemente negligenciada como 2ª Tessalonicenses 2:1-12, o caso de um milênio como sendo a presente era se torna ainda mais forte. De acordo com Paulo em 2ª Tessalonicenses:
“Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele, que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto. Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus. Não vos lembrais de que estas coisas vos dizia quando ainda estava convosco? E agora vós sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo seja manifestado. Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora resiste até que do meio seja tirado; E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda; A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, E com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; Para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniqüidade.”
Visto que a grande apostasia ocorre antes de ser revelado o homem do pecado (v. 3), há uma série de notáveis semelhanças com Apocalipse 20. O mal é contido até o momento em que o Homem do Pecado aparece. Esta passagem está em paralelo com a revolta descrita em Apocalipse 20:7-10. Uma vez que não pode haver pessoas na Terra em corpos naturais após o julgamento (que ocorre na da volta de Cristo, segundo os claros textos que vimos acima), estes apóstatas só podem ser aqueles mesmos crentes que Jesus ressuscitou dentre os mortos em Seu retorno. Em outras palavras, se o pré-milenismo está correto, então são os santos glorificados que seguem a Satanás e se revoltam contra Cristo! Mas será que realmente acreditamos que o mal não estará finalmente conquistado no Seu retorno – mesmo com Jesus reinando fisicamente e o julgamento tendo ocorrido? Isto está evidentemente refutado pela analogia da fé, que expressamente nos diz que Jesus destruirá todos os seus inimigos, e entregará os reinos do mundo ao Pai (1ª Coríntios 15:24) em sua segunda vinda.
Após uma profunda investigação, vemos que os eventos em Apocalipse 20:1-6 não acontecem na Terra absolutamente, pois os tronos descritos nessa passagem estão no céu, e não na Terra. Além disso, em um livro como o Apocalipse, onde os números são sempre usados simbolicamente, faz muito mais sentido argumentar que os mil anos são um símbolo do período de tempo entre a primeira e segunda vinda de Crito, ao invés de vê-los como um futuro período literal com uma segunda queda durante o governo real de Jesus após o julgamento. Assim, o problema do mal e a suposta apostasia dos crentes glorificados em uma futura era milenar constitui uma grande dificuldade para todas as formas de pré-milenismo.

Terceiro, e mais importante, o modelo duas-eras coloca todo o foco em Jesus Cristo e sua segunda vinda, e não em especulações inúteis sobre eventos mundiais. No clássico modelo amilenista reformado, o próximo evento no calendário profético é o retorno do Senhor Jesus Cristo à Terra, mesmo que seja dito que essa vinda é paradoxalmente precedida por sinais. De fato, Jesus pode precisamente retornar antes que você termine de ler este texto! O clamor escatológico da ortodoxia protestante sempre foi “Maranata, vem depressa Senhor Jesus!” Como muitas outras coisas na vida, a abordagem mais simples pode ser a melhor. O modelo duas-eras é claro, bíblico e Cristocêntrico. Este modelo se recusa a permitir especulações indevidas sobre os eventos atuais para desmentir o ensino claro das Escrituras.

É uma pena que este modelo tenha se perdido entre tantos cristãos. O grande inconveniente dele é que não vende muitos livros!


Concluído.


Traduzido por Mac.


2 comentários:

  1. Olá, Mac

    Meu nome é Rodrigo, e estou começando a mergulhar no assunto escatologia e o Amilenismo me parece a opção mais bíblica, embora ainda não tenha um veredito a respeito do assunto.

    No entanto, agradeço sua disposição e dedicação em traduzir esses textos. Muitíssimo obrigado.


    Por fim: há algum bom livro a respeito do Amilenismo, em português, que você me indicaria?

    Abraços.

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  2. Graça e paz Rodrigo.

    Em primeiro lugar, obrigado pela visita.
    Quanto a livros em português sobre escatologia amilenista, aí mesmo no blog há uma aba com algumas indicações. Creio que lhe será de grande ajuda.
    De qualquer forma, e se me permitir uma sugestão, procure adquirir alguma obra de William Hendriksen, pois ele foi um grande conhecedor sobre o assunto.

    Em Cristo, Mac.

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