domingo, 17 de janeiro de 2010

JESUS CRISTO: O Verdadeiro Templo.

Importante: O texto a seguir é de autoria do Dr. Kim Riddlebarger, pastor sênior na Igreja Reformada de Cristo e professor temporário de teologia sistemática no Seminário de Westminster, Califórnia.

Quando Jesus declarou de si mesmo, “Pois eu vos digo que está aqui quem é maior do que o templo,” (Mateus 12:6) e quando Ele disse a uma mulher samaritana que Ele podia lhe dar “água viva” (João 4:10-14), nos é dada uma importante pista sobre como os autores do Novo Testamento estavam reinterpretando o entendimento pré-messiânico do templo de Deus à luz da vinda de Jesus, o Messias de Israel.

Quando consideramos o fato de que o templo ocupa um papel importante no testemunho dos profetas de Israel em relação à futura benção escatológica de Deus para a nação, e o que esta construção aponta para frente, ou seja, referindo-se a pessoa de Jesus, nós somos grandemente auxiliados em nossa compreensão da natureza e caráter da era milenar como uma realidade presente.

Comecemos com a expectativa do Antigo Testamento quanto ao templo do Senhor. Tanto Isaías 2:2-4 quando Miquéias 4:1-5, falam da futura benção de Deus sobre Israel nos últimos dias, quando o povo de Deus vai subir à montanha do Senhor, e ao templo, aonde o povo de Deus vai mais uma vez aprender os caminhos do Senhor.

Em Isaías 56, lemos sobre aqueles que abraçam a aliança de Deus (v. 4), e que amam o nome do Senhor e guardam o Seu sábado (v. 6-8). Eles serão levados ao santo monte e à casa do Senhor, que é o templo e a casa de oração para todas as nações (v. 7). Uma visão semelhante é dada em Isaías 66:20-21. Aqui somos informados de que os israelitas vão trazer suas ofertas de grãos para o templo de Deus, e o Senhor irá renovar o sacerdócio (v. 20,21). Na visão profética de Zacarias, nós aprendemos que um dia os sacrifícios de Israel serão uma vez mais oferecidos e serão aceitáveis a Deus (Zacarias 14:16-19).

Com toda essa expectativa profética na mente de praticamente todos os judeus que viveram na palestina no primeiro século, não é de admirar que a declaração de Jesus do julgamento de Deus sobre o templo – “Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada” (Mateus 24:2) – veio como um choque e ofensa. Como ousa este homem dizer que toda essa expectativa de um glorioso templo se cumpre nEle? Falando de si mesmo, Jesus disse:

“Derribai este templo, e em três dias o levantarei.” (Jão 2:19)
Não foi até depois da ressurreição de Cristo que o significado destas palavras tornou-se claro. Quando Jesus falou da destruição do templo, ele estava falando de seu próprio corpo (João 2:22). Isto é o que Ele quis dizer quando afirmou que um que era maior que o templo havia chegado!
Além disso, há a profecia do Antigo Testamento de um novo e glorioso templo, que se encontra em Ezequiel 40-48. Ezequiel antevê um tempo futuro para o povo de Deus em que o templo será reconstruído, o sacerdócio será restabelecido, verdadeiros sacrifícios serão novamente oferecidos e o rio da vida vai fluir do templo. Como interpretamos esta profecia terá um impacto significativo sobre a questão de se existirá ou não uma futura era milenar sobre a terra.

Não há surpresa alguma na interpretação dispensacionalista de que esta profecia será cumprida literalmente em um milênio terrestre. Segundo Dwight Pentecost:

“A gloriosa visão de Ezequiel revela que é impossível localizar o seu cumprimento em qualquer templo passado ou sistema que Israel já conhecia, mas deve esperar por um cumprimento futuro após o segundo advento de Cristo quando o milênio for instituído. O sistema sacrificial não é um judaísmo reinstituído, mas o estabelecimento de uma nova ordem que tem como propósito relembrar a obra de Cristo sobre a qual descansa toda a salvação. O cumprimento literal da profecia de Ezequiel será o meio de glorificação de Deus e a benção do homem no milênio” (J. D. Pentecost, Things to Come, Zondervan, 1978, 531).
Sensível à crítica amilenista tradicional que tais imagens do sacrifício contínuo de animais e a adoração no templo depois da segunda vinda de Cristo anulam Sua obra salvífica, especialmente dado o fato de que esses aspectos da economia mosaica do Antigo Testamento são cumpridos no calvário, Pentecost é cuidadoso em argumentar que a profecia de Ezequiel não está relacionada a uma nova economia mosaica, mas a uma ordem inteiramente nova, uma que comemora a obra redentora de Cristo ocorrida no passado.
Novamente, porque Pentecost está comprometido com um “cumprimento literal” das profecias do Antigo Testamento, e porque ele está ciente que a própria obra redentora de Cristo cumpre a tipologia da economia mosaica, ele é forçado a argumentar que a adoração no templo no milênio está associada com uma condição totalmente nova.

Mas é isto que os autores do Novo Testamento nos ensinam sobre essas profecias? Em outro post, argumentei que o Novo Testamento ensina que Cristo é o verdadeiro Israel e o grande filho de Davi (
Clique aqui: JESUS CRISTO: O Verdadeiro Israel). É na igreja de Cristo – como corpo místico de Jesus – que encontramos o cumprimento das profecias do Antigo Testamento sobre Jerusalém e o Monte do Senhor. A promessa de uma terra, será cumprida em um novo céu e terra na consumação (conferir Romanos 4:13; Hebreus 11:9-10). O Novo Testamento claramente ensina que Cristo é o Novo Templo e que qualquer nova ordem de celebração envolvendo as cerimônias típicas do templo terrestre encontrada em um milênio futuro, só pode celebrar os tipos e sombras, não a realidade.
Isso apresenta um sério problema para os dispensacionalistas, que argumentam, com efeito, que a história redentora toma uma meia-volta na era milenar, assim como a realidade que está em Cristo agora supostamente retorna aos tipos e sombras do Antigo Testamento.

Como, então, a figura do templo do A.T. é cumprida por Jesus Cristo no N.T.? Em Êxodo 40:34, nos é dito que a glória do Senhor encheu o tabernáculo. Quando visto no contexto geral da história da redenção, podemos ver como isso apontava para o dia de Pentecostes, quando, através da habitação do Espírito Santo, a glória do Senhor encheu o verdadeiro templo, o corpo místico de Jesus Cristo (1ª Coríntios 12:12 – conferir Kline, Structure of Biblical Authority, 194).

Se o corpo de Cristo é o verdadeiro templo – como Paulo diz, “Porque vós sois o templo do Deus vivente” (2ª Coríntios 6:16) – que utilidade ainda resta para um futuro templo literal? Isso para que o templo tinha apontado, é agora uma realidade graças ao trabalho do Espírito Santo. Porque retornar aos tipos e sombras?

Também está claro nos capítulos 8-10 de Hebreus, que em sua morte, Jesus cumpriu a tipologia do sacerdócio do A.T., e em Seu próprio sangue, Ele coloca um fim ao sistema de sacrifícios, de uma vez por todas! Diz o autor de Hebreus:

“Ora, a suma do que temos dito é que temos um sumo sacerdote tal, que está assentado nos céus à destra do trono da majestade,
Ministro do santuário, e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem.” (Hebreus 8:1,2)
Se a realidade para que os sacrifícios e sacerdócio do Antigo Testamento apontaram é para ser encontrada em um verdadeiro santuário e tabernáculo no céu [a saber, Jesus], por que aguardar um retorno às sombras sob a forma de um templo terreno que teve o propósito de servir toda a revelação do A.T. com o objetivo de nos mostrar uma melhor e verdadeira cena celestial?
Contrariando a opinião dos dispensacionalistas, a celebração prescrita no N.T. ratificada pela Nova Aliança não é para ser encontrada em uma nova ordem de adoração no templo, uma ordem que inclui um novo templo, um novo sacerdócio e mais sacrifícios de animais, supostamente para ser reinstituída em um reino milenar terreno. Pelo contrário, quando Jesus profere as palavras de instituição, “isto é o meu corpo, isto é o meu sangue; fazei isto em memória de mim,” ele estabelece o método divinamente aprovado de celebração da sua obra sacrificial, o sacramento da Ceia do Senhor. É dessa forma que o povo de Deus se alimenta do Salvador, através da fé e comemorando o sacrifício dEle em seu favor.

Quando Jesus diz à mulher samaritana que ele pode dar-lhe água viva e que “aquele que beber da água que eu [Ele] lhe der nunca terá sede,” Jesus está declarando conscientemente que ele cumpre essa figura profética de que Ezequiel havia predito no trigésimo sétimo capítulo de sua profecia, quando falava da água que flui do santuário (Leon Morris, The Gospel According to John, The New International Commentary on the New Testament, Eerdmans, 1971, 259-261). Se Jesus é o verdadeiro templo de Deus, então somente Ele nos dá essa “água viva” que tira a sede do homem ansioso pelo pecado.

Portanto, a insistência dispensacionalista sobre um retorno das sombras e tipos associados com a expectativa profética do Antigo Testamento na era milenar, incorre em um sério equívoco quanto à natureza da história da redenção. Ao argumentar por uma nova ordem de celebração baseada na tipologia veterotestamentária que ainda está para começar na era milenar, os dispensacionalistas vêem o futuro não como uma consumação, mas como um retorno ao passado. E isto, claro, tristemente obscurece a pessoa e obra de Cristo quando se vê a realidade última não nEle, mas nos tipos e sombras que estavam destinados a perecer quando a realidade do nosso Senhor entrou na “dramática cena” da redenção.


Traduzido por MAC.


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