sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O que são mil anos entre amigos? - Parte 1

Importante: O texto a seguir é de autoria do Dr. Kim Riddlebarger, pastor sênior na Igreja Reformada de Cristo e professor temporário de teologia sistemática no Seminário de Westminster, Califórnia.

Por que o amilenismo faz muito mais sentido do que o pré-milenismo?


Sem dúvida, a maioria dos evangélicos americanos estão comprometidos com o pré-milenismo – a crença de que uma era milenar terrena com duração de mil anos começará imediatamente após o segundo advento do nosso Senhor Jesus Cristo. Uma vez que o pré-milenismo é tão dominante nos círculos da igreja americana, muitos que se deparam com a teologia reformada pela primeira vez ficam bastante surpresos quando descobrem que todos na Reforma Protestante, bem como praticamente toda a Reforma e tradição luterana (juntamente com suas confissões), com algumas poucas exceções, são amilenistas. Na escatologia, o amilenismo entende o milênio como o curso atual da história entre a primeira e segunda vinda de nosso Senhor (a era da igreja militante), e não como uma futura era de ouro na terra, como é ensinado no pré-milenismo e pós-milenismo. No caso de ambos - pré e pós -, o milênio é considerado como sendo a era da igreja triunfante, e não a era da igreja militante.
Estou convencido de que a razão pela qual tantas pessoas rejeitam o amilenismo é simplesmente porque elas não compreendem o ensinamento básico do cenário do fim dos tempos em todo o Novo Testamento. Parte do problema é que os escritores pré-milenistas dispensacionalistas têm dominado completamente a mídia e publicações cristã nos últimos cinquenta anos. Há literalmente centenas de livros, igrejas e ministérios para-eclesiásticos, todos dedicados a levar o pré-milenismo, o dispensacionalismo, e a pretensa ideia do arrebatamento “pré-tribulacionista” às massas. Muitos destes professores e ministérios são muito eficazes e convincentes em suas apresentações. Olhe para as vendas do livro
A Agonia do Grande Planeta Terra, de Hal Lindsey, que foi o mais vendido nos Estados Unidos na década de 1980. E depois há a série Deixados Para Trás, em companhia de vídeos, revistas, jogos, e tudo o mais que LaHaye e Jenkins têm produzido, somando mais de 50 milhões de unidades.
Somente posso lamentar o fato de que minha própria tradição têm feito tão pouco para a produção de livros populares introduzindo e defendendo o amilenismo. Meu palpite é que alguns de vocês nunca ouviu alguma defesa de uma posição clássica realizada por cristãos reformados quanto ao retorno de Cristo e a era milenar.

No entanto, outro problema encontrado quando se discute sobre esse assunto é que muitas vezes há muito calor e pouca luz. Um crítico de profecia (Chuck Missler) disse ironicamente certa vez que pessoas no céu com um QI baixo seriam amilenistas. Hal Lindsey chega ao ponto de rotular o amilenismo como anti-semita, demoníaco e herético. Jack Van Impe chamou o A-milenismo (ao colocar ênfase sobre a letra A) de a maior heresia da história da igreja. Quando eu estava crescendo, não era incomum ouvir peritos em profecia rotularem cristãos amilenistas como teólogos liberais que estavam um pouco constrangidos pelo forte sobrenaturalismo requerido para se acreditar em um súbito arrebatamento secreto. Além disso, os cristãos amilenistas são frequentemente acusados de não tomar a Bíblia literalmente e de ensinar a “Teologia da Substituição”.

O resultado de tal retórica é que os cristãos americanos não podem ajudar sem serem prejudicados por esses comentários infelizes, e muitos rejeitam totalmente (sem a devida consideração do outro lado) a escatologia dos reformadores e do protestantismo clássico – uma escatologia que é incrivelmente simples, bíblica e cristocêntrica.

Eu gostaria de voltar nossa atenção para o caso bíblico do amilenismo. Infelizmente, é tudo muito “elegante” quando se interpreta a Bíblia à luz do jornal da manhã e da CNN. Sim, é interessante interpretar a Bíblia através de todas as crises geopolíticas que surgem em nosso mundo moderno. Isso adiciona relevância à Bíblia, somos informados. Assim, a venda de milhares e milhares de livros é assegurada, bem como programas cristãos de rádio e TV documentando cada passo da União Europeia, o poder político no Oriente Médio, e cada possível tecnologia que possa preparar o caminho para a implementação da marca da besta. Estes dramas sensacionalistas do fim dos tempos aumentam o senso de urgência em relação a vinda do nosso Senhor. Estas coisas supostamente dão a igreja um zelo missionário. No entanto, por mais fascinantes que esses esquemas possam ser, eu não acredito que eles reflitam com precisão os dados bíblicos.

Além disso, há um sério efeito colateral produzido por essa abordagem à profecia bíblica. A Bíblia já não fala por si, uma vez que é tão facilmente torcida por cada um dos seus intérpretes, que fazem o possível para se certificar de que a revolta das nações descrita no livro do Apocalipse não tem nada a ver com o leitor original do primeiro século lutando sob a perseguição romana. Ao invés disso, está relacionada com os noticiários de cada dia. Na mente do comentarista dispensacionalista, o livro do Apocalipse fala mais para nós que vivemos no fim dos tempos, do que para os cristãos das sete igrejas à quem a visão de João é realmente endereçada (Ap 1:3).

E então, quantas vezes podemos dizer aos nossos ouvintes que Jesus voltará em breve (não que
realmente queiramos dizer desta vez!), e então vinculamos isso a um déspota passageiro como Saddam Hussein, ou uma figura política passageira como Mikhail Gorbachev? Como podemos impedir aqueles que necessitam desesperadamente de ouvir sobre a segunda vinda de Cristo de tornarem-se altamente cínicos a respeito da mensagem do retorno do nosso Senhor em juízo? Mas, novamente, isso é um sinal do fim, pois, como Pedro nos advertiu, virão escarnecedores e dirão “onde está a promessa da sua vinda?” (2ªPe 3:3,4). Quão trágico é que tais especuladores proféticos contribuem atualmente para o aumento do ceticismo que eles mesmos reconhecem como um dos principais sinais do fim.
Porém, como em muitas outras crises enfrentadas pela igreja hoje, a tradição reformada clássica tem respostas úteis, que em geral foram esquecidas pelos atuais evangélicos.

A primeira coisa que devemos considerar brevemente é a questão da interpretação bíblica. Todos os reformadores protestantes – que devem voltar a nos dar conselhos nestas áreas – insistem que comecemos com a noção de que a própria Bíblia deve ser lida com a
analogia fidei (analogia da fé). A Sagrada Escritura deve ser autorizada a interpretar a Escritura. Em outras palavras, devemos desenvolver indutivamente um modelo bíblico de escatologia pela utilização de todas as passagens bíblicas relacionadas com o retorno de Cristo, a ressurreição, o julgamento, o milênio, e assim por diante.
Nós nunca devemos estudar escatologia procurando por versículos bíblicos (muitas vezes fora de contexto) que pensamos descrever eventos atuais. Ao utilizar a analogia da fé, devemos começar com as declarações da Escritura com respeito à vinda do nosso Senhor. Seguindo este método, podemos esclarecer muitos dos mistérios bizarros fabricados pelos devotos da profecia moderna, que insistem em fazer de passagens obscuras e difíceis a norma pela qual interpretamos versos claros e seguros. Se este princípio básico de hermenêutica for seguido, logo veremos que não podemos mais ler toda a Bíblia através de uma rede de pressuposições dispensacionalistas, que são: 1) Essa profecia bíblica deve ser interpretada literalmente (mesmo quando os escritores do NT “espiritualizam” as profecias do AT), e 2) que Deus tem propósitos redentivos distintos para Israel e para os gentios.

Em vez disso, devemos testar todos esses pressupostos à luz das Sagradas Escrituras. Por exemplo, protestantes históricos insistem que o Apocalipse interpreta o livro de Daniel, e não ao contrário. O Novo Testamento está autorizado a interpretar o Antigo Testamento. Não há nada particularmente difícil ou profundo nisso, mas seguindo este princípio básico de estudo da Bíblia iremos muito longe em um entendimento mais claro da profecia bíblica.

Se começarmos com passagens claras das Escrituras, podemos construir um modelo simples e básico que nos ajudará com passagens mais difíceis. Tal abordagem é conhecida como o modelo "duas-eras". Jesus e Paulo, por exemplo, falam "dessa era"
e da "era por vir" como distintos períodos escatológicos de tempo. Em Mateus 12:32, lemos:
"E, se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe-á perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro."
De acordo com Lucas 18:29,30...
... "ninguém há, que tenha deixado casa, ou pais, ou irmãos, ou mulher, ou filhos, pelo reino de Deus, que não haja de receber muito mais neste mundo, e na idade vindoura a vida eterna."
Mais tarde, no mesmo Evangelho, Lucas 20:34,35, lemos (em uma passagem chave) o que Jesus respondeu:
"Os filhos deste mundo casam-se, e dão-se em casamento; Mas os que forem havidos por dignos de alcançar o mundo vindouro, e a ressurreição dentre os mortos, nem hão de casar, nem ser dados em casamento."
Não só Jesus fala de duas eras escatológicas, mas também Paulo o faz. No primeiro capítulo de sua carta à igreja de Éfeso (1:21) lemos que o governo de Cristo estende-se...
... "acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro."
Para ambos, nosso Senhor e o apóstolo Paulo, há duas eras (séculos) contrastantes em vista. Nem Jesus e nem Paulo são milenaristas, "pré" ou "pós". A primeira era (chamada de "este século" no Novo Testamento) é o atual período de tempo antes da segunda vinda de Cristo. A segunda era, um distinto período de tempo futuro, também é chamada de "século vindouro" ou "idade vindoura". Colocar estas duas épocas ("esta era" e a "era por vir") em contraste uma com a outra permite-nos olhar para as qualidades atribuídas a cada uma pelos escritores bíblicos, de tal maneira que seremos capazes de responder sobre perguntas a respeito do tempo do retorno de Cristo, bem como a natureza e período do milênio.

continua...


Traduzido por Mac.


Um comentário:

  1. O Amilenismo é a Verdade Bíblica da Palavra de Deus. Tenho estudado a Santa e Bendita Palavra de Deus (JOÃO 17.17), e certamente, a própria coerencia é de fato e de verdade que o AMILENISMO, é de acordo com As Escrituras. (...) ass. Jair

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...