...continuação.
Importante: O texto a seguir é de autoria de O. Palmer Robertson, doutor em teologia pelo Union Theological Seminary, em Virgínia, EUA. Também é professor de Teologia e de Antigo Testamento.
Quem, portanto, constitui o “todo Israel” que deverá ser salvo? Essa expressão abrange toda a igreja de Cristo, inclusive todos os crentes judeus e gentios? Ou ela se refere mais especificamente aos judeus eleitos que serão salvos?
Na realidade, cada uma dessas interpretações tem sérios argumentos a seu favor. Todas se encaixam no contexto do argumento de Paulo, em Romanos 11, e sustentam uma questão teológica válida.
Contudo, é possível dizer que “todo Israel” se refere a todos os eleitos judeus na nação de Israel. O compromisso de Deus de preservar um número seleto dentro da comunidade judaica permeia essa seção da argumentação do apóstolo. Pelo processo descrito nos versículos anteriores de Romanos 11, todos os judeus eleitos serão salvos. Como alguns membros da comunidade judaica são “provocados ao ciúme” quando observam os gentios receber as promessas da antiga aliança, eles são enxertados na verdadeira comunidade de Deus. Devido a isso, o endurecimento aconteceu a parte de Israel até todos os gentios chegarem, e dessa forma, todos os eleitos dentro da comunidade de Israel serão salvos. O fato de, nessa visão, o termo Israel ser usado de duas maneiras diferentes em versículos consecutivos (Rm 11:25,26) não deveria ser motivo de confusão. Quando paulo diz, em Romanos 9:6, que “nem todos os descendentes de Israel são Israel”, está usando o termo Israel com dois significados diferentes em um único versículo.
Se “todo Israel” for entendido como referindo-se especificamente aos judeus de Israel escolhidos pela graça soberana de Deus para a salvação, então o “ministério” mencionado no versículo 25 poderá ser entendido mais claramente. Esse ministério, portanto, seria aquela parte de Israel que é endurecida, enquanto o remanescente é escolhido para a salvação. Antes, vemos que esse endurecimento não é simplesmente do coração de alguns judeus, mas um endurecimento judicial por parte de Deus que aparece como alternativa para a eleição. Conforme mostrado, Paulo esclarece essa passagem do Antigo Testamento: “Deus lhes deu […] olhos para não ver e ouvidos para não ouvir” (Rm 11:8).
Seria compreensível se todos os judeus fossem condenados, já que Israel como nação rejeitou Cristo. Entretanto, seria compreensível se todos os judeus fossem salvos à luz das promessas da aliança de Deus com os patriarcas. Mas o fato de que alguns judeus são condenados e outros são salvos permanece um “mistério” da graça de Deus. Ninguém pode compreender totalmente esse mistério. Ele continua a fazer parte dos propósitos ocultos de Deus e reflete sua soberania em salvar alguns de uma massa de pecadores indignos e outros endurecidos.
À luz dessa análise da linha de pensamento de Paulo, a conclusão a que se pode legitimamente chegar é a de que “todo Israel” refere-se a todos os judeus eleitos. Todos do verdadeiro Israel de Deus, o eleito do Pai, serão salvos. [13]
Entretanto, uma análise mais detalhada leva à conclusão de que “todo Israel” consiste não em todos os judeus eleitos, mas em todos os eleitos de Deus, quer sua origem seja judaica quer gentia. A principal evidência que sustenta essa visão encontra-se na expressão de Paulo anterior à referência a “todo Israel”. Ele diz que Israel experimentou o endurecimento em parte, “até que entre a plenitude dos gentios” (ARC Rm 11:25), e dessa forma “todo o Israel” será salvo (v. 26). A “plenitude dos gentios” refere-se a todos os povos eleitos das nações gentias do mundo.
Mas como todos os gentios eleitos entram? A resposta é inevitável. Os gentios crentes entram em Israel! Não foi exatamente isso que Paulo quis demonstrar anteriormente nesse capítulo? Os gentios foram “enxertados entre” o Israel de Deus (Rm 11:17). Eles tornaram-se novos ramos, unidos ao único tronco que é Israel. Portanto, a comunidade de crentes gentios tornou-se “participante” (synkoinonos) da rica raiz da oliveira que é Israel (Rm 11:17). Em outras palavras, ela tornou-se “israelita”.
O mesmo pensamento torna-se um tema importante na carta posterior de Paulo aos cristãos efésios. Antes os gentios “estavam sem Cristo, separados da comunidade de Israel” (Ef 2:12). Mas agora eles tornaram-se “co-herdeiros [synkoinonos], o mesmo termo é usado em Rm 11:17] com Israel, membros [syssoma] do mesmo corpo, e coparticipantes [symmetocha] da promessa em Cristo Jesus” (Ef 3:6).
A inclusão total dos gentios em Israel é o outro lado do mistério sobre o qual Paulo fala (Rm 11:25; v. Ef 3:6). O mistério é que Deus, na dispensação soberana de sua graça, endureceu alguns em Israel e salvou outros. No entanto, ele incorporou os crentes gentios totalmente a Israel.
É nesse contexto que “todo Israel”, em Romanos 11:26, chega a sua definição final. De acordo com Paulo: “Israel experimentou um endurecimento em parte, até que chegue [a Israel] a plenitude dos gentios. E assim todo o Israel será salvo”. Todos que são produto da graça eletiva de Deus, vindo tanto de comunidades judaicas como gentias, constituirão o Israel final de Deus. “Todo Israel”, portanto, consiste no corpo inteiro do eleito de Deus em meio aos judeus e aos gentios. Esse é o grupo que Paulo chama de “o Israel de Deus”, em Gálatas 6:16, no qual insiste que os cristãos devem caminhar de acordo com a regra de que nenhuma distinção deve ser feita entre pessoas circuncidadas e incircuncidadas (v. 15). Aqui, Paulo usa claramente o termo Israel para designar os judeus eleitos e os gentios também eleitos que, juntos, constituem o Israel de Deus. Se dissesse o contrário, ele estaria contradizendo sua própria “regra” de vida de que não se deve fazer nenhuma distinção entre circuncidados e incircuncidados com respeito à posse das bênçãos da redenção. [14]
Essa interpretação de “todo Israel” é corroborada pelas citações de Paulo das Escrituras da antiga aliança. “Todo Israel” será salvo porque “está escrito” (Rm 11:26b). O apóstolo, depois, cita passagens de Isaías e Jeremias. O redentor virá “de” Sião e aos que em Jacó se arrependerem (v. 59:20,21). De acordo com sua aliança com eles, ele perdoará seus pecados (v. Jr 31:33,34).
Uma comparação do Texto Massorético, da Septuaginta e do Novo Testamento revela uma ênfase interessante na análise de Paulo das palavras de Isaías relacionadas a “todo Israel”. Isaías primeiramente declarou que um redentor viria “a [ou para] Sião”. A Septuaginta enfatiza que o redentor viria “por causa de Sião” (heneken Sion), que é uma interpretação aceitável do hebreu original (lesiyyon). Mas Paulo modifica essa perspectiva, declarando que o redentor viria “de” Sião (ek Sion). A pequena mudança de perspectiva de Paulo ajusta-se perfeitamente à perspectiva missionária encontrada no versículo anterior, em Isaías:
Esse argumento encontra uma demonstração concreta no registro de Lucas sobre a primeira jornada missionária de Paulo. Quando os judeus em Antioquia da Pisídia começaram a blasfemar contra Paulo, ele declarou:
Mas, como Paulo também argumenta, se a rejeição dos judeus é a riqueza dos gentios, quanto mais significará sua plenitude! (Rm 11:12). Os gentios convertidos, por sua vez, tornam-se instrumento de Deus para converter os judeus eleitos, o que demonstra que, “de acordo com o princípio da eleição”, eles ainda são amados de Deus por causa dos patriarcas (Rm 11:28b). Por sua reentrada na comunidade de Deus, os judeus crentes trazem grande bênção a todo o corpo de Cristo. Por causa desse processo maravilhoso, Israel está para os gentios assim como os gentios estão para Israel. É na plenitude de Israel que as nações experimentarão suas mais ricas bênçãos, e é nessa conversão das nações que Israel realizará sua própria plenitude designida por Deus. Pois...
Um pensamento final deve ser observado com respeito à questão maior do futuro de Israel representado em Romanos 11. Não há nada nesse capítulo a respeito da restauração de um Reino terrestre de Davi, de um retorno à terra da Bíblia, da restauração de um Estado nacional de Israel ou da igreja de cristãos judeus separada dos cristãos gentios. [18] Pelo contrário, o Israel redefinido de Deus inclui tanto judeus quanto gentios em um corpo. Em termos da disseminação do evangelho hoje, é essencial que os cristãos judeus reconheçam que sua comunhão com cristãos gentios é um elemento vital na conversão de outros judeus. Pois seja qual for o critério que o homem use, é pela sabedoria do mistério de Deus que os judeus serão convertidos quando seu ciúme for provocado ao verem as bênçãos de seu Deus sobre os gentios. Ao mesmo tempo, é essencial que os cristãos gentios busquem também uma comunhão com os cristãos judeus. Pois a conversão dos judeus enriquecerá imensamente a experiência do evangelho pelos gentios.
A Deus seja dada toda glória (Rm 11:33-35)! A salvação é inteiramente do Senhor! Que a graça prevaleça! Sim, Deus fará com que alguns de Israel sejam preservados em cada geração. Mas eles serão unidos por uma grande multidão de cada tribo, povo, língua e nação.
[13] Essa é a posição assumida pelo presente autor na versão original deste material. Cf. D. Martyn Lloyd-Jones, em The church and the last things, p. 113: As palavras “todo Israel” devem significar “a totalidade de todos os judeus crentes em todas as eras e gerações”. Curiosamente, esse parágrafo anterior declara que a “descendência de Abraão” não é o Israel nacional, físico, mas “todos os filhos da fé, todos que praticam a fé no Senhor Jesus Cristo, que pertencem a ele e são redimidos por ele”. Lloyd-Jones, a seguir, vai além e declara sua fé pessoal em uma conversão maciça dos judeus antes do final dos tempos.
[14] V. a análise completa de Gl 6:16 acima, p. 39-45.
[15] Herman Ridderbos, Paul: an outline of this theology. London: SPCK, 1977, p. 359-60.
[16] Ibid., p. 360.
[17] Ibid., p. 361.
[18] Cf. Bruce, The epistle of Paul to the Romans, p. 221; C. E. B. Cranfield, A critical and exegetical commentary on the epistle to the Romans, The International Critical Commentary (Edinburgh: T. & T. Clark, 1975, 1979) p. 579.
Importante: O texto a seguir é de autoria de O. Palmer Robertson, doutor em teologia pelo Union Theological Seminary, em Virgínia, EUA. Também é professor de Teologia e de Antigo Testamento.
Quem, portanto, constitui o “todo Israel” que deverá ser salvo? Essa expressão abrange toda a igreja de Cristo, inclusive todos os crentes judeus e gentios? Ou ela se refere mais especificamente aos judeus eleitos que serão salvos?
Na realidade, cada uma dessas interpretações tem sérios argumentos a seu favor. Todas se encaixam no contexto do argumento de Paulo, em Romanos 11, e sustentam uma questão teológica válida.
Contudo, é possível dizer que “todo Israel” se refere a todos os eleitos judeus na nação de Israel. O compromisso de Deus de preservar um número seleto dentro da comunidade judaica permeia essa seção da argumentação do apóstolo. Pelo processo descrito nos versículos anteriores de Romanos 11, todos os judeus eleitos serão salvos. Como alguns membros da comunidade judaica são “provocados ao ciúme” quando observam os gentios receber as promessas da antiga aliança, eles são enxertados na verdadeira comunidade de Deus. Devido a isso, o endurecimento aconteceu a parte de Israel até todos os gentios chegarem, e dessa forma, todos os eleitos dentro da comunidade de Israel serão salvos. O fato de, nessa visão, o termo Israel ser usado de duas maneiras diferentes em versículos consecutivos (Rm 11:25,26) não deveria ser motivo de confusão. Quando paulo diz, em Romanos 9:6, que “nem todos os descendentes de Israel são Israel”, está usando o termo Israel com dois significados diferentes em um único versículo.
Se “todo Israel” for entendido como referindo-se especificamente aos judeus de Israel escolhidos pela graça soberana de Deus para a salvação, então o “ministério” mencionado no versículo 25 poderá ser entendido mais claramente. Esse ministério, portanto, seria aquela parte de Israel que é endurecida, enquanto o remanescente é escolhido para a salvação. Antes, vemos que esse endurecimento não é simplesmente do coração de alguns judeus, mas um endurecimento judicial por parte de Deus que aparece como alternativa para a eleição. Conforme mostrado, Paulo esclarece essa passagem do Antigo Testamento: “Deus lhes deu […] olhos para não ver e ouvidos para não ouvir” (Rm 11:8).
Seria compreensível se todos os judeus fossem condenados, já que Israel como nação rejeitou Cristo. Entretanto, seria compreensível se todos os judeus fossem salvos à luz das promessas da aliança de Deus com os patriarcas. Mas o fato de que alguns judeus são condenados e outros são salvos permanece um “mistério” da graça de Deus. Ninguém pode compreender totalmente esse mistério. Ele continua a fazer parte dos propósitos ocultos de Deus e reflete sua soberania em salvar alguns de uma massa de pecadores indignos e outros endurecidos.
À luz dessa análise da linha de pensamento de Paulo, a conclusão a que se pode legitimamente chegar é a de que “todo Israel” refere-se a todos os judeus eleitos. Todos do verdadeiro Israel de Deus, o eleito do Pai, serão salvos. [13]
Entretanto, uma análise mais detalhada leva à conclusão de que “todo Israel” consiste não em todos os judeus eleitos, mas em todos os eleitos de Deus, quer sua origem seja judaica quer gentia. A principal evidência que sustenta essa visão encontra-se na expressão de Paulo anterior à referência a “todo Israel”. Ele diz que Israel experimentou o endurecimento em parte, “até que entre a plenitude dos gentios” (ARC Rm 11:25), e dessa forma “todo o Israel” será salvo (v. 26). A “plenitude dos gentios” refere-se a todos os povos eleitos das nações gentias do mundo.
Mas como todos os gentios eleitos entram? A resposta é inevitável. Os gentios crentes entram em Israel! Não foi exatamente isso que Paulo quis demonstrar anteriormente nesse capítulo? Os gentios foram “enxertados entre” o Israel de Deus (Rm 11:17). Eles tornaram-se novos ramos, unidos ao único tronco que é Israel. Portanto, a comunidade de crentes gentios tornou-se “participante” (synkoinonos) da rica raiz da oliveira que é Israel (Rm 11:17). Em outras palavras, ela tornou-se “israelita”.
O mesmo pensamento torna-se um tema importante na carta posterior de Paulo aos cristãos efésios. Antes os gentios “estavam sem Cristo, separados da comunidade de Israel” (Ef 2:12). Mas agora eles tornaram-se “co-herdeiros [synkoinonos], o mesmo termo é usado em Rm 11:17] com Israel, membros [syssoma] do mesmo corpo, e coparticipantes [symmetocha] da promessa em Cristo Jesus” (Ef 3:6).
A inclusão total dos gentios em Israel é o outro lado do mistério sobre o qual Paulo fala (Rm 11:25; v. Ef 3:6). O mistério é que Deus, na dispensação soberana de sua graça, endureceu alguns em Israel e salvou outros. No entanto, ele incorporou os crentes gentios totalmente a Israel.
É nesse contexto que “todo Israel”, em Romanos 11:26, chega a sua definição final. De acordo com Paulo: “Israel experimentou um endurecimento em parte, até que chegue [a Israel] a plenitude dos gentios. E assim todo o Israel será salvo”. Todos que são produto da graça eletiva de Deus, vindo tanto de comunidades judaicas como gentias, constituirão o Israel final de Deus. “Todo Israel”, portanto, consiste no corpo inteiro do eleito de Deus em meio aos judeus e aos gentios. Esse é o grupo que Paulo chama de “o Israel de Deus”, em Gálatas 6:16, no qual insiste que os cristãos devem caminhar de acordo com a regra de que nenhuma distinção deve ser feita entre pessoas circuncidadas e incircuncidadas (v. 15). Aqui, Paulo usa claramente o termo Israel para designar os judeus eleitos e os gentios também eleitos que, juntos, constituem o Israel de Deus. Se dissesse o contrário, ele estaria contradizendo sua própria “regra” de vida de que não se deve fazer nenhuma distinção entre circuncidados e incircuncidados com respeito à posse das bênçãos da redenção. [14]
Essa interpretação de “todo Israel” é corroborada pelas citações de Paulo das Escrituras da antiga aliança. “Todo Israel” será salvo porque “está escrito” (Rm 11:26b). O apóstolo, depois, cita passagens de Isaías e Jeremias. O redentor virá “de” Sião e aos que em Jacó se arrependerem (v. 59:20,21). De acordo com sua aliança com eles, ele perdoará seus pecados (v. Jr 31:33,34).
Uma comparação do Texto Massorético, da Septuaginta e do Novo Testamento revela uma ênfase interessante na análise de Paulo das palavras de Isaías relacionadas a “todo Israel”. Isaías primeiramente declarou que um redentor viria “a [ou para] Sião”. A Septuaginta enfatiza que o redentor viria “por causa de Sião” (heneken Sion), que é uma interpretação aceitável do hebreu original (lesiyyon). Mas Paulo modifica essa perspectiva, declarando que o redentor viria “de” Sião (ek Sion). A pequena mudança de perspectiva de Paulo ajusta-se perfeitamente à perspectiva missionária encontrada no versículo anterior, em Isaías:
“Desde o poente os homens temerão o nome do Senhor, e desde o nascente, a sua glória” (Is 59:19a).Todo o conceito paulino do processo da história da salvação pode ser entendido sob essa luz. Como os judeus rejeitaram o Messias, são inimigos “por causa” dos gentios (Rm 11:28a). Esse modo de se expressar, realmente, é muito estranho e, no entanto, ajusta-se perfeitamente à perspectiva de Paulo na relação de judeus e gentios no plano de Deus. Em consequência da rejeição de Jesus pelos judeus, a mensagem da salvação chega aos gentios.
Esse argumento encontra uma demonstração concreta no registro de Lucas sobre a primeira jornada missionária de Paulo. Quando os judeus em Antioquia da Pisídia começaram a blasfemar contra Paulo, ele declarou:
“... uma vez que […] não se julgam dignos da vida eterna, agora nos voltamos para os gentios” (At 13:46).Ele seguiu o mesmo padrão, posteriormente, em Corinto: “Opondo-se a eles e lançando maldições, Paulo […] lhes disse:
“Caia sobre a cabeça de vocês o seu próprio sangue! Estou livre da minha responsabilidade. De agora em diante irei para os gentios” (At 18:6).Dessa maneira, a rejeição a Jesus pelos judeus trouxe a bênção aos gentios. Esse fato nunca impediu Paulo de apresentar o evangelho “primeiro aos judeus” (Rm 1:16). Mas essa rejeição também encorajou a levar a mesma boa nova da redenção aos gentios, para que eles pudessem se tornar plenos participantes nas bênçãos de Cristo.
Mas, como Paulo também argumenta, se a rejeição dos judeus é a riqueza dos gentios, quanto mais significará sua plenitude! (Rm 11:12). Os gentios convertidos, por sua vez, tornam-se instrumento de Deus para converter os judeus eleitos, o que demonstra que, “de acordo com o princípio da eleição”, eles ainda são amados de Deus por causa dos patriarcas (Rm 11:28b). Por sua reentrada na comunidade de Deus, os judeus crentes trazem grande bênção a todo o corpo de Cristo. Por causa desse processo maravilhoso, Israel está para os gentios assim como os gentios estão para Israel. É na plenitude de Israel que as nações experimentarão suas mais ricas bênçãos, e é nessa conversão das nações que Israel realizará sua própria plenitude designida por Deus. Pois...
“... assim como Israel, pela desobediência, tornou-se o motivo da salvação para os gentios, agora os gentios devem provocar ciúme em Israel”. [15]Portanto, é possível falar de uma interdependência de judeus e gentios na experimentação das bênçãos do Reino do Messias, em um “movimento ondulatório de salvação”. [16] Toda essa riqueza chega...
“... por causa do caráter gracioso da eleição de Deus e por causa de Cristo, que é a descendência de Abraão, assim como o segundo Adão, aquele no qual a igreja como um todo, judeus e gentios juntos, tornou-se um corpo e um novo homem.” [17]No fim, a atividade graciosa de Deus de chamar os eleitos de dentro de Israel à salvação está ligada à presente hora pelo uso, por parte de Paulo, da palavra “agora” em três momentos. Os gentios agora receberam misericórdia; os judeus agora se tornaram desobedientes, para que possam também agora receber a misericórdia (Rm 11:30,31).
Um pensamento final deve ser observado com respeito à questão maior do futuro de Israel representado em Romanos 11. Não há nada nesse capítulo a respeito da restauração de um Reino terrestre de Davi, de um retorno à terra da Bíblia, da restauração de um Estado nacional de Israel ou da igreja de cristãos judeus separada dos cristãos gentios. [18] Pelo contrário, o Israel redefinido de Deus inclui tanto judeus quanto gentios em um corpo. Em termos da disseminação do evangelho hoje, é essencial que os cristãos judeus reconheçam que sua comunhão com cristãos gentios é um elemento vital na conversão de outros judeus. Pois seja qual for o critério que o homem use, é pela sabedoria do mistério de Deus que os judeus serão convertidos quando seu ciúme for provocado ao verem as bênçãos de seu Deus sobre os gentios. Ao mesmo tempo, é essencial que os cristãos gentios busquem também uma comunhão com os cristãos judeus. Pois a conversão dos judeus enriquecerá imensamente a experiência do evangelho pelos gentios.
A Deus seja dada toda glória (Rm 11:33-35)! A salvação é inteiramente do Senhor! Que a graça prevaleça! Sim, Deus fará com que alguns de Israel sejam preservados em cada geração. Mas eles serão unidos por uma grande multidão de cada tribo, povo, língua e nação.
“Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre! Amém.” (Rm 11:36).Chegamos ao final da série de estudos sobre o Israel de Deus em Romanos 11 pelo ponto de vista amilenista, por O. Palmer Robertson.
[13] Essa é a posição assumida pelo presente autor na versão original deste material. Cf. D. Martyn Lloyd-Jones, em The church and the last things, p. 113: As palavras “todo Israel” devem significar “a totalidade de todos os judeus crentes em todas as eras e gerações”. Curiosamente, esse parágrafo anterior declara que a “descendência de Abraão” não é o Israel nacional, físico, mas “todos os filhos da fé, todos que praticam a fé no Senhor Jesus Cristo, que pertencem a ele e são redimidos por ele”. Lloyd-Jones, a seguir, vai além e declara sua fé pessoal em uma conversão maciça dos judeus antes do final dos tempos.
[14] V. a análise completa de Gl 6:16 acima, p. 39-45.
[15] Herman Ridderbos, Paul: an outline of this theology. London: SPCK, 1977, p. 359-60.
[16] Ibid., p. 360.
[17] Ibid., p. 361.
[18] Cf. Bruce, The epistle of Paul to the Romans, p. 221; C. E. B. Cranfield, A critical and exegetical commentary on the epistle to the Romans, The International Critical Commentary (Edinburgh: T. & T. Clark, 1975, 1979) p. 579.
Caro,
ResponderExcluirGostaria de saber, segundo a perspectivca apresentada nesse estudo de 5 partes, qual sua visao sobre os textos de Zacarias 12,13 e 14.
Não creio que tais passagens se refiram à Israel terrena, ao contrario, creio que as profecias de Zacarias apontam para a vinda de Cristo e o nascimento da igreja (o mistério que estava oculto).
Porém, vejo constantemente teólogos associarem Zacarias 12,13 e 14 aos seguintes acontecimentos:
1 - Primeira vinda do Messias (para os judeus segundo a carne) e o estabelecimento do reino milenar; e
2 - Volta de Jesus Cristo (para os que se dizem cristãos), a fim de fundar um suposto reino milenar na terra.
A meu ver, tais passagens parecem falar sobre a primeira vinda de Cristo, quando ele morreu na cruz e revelou o mistério oculto (a igreja), bem como o estabelecimento do Reino Eterno, depois do juizo final (sem intervalo de mil anos, pois, creio no amilenismo).
Mas gostaria de saber sua interpretação para tais passagens que trazem, por exemplo, frases específicas, assim traduzidas por muitos teólogos:
1 - Haverá uma fonte aberta para a casa de Davi e para os habitantes de Jerusalém contra o pecado e contra a impureza (Zc 13:1), simbolizando uma conversão em massa dos judeus, os quais verão a Jesus, a quem eles traspassaram, e, vendo-O, se lamentarão (arrependendo-se); e
2 - Nesse tempo, correrão, de Jerusalém, águas vivas (Jerusalém terrena), as quais servirão de remédio para os povos, num suposto milênio terreno.
Salvo erro, a posiçao desses teologos parece indicar que Jesus não retornaria à Terra totalmente como juiz, mas como meio-juiz e meio-advogado, pois, segundo essa leitura, haveria uma chance de salvação para os judeus (segundo a carne); e não só para eles, mas também para os que, supostamente, subiriam, de ano em ano, para adorar a Deus (Zc 14:16). Ou seja, seria uma especie de salvação pelas obras (um erro, na minha concepção).
Se me fiz claro, o amigo poderia me dar um esclarecimento sobre as passagens citadas acima, de Zacarias 12,13 e 14, segundo a sua forma de entender?
Deus te abençoe!!!