Importante: O texto a seguir é de autoria do Rev. William J. Grier (1868-19??).
No exame desse livro, algumas de suas características devem ser particularmente observadas:
1 - O emprego de símbolos - É essencialmente simbólico. Há, nele, o que se pode chamar de linguagem didática. Por exemplo, apresenta informações claras acerca da segunda vinda de Cristo. Mas as tentativas de uma interpretação literal esmorece no rochedo do caráter patentemente simbólico de muito do seu conteúdo. Está escrito, na sua maior parte, em linguagem de sinais. João o recebeu em visões. Estava (literalmente, "foi arrebatado") no Espírito, no dia do Senhor. O mundo invisível lhe foi desvendado e, como num grande drama, sucessivas visões passaram à sua vista.
Pensemos na visão de Pedro, mencionada no capítulo 10 de Atos. Em estado de transe, viu um grande lençol, atado pelas quatro pontas, que desceu do céu, trazendo toda sorte de quadrúpedes, répteis e aves. Embora com certa dificuldade a princípio, Pedro acabou por perceber o sentido profundo daquela visão. Ela o preparava para reconhecer que Deus não fazia acepção de pessoas e receberia, sem qualquer reserva, gentios que cressem, assim como judeus. O mesmo acontece com as visões de João. Se as tomarmos literalmente, correremos o grave risco de obter apenas a casca, perdendo o grão - o verdadeiro sentido.
Tem havido alguns exegetas, como o Dr. Seiss, que insistem em uma interpretação totalmente literal. O próprio livro nos alerta contra isso. Fala, por exemplo, de uma mulher assentada "sobre sete montanhas", porém nenhuma mulher o poderia fazer. Refere-se, também, a um assombro no céu: uma mulher, sofrendo para dar à luz, "vestida com o sol e a lua sob os seus pés, tendo sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas", e continua a descrever a mesma mulher como tendo "as duas asas de uma grande águia." Não é exato que os próprios termos de tais descrições nos advertem contra a sua interpretação literal?
No capítulo 14:4, lemos:
"Estes são os que não estão contaminados com mulheres; porque são virgens [...] Estes são os que dentre os homens foram comprados como primícias para Deus e para o Cordeiro."Será bem difícil aos nossos amigos literalistas averiguar um trecho como esse!
Lemos:
"E o parecer dos gafanhotos era semelhante ao de cavalos aparelhados para a guerra; e sobre as suas cabeças havia umas como coroas semelhantes ao ouro; e os seus rostos eram como rostos de homens.Descreve, ainda, "uma grande saraiva caída dos céus, pedras do peso de um talento (mais de 45 quilos) (16:21) e, também, uma carnificina tão grande, que provocou um mar de sangue "pelo espaço de mais de 200 milhas, chegando até aos freios dos cavalos (14:20). Aceitar essas figuras literalmente é estragar o que foi escrito. Os detalhes são traçados exclusivamente para demonstrar o horror das coisas focalizadas.
E tinham cabelos como cabelos de mulheres, e os seus dentes eram como de leões.
E tinham couraças como couraças de ferro; e o ruído das suas asas era como o ruído de carros, quando muitos cavalos correm ao combate." (9:7-9)
Não faltam indicações de que João não está fazendo uma descrição literal, mas apresentando alegorias. No capítulo 19:11-21, temos a vinda do Salvador, Rei dos reis e Senhor dos senhores, em um cavalo branco, com uma espada, e as aves do céu são chamadas para comer a carne de Seus inimigos, que Ele vencerá. Eis aí um quadro altamente expressivo de vitória total e todas as figuras de uma guerra são empregadas para torná-lo vívido. Mas a passagem contém uma advertência, repetida, de que não se trata de uma guerra literal. Duas vezes o escritor nos diz ser o instrumento da vitória uma espada que "saía da boca" do Conquistador. Não poderíamos pensar no Senhor da Glória empenhado em luta corpo-a-corpo com Seus inimigos. É bastante que Ele fale, como fez no Getsêmane (Jo 18:6) e Seus inimigos caem por terra.
O grande dragão vermelho do capítulo 12, diz-nos João claramente, é Satanás. As bestas do capítulo 13, um tanto semelhantes às citadas em Daniel, nos apresentam forças anti-cristãs, políticas e religiosas. Em um folheto intitulado "Comunismo e Cristianismo", David Bentley Taylor escreve:
"É profundamente lamentável que o livro do Apocalipse seja tão pouco explicado aos Cristãos... Em nenhuma outra parte das Escrituras está tão vívida e minuciosamente descrita a situação do povo de Deus na China, como nesse livro. Se você quer perceber o que há, sentir o ambiente ali, leia o 13º capítulo do Apocalipse e lá coloque os cristãos chineses e os missionários naquele país. Os primeiros dez versículos indicam a força que têm de enfrentar; os oito últimos dão uma idéia da propaganda e eficiência que são associadas a essa força."Em outras palavras, esse é um caso da besta que sai do mar e da que sai da terra, ante os nossos olhos.
2 - Desenvolvimento em direção ao clímax - Há um progresso, no livro, em direção ao grande clímax. As sete cartas (cap. 2 e 3) formam uma seção. O resto do livro se divide em seis partes. Em cada uma delas, João nos leva ao fim e depois começa de novo, de um ponto anterior. Há considerável paralelismo entre as várias seções (ou partes) e, se examinarmos com cuidado o fim de cada uma, descobriremos que a narração se movimenta num constante crescendo até atingir o clímax.
O capítulo 6 leva até a proximidade do fim, com os homens gritando às montanhas e rochas:
"Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro;"O capítulo 11 também introduz o fim, com a última trombeta proclamando o acabar do Tempo.
No capítulo 14 o fim é descrito sob a figura de uma dupla colheita: a do trigo e a das uvas.
O capítulo 16 conduz à voz que vem do trono dizendo "Está feito" e à entrega da taça do vinho da indignação de Deus.
Leva-nos o capítulo 19 à vinda do Conquistador, no cavalo branco, Rei dos reis e Senhor dos senhores, vitorioso sobre todos os Seus inimigos.
O capítulo 20 nos conduz ao grande trono branco e todos os mortos, pequenos e grandes, na presença de Deus, cena que é seguida pelo quadro glorioso dos novos céus e nova terra - a consumação absoluta.
Há, sem dúvida, um desenvolvimento de ação até chegar ao clímax.
3 - Harmonia com o restante das Escrituras - Em nosso exame do ensino do Novo Testamento com respeito à segunda vinda de Cristo, deixamos o Apocalipse até agora não apenas por ser o último livro da Bíblia, porém por ser um princípio seguro guiar-se o pesquisador pelo que está claro e bem definido, nas Escrituras, para a compreensão do que é figurado e de difícil interpretação.
"Dentro dos devidos limites", diz o Dr. B.B. Warfield, "a ordem de investigação deve ser do que é mais claro para o mais obscuro."Já verificamos não existir qualquer alusão, nos demais livros do Novo Testamento, a um reinado de mil anos de Cristo na terra. Não só a palavra "milênio" não aparece nem uma vez, mas a própria concepção é desconhecida fora do capítulo 20 do Apocalipse. Mesmo quando Paulo está tratando com os Judeus expressamente do seu futuro, como no capítulo 11 da carta aos Romanos, nada diz acerca da restauração nacional e da preeminência da nação Judaica sob o cetro do Messias, durante o milênio, o que seria de esperar que fizesse, se tais coisas tivessem de acontecer. Tem-se geralmente extraído dessa passagm (cap. 20 do Apocalipse), mal interpretada, a idéia de um milênio e procurado impo-la à força ao resto das Escrituras. Entretanto, essa concepção inexiste. Nos demais livros acresce ter sido, conforme vimos, definitivamente excluída, pelo ensino de muitas passagens.
O testemunho unânime dos Evangelhos, do Livro de Atos e das Espístolas é que a segunda vinda trará, como acompanhamento, a ressurreição geral e o juízo final de toda a humanidade. Encontramos esse ensinamento também no Apocalipse? Certamente, sim.
No versículo 7 do 10º capítulo, lemos:
"Mas nos dias da voz do sétimo anjo, quando tocar a sua trombeta, se cumprirá o segredo de Deus, como anunciou aos profetas, seus servos."O capítulo seguinte nos diz que "o sétimo anjo tocou a sua trombeta" e os vinte e quatro anciãos dizem:
"[...] e chegou a tua ira. Chegou o tempo de julgares os mortos e de recompensares os teus servos, os profetas, os teus santos e os que temem o teu nome, tanto pequenos como grandes, e de destruir os que destroem a terra." (11:18)Aqui está o fim. Os mortos são julgados, os santos de Deus recompensados e os ímpios destruídos. O Apocalipse fala de um julgamento geral, como o fazem os demais livros das Escrituras.
Vale a pena observar igualmente o cap. 16:14-16. Os três espíritos imundos...
"vão ao encontro dos reis da terra e de todo o mundo, para os congregar para a batalha, naquele grande dia do Deus Todo-Poderoso. Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia, e guarda as suas roupas, para que não ande nu, e não se vejam as suas vergonhas. E os congregaram no lugar que em hebreu se chama Armagedom."A escola pré-milenista comum (por ex., o Dr. Charles Feinberg) acha que a "vinda de Cristo como um ladrão" será para o "arrebatamento secreto". Neste trecho, todavia, ela está colocada na época que esses intérpretes consideram como o término do período da grande tribulação, depois do arrebatamento!
No capítulo 20, vs. 12-15, lemos a respeito do grande trono branco e dos mortos, grandes e pequenos, em pé, perante Deus.
"[...] e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras.Dr. Warfield comenta:
E deu o mar os mortos que nele havia; e a morte e o inferno deram os mortos que neles havia; e foram julgados cada um segundo as suas obras.
E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte.
E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo."
"É o julgamento geral, parece óbvio. Os por ele atingidos são descritos como 'os mortos tanto pequenos como grandes', parecendo tratar-se de uma designação geral. Que a convocação para o julgamento não é apenas dos ímpios parece claro, pois não apenas foi aberto o 'livro das ações' porém, também o 'livro da vida' (mencionado duas vezes) e somente são lançados no lago de fogo aqueles cujos nomes não foram achados escritos no 'livro da vida.' Daí concluir-se haver alguns presentes cujos nomes estão escritos no 'livro da vida.' A destruição da morte e do inferno não significa ser o julgamento só dos inimigos de Deus. Quer dizer, simplesmente, que daí por diante, conforme Paulo também afirma em 1ª Coríntios 15, não haverá mais morte. Existe, sem dúvida, a 'segunda morte', mas essa é o lago de fogo, isto é, o castigo eterno. Trata-se, assim, do grande julgamento final, que é apresentado à nossa contemplação, incluindo a ressurreição geral e preparando a entrada para o destino eterno."Assim, o Apocalipse se une ao testemunho unânime dos demais livros da Bíblia: uma ressurreição geral e um julgamento universal.
Resta examinar uma passagem bem conhecida - a que deu origem à teoria de um milênio terreno e é considerada seu sustentáculo: o capítulo 20 do Apocalipse. A Bíblia Scofield admite haver tal doutrina procedido desse trecho.
continua...