sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A tensão entre o "JÁ" e o "AINDA NÃO" - Parte 1

Importante: O texto a seguir é de autoria de Anthony A. Hoekema (1913/1988), teólogo cristão que atuou como professor de Teologia Sistemática no Calvin Theological Seminary por vinte e um anos.

Temos visto que aquilo que caracteriza especificamente a escatologia do Novo Testamento é uma tensão subliminar entre o “já” e o “ainda-não”. O crente, assim ensina o Novo Testamento, já está na era escatológica mencionada pelos profetas do Antigo Testamento, mas ainda não está no estado final. Ele já experimenta a presença do Espírito Santo em si, mas ainda espera por seu corpo ressurrecto. Ele vive nos últimos dias, mas o último dia ainda não chegou.
Em capítulos anteriores, tocamos nesta tensão de várias maneiras. Vimos que o Novo Testamento expressa esta tensão em sua doutrina das duas eras: a era presente e a era vindoura. Percebemos que a compreensão da história que subjaz ao Novo Testamento implica na existência desta tensão: continua havendo duas correntes de desenvolvimento na história - a do Reino de Deus e a do reino do mal. O próprio Reino de Deus, na verdade, só pode ser entendido à luz desta tensão, como sendo uma realidade tanto presente como futura.
O papel do Espírito Santo na escatologia lustra mais a tensão entre o que já somos e o que esperamos ser. Observamos isto especialmente em conexão com conceitos tais como nossa filiação, o Espírito como primícia, e o Espírito como penhor e selo.
Na verdade, é impossível entender a escatologia Neotestamentária à desta deste tensão. A tensão entre o já e o ainda-não está implícita nos ensinos de Jesus. Porque Jesus ensinou que o Reino de Deus é tanto presente como futuro, e que a vida eterna é tanto uma possessão presente como uma esperança futura. Esta tensão mais tarde, também permeia os ensinos do Apóstolo Paulo. Para estes Apóstolo, a vida de Jesus se autorevela no tempo presente em nossa carne mortal (2ª Co 4:10,11), mas a presença desta vida nova é provisória e imperfeita, de modo que podemos referi-la tanto dela revelada, como podemos falar dela como escondida (Cl 3:3; Rm 8:19,23). Por causa disso, às vezes, Paulo escreve acerca da morada presente do Espírito numa linguagem alegre e triunfante (Rm 8:9; 2ª Co 3:8), enquanto que outras vezes ele fala acerca do crente gemendo intimamente e anelando por coisas melhores (Rm 8:23; 1ª Co 5:2) [1].
Esta tensão também é mencionada nas Epístolas não-paulinas. O autor de Hebreus contrasta a primeira vinda de Cristo com a segunda:
“Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação.” (9:28)
Pedro conecta a ressurreição de Cristo com nossa esperança futura:
“[...] que nos regenerou para uma viva esperança mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros.” (1ª Pe 1:3,4)
E João realça o contraste entre o que somos agora e o que deveremos ser:
“Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Sabemos que quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque havemos de vê-lo como ele é.” (1ª Jo 3:2)
Contrariamente à opinião de alguns, esta tensão entre o já e o aindanão é também encontrada no livro de Apocalipse. Embora uma discussão mais completa deste livro seja fornecida mais adiante, podemos notar aqui que nem uma visão exclusivamente preterista deste livro, nem uma exclusivamente futurista lhe faz jus completamente. A visão preterista afirma que maior parte do que é encontrado no livro de Apocalipse ou já tinha acontecido à época em que o livro foi escrito, ou estava para acontecer logo após seu surgimento. A visão futurista, ao contrário, sustenta que a maior parte do que está no livro não somente era futuro quando o livro foi escrito mas, mesmo hoje, ainda não aconteceu. Nenhuma destas posições leva em conta a tensão já-ainda-não, que permeia o livro inteiro. O livro do Apocalipse se refere tanto ao passado como ao futuro. Ele constrói sua expectação pelo futuro sobre a obra que Cristo fez no passado. Entre as várias referências do livro à vitória que Cristo conquistou no passado, podemos citar as seguintes: 1:18; 5:5-7,9,10; 12:1-5,11. Entre as referências deste livro à segunda vinda de Cristo encontram-se as seguintes: 1:7; 19:11-16; 22:7,12,20. O livro do Apocalipse, portanto, retrata a igreja de Jesus Cristo como salva, segura em Cristo, e destinada para uma glória futura - embora ainda sujeita a sofrimento e perseguição enquanto o noivo demora.

continua...

[1] Ver também H. Riderbos, Paul, pp. 169-175.

3 comentários:

  1. Gostei muito do seu site.

    Por favor, qual é a diferença entre Preterismo e Amilenismo?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Flaviano,

      Dê uma olhada nesse glossário.

      http://www.amilenismo.com/2012/07/glossario-escatologico.html

      Abraço.

      Mac.

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