Importante: O texto a seguir é de autoria do Rev. William J. Grier (1868-19??).
Podemos considerar a "Exposição do Apocalipse" escrita por Walter Scott como revelando o ponto de vista generalizado entre os pré-milenistas. Assim esboça ele o capítulo 20:
"Há quatro grandes ações: primeiro, a prisão de Satanás no abismo, durante mil anos (vs. 1-3); em segundo lugar, o reinado, com Cristo, de todos os santos do céu, durante mil anos (vs. 4-6); a seguir, vem a última e desesperada tentativa de Satanás para obter, novamente, o domínio do mundo, sua completa derrota e condenação final (vs. 7-10); por fim, o julgamento dos ímpios mortos (vs. 11-15)."Os pré-milenistas em geral acham que os mil anos citados no capítulo 20 constituem o período do reino de Cristo em pessoa, aqui na terra, sobre o povo de Israel restaurado e as nações gentias vencidas. Durante esse tempo, Satanás estará acorrentado e o mal, reprimido, enquanto com Cristo reinarão os Seus salvos, ressuscitados e trasladados. Nesse milênio, serão cumpridas as profecias do Velho Testamento com respeito à domesticação de animais selvagens e à restauração do templo, do culto e do ritual judaicos. Ao findar-se o milênio, Satanás será solto por um tempo limitado e insuflará as nações a se rebelarem contra o governo de Cristo e Seus santos, no que será bem sucedido, e comandará um número incontável de rebeldes, mas será vencido e então encontrará sua perdição final, no lago de fogo. Seguir-se-á o julgamento dos ímpios.
Vamos, agora, examinar essa interpretação. Walter Scott dá ênfase ao "caráter simbólico da cena" no tocante ao acorrentamento de Satanás. Diz ele:
"O anjo tem a chave do abismo e uma grande corrente na mão. Não é preciso insistir no simbolismo da cena, pois se evidencia à primeira vista."Scott pondera que os símbolos de chave, corrente e selo querem significar que "por intervenção angélica" a "liberdade de Satanás é restringida e sua esfera de operações, diminuída." Depois de admitir o emprego de símbolos no versículo primeiro, nega ele o simbolismo nos versículos 2 e 4 - a chave e a corrente são símbolos, mas os mil anos não. Os mil anos, diz Scott...
"... em nosso modo de ver, devem ser considerados não com qualquer sentido simbólico, porém, significando exata e literalmente aquele período de tempo. A expressão "O MILÊNIO" - designando um período em que o Senhor reinará com Seus santos aqui na terra, em pessoa e publicamente reconhecido - se origina desse capítulo."Ainda bem que Scott admite que, sendo Satanás um ser espiritual, a chave e a corrente devem ter significado espiritual e não ser consideradas como objetos materiais. Formulamos, no entanto, enérgico protesto contra a forma, sem qualquer justificativa, pela qual esse autor mistura o simbólico e o literal, a seu bel-prazer. Uma palavra é simbólica, porque ele assim o deseja, ao passo que outra, no versículo seguinte e até no mesmo, deve, no seu entender, ser tomada em um sentido absolutamente literal. Essa é a característica do comentário de Scott ao Apocalipse em outros trechos, e determina toda a interpretação pré-milenista.
Os que consideram o número "mil" como literal não atentam para o emprego dos números no Apocalipse. Eles têm uma linguagem especial. Mesmo Walter Scott não toma o número "sete" no seu sentido estritamente literal; aceita que as sete Igrejas "representam a Igreja Universal." Mas por que seria um número simbólico e outro não? O Bispo Wordsworth chama atenção para o fato de que o número "mil" é usado mais de vinte vezes no Apocalipse, e acrescenta:
"Nem uma vez sequer, creio, é empregado com significação literal mas, sempre, como um número perfeito."O Professor William Milligan comenta:
"Se interpretarmos literalmente os mil anos, será esse o único caso em que um número, no Apocalipse, é assim tomado e esse fato deve ser suficiente para destruir tal interpretação."Como é que os pré-milenistas encontram um reino na terra nos versículos 4-6? Lá não existe tal indicação. Em verdade, João teve o cuidado de dizer que viu "as almas dos que tinham sido decapitados." Isso esclarece que a visão não é de santos glorificados, que tiveram os corpos já transformados, mas dos que foram despojados dos seus corpos e se encontram no Paraíso de Deus.
Diz o versículo 4:
"E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos."Não há qualquer razão para que se coloquem os tronos na terra. Os pré-milenistas, tão severos em se agarrar à letra da passagem, considerando o termo "mil anos" no seu sentido literal, deveriam ater-se ao que realmente ali se diz. Em outro lugar, no mesmo livro, tais tronos são localizados no céu (Ap 4:4), em cujo caso os próprios pré-milenistas acham que se senta nos tronos o grupo dos redimidos e glorificados no céu.
Outra grande dificuldade para o pré-milenista, com a sua insistência no literalismo, é a identificação dos que estão sentados nos tronos. Apenas dois grupos são definidamente citados: os que foram decapitados por testemunharem de Jesus e os que se recusaram a se submeter à besta. Mas os pré-milenistas se esforçam arduamente por colocar aqui a ressurreição de todos os justos. Walter Scott percebe a dificuldade e procura introduzir todos os justos nas palavras "eles" (assentaram-se) e "lhes" (foi-lhes dado todo o poder), constantes da primeira parte do versículo 4 (cap. 20). Afirma Scott:
"A palavra 'eles' (em português, o sujeito oculto de 'assentaram-se') refere-se, evidentemente, a uma classe bem conhecida... São todos os crentes do Velho e do Novo Testamento, ressuscitados ou transformados à vinda do Senhor nos ares. Esse é um grupo muito maior de santos do que o constituído pelos mártires; por isso, não há outro lugar para o colocar no reino a não ser aí, sob os dois pronomes 'eles' e 'lhes'."Acontece, todavia, que não existe menção de todos os justos, no versículo 4, interpretado literalmente.
Walter Scott acha que os "decapitados" e aqueles "que não adoraram a besta" são os que serão martirizados durante o período da tribulação após o "arrebatametno" dos santos. Afirma que eles ressuscitarão às vésperas do milênio na terra, i.e., ao fim do período da tribulação e anos depois da ressurreição dos outros santos. Isso ele depreende das palavras:
"As almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus [...], e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos. [...] Esta é a primeira ressurreição."Na realidade, de acordo com a própria interpretação de Scott, não seria a primeira, uma vez que a primeira ressurreição teria tido lugar anos antes, por ocasião do arrebatamento!
O Cónego A. R. Fausset, culto pré-milenista, também admite a dificuldade de colocar todos os justos no versículo 4, com base em sua interpretação literal. Ele afirma:
"Acerca do alcance da primeira ressurreição nada se diz aqui."E nos aconselha a estudar 1ª Coríntios 15 e 1ª Tessalonicenses 4. Os pré-milenistas desejam, às vezes, que aceitemos todo o seu esquema de um milênio como perfeitamente claro, e até óbvio no capítulo 20 do Apocalipse. Evidentemente, não é assim.
A idéia de um reinado terreno de mil anos envolve os seguintes paradoxos:
1) Os santos glorificados estarão em uma terra ainda não "glorificada" ou renovada, i.e., ainda não purificada pelo fogo;
2) Santos, com corpos glorificados, se misturarão com santos e com pecadores que não terão corpos glorificados. Seria um "mixtum gatherum";
3) Satanás será acorrentado para que não mais engane as nações; apesar disso, elas continuarão, realmente, inimigas de Cristo, prontas para obedecer a Satanás e a guerrear contra os santos, tão logo termine o milênio. Os rebeldes parecem até mais numerosos que os justos, ao se findar esse período, pois são "como a areia do mar", enquanto que os santos se reúnem em um "arraial" e em uma "cidade" e só fogo vindo do céu salva o frágil agrupamento.
Aprofundando-se alguém no estudo da interpretação literal dada pelos pré-milenistas, encontra terríveis dificuldades, oriundas da própria passagem. Existe, ainda, o problema de conciliar a sua teoria com o que vimos ser o testemunho unânime do restante do Novo Testamento, onde há esclarecimentos e instruções a respeito da segunda vinda. (v. nota abaixo).
No capítulo seguinte será apresentada uma interpretação muito mais satisfatória do capítulo 20 do Apocalipse.
Nota: Muitas passagens das Escrituras apontadas como dando base à idéia de um reino de Cristo na terra durante mil anos se referem, em verdade, ao que se deve entender como "reino eterno." Ex.: 2ª Samuel 7:16, Isaías 9:7, Daniel 2:44; 7:14 e Lucas 1:33.
continua...
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