quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Definições.

Importante: O texto a seguir é de autoria de Anthony A. Hoekema (1913/1988), teólogo cristão que atuou como professor de Teologia Sistemática no Calvin Theological Seminary por vinte e um anos.

O termo “escatologia” origina-se de duas palavras gregas, eschatós e lógos, e significa “doutrina das últimas coisas”. Geralmente, tem sido entendido como referindo-se a eventos que ainda virão a acontecer, relacionados tanto com o indivíduo como com o mundo. Com relação ao indivíduo, é dito que a escatologia se ocupa de assuntos tais como morte física, imortalidade, e o assim chamado “estado intermediário” - o estado entre a morte e a ressurreição geral. Com relação ao mundo, a escatologia é vista como tratando da volta de Cristo, da ressurreição geral, do juízo final e do estado final das coisas. Mesmo concordando em que escatologia bíblica inclui os tópicos acima mencionados, nós temos de insistir em que a mensagem da escatologia bíblica será seriamente empobrecida se nela não incluirmos a situação presente do crente e a fase atual do reino de Deus. Em outras palavras, a escatologia bíblica completa precisa incluir tanto o que podemos chamar de escatologia “inaugurada” [1] como a escatologia “futura” [2].

[1] Esta expressão é preferível à “escatologia realizada”. Ela se refere ao gozo presente de bênçãos escatológicas que o crente desfruta.
[2] Este termo designa eventos escatológicos que ainda são futuros.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Trilha sonora para o Apocalipse.

Caros leitores.

Após um extenso período de postagens formais, deixo aqui algo para descontrair e apreciar. São algumas músicas que, em minha fértil imaginação, julguei adequadas para compor uma possível trilha sonora do maior de todos os eventos - a segunda vinda de Cristo.

Espero que gostem.

Ps: Se tiverem mais sugestões, é só postar nos comentários.


Clint Mansell - Requiem for a dream.


Apocalyptica - Ruska.


Final Fantasy VII Advent Children - Tenrai (Divinity I).


Final Fantasy VII Advent Children - Tenrai (Divinity II).

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Apêndice.

...continuação.

Importante: O texto a seguir é de autoria do Rev. William J. Grier (1868-19??).

As setenta semanas de Daniel 9.


As setenta semanas de Daniel (ou os setenta "setes") constituem a base de muitos esquemas de épocas. É bom observar o fim para o qual foram decretadas as setenta semanas:
"Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para cessar a transgressão, e para dar fim aos pecados, e para expiar a iniqüidade, e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e para ungir o Santíssimo." (Daniel 9:24)
De acordo com Daniel, esses seis resultados têm de ser obtidos antes que terminem as setenta semanas. É, portanto, errado considerar todos, ou alguns deles, como devendo ser cumpridos em um milênio depois das setenta semanas, como geralmente se faz.
O acabar com o pecado e a expiação da iniquidade tiveram lugar através dEle, que "se manifestou para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo" (Hb 9:26). Ele trouxe uma justiça que permanece para sempre (2ª Cor. 5:21). Após seu ministério e o de Seus apóstolos, nenhuma outra revelação profética seria necessária e Ele foi o Santíssimo, ungido com o Espírito (At 10:38).

Cristo é o personagem proeminente no trecho. Dele se diz, no versículo 26, que "já não estará" [1], isto é, será desprezado e rejeitado. É Ele quem "confirma" ou "faz prevalecer" a aliança (v. 27). Deve-se notar que a palavra empregada não significa "fazer aliança", e sim, "fazer prevalecer" a aliança, que é a Aliança da Graça, existente desde a antiguidade. (Ver nota abaixo).

Aquele que traz a desolação (fim do v. 27) é Tito, o comandante romano, cujas destruições horríveis são descritas por Josefo.

Não se justifica, absolutamente, o procedimento dos que tentam separar a 70ª semana da 69ª por um intervalo já muito mais longo que o total das 70 semanas. Se alguém alegar ter o próprio Daniel feito um intervalo, devemos responder que ele faz dois - 7 semanas e 62 semanas e 1 semana. Todos os intérpretes consideram as 62 semanas como vindo imediatamente depois das primeiras sete, sem qualquer interrupção. O intervalo assinala, apenas, um grande acontecimento na história de Israel: a restauração de Jerusalém sob a liderança de Esdras e Neemias. Semelhantemente, não há quebra de continuidade entre a 69ª e a 70ª semanas. Somente entre elas está o aparecimento portentoso de Cristo.

Não existe qualquer motivo para tomarmos os 70 "setes" como 490 anos. Em lugar algum do Velho Testamento se chama de "semana" ou "um sete" a um período de sete anos. É melhor interpretar esses "setes" como "uma designação propositadamente indefinida de um período de tempo medido pelo número 7, cuja duração cronológica tem de ser determinado sobre outras bases", conforme sugere Keil.


[1] Nota da tradutora: O autor segue uma versão inglesa que, conforme a tese de Edward J. Young ("The Preacher of Daniel"), representa melhor o sentido do texto hebraico. Duas frases de nossa Versão Revista e Atualizada no Brasil carecem de revisão. No v. 26 (cap. 9 de Daniel), a frase "já não estará" deve ser traduzida por "nada há para ele" ou "nada terá". No v. 27, "fará firme concerto" deve ser "fará o concerto prevalecer" (Novo Comentário da Bíblia) ou "confirmará a aliança", ou, ainda, "fará prevalecer a aliança".


Chegamos ao final da série de estudos intitulada "O Maior de Todos os Acontecimentos", pelo ponto de vista do amilenista Rev. William J. Grier.


quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Epílogo.

...continuação.

Importante: O texto a seguir é de autoria do Rev. William J. Grier (1868-19??).

Dionísio de Alexandria, cognominado "o Grande", nasceu aproximadamente no ano 190, da nossa era, e morreu em 265. Educado para seguir uma profissão secular, com brilhantes perspectivas de riqueza e fama, converteu-se à fé cristã e, então, pôde dizer:
"O que era ganho para mim considerei como perda, por amor de Cristo."
Eusébio, em sua "História Eclesiástica", nos fala de duas obras de Dionísio sobre "As Promessas". Foram escritas para combater o ensino de Nepos, um bispo do Egito, que afirmava deverem as promessas bíblicas ser compreendidas mais de acordo com a forma pela qual as entendiam os Judeus. Nepos "supunha que haveria um certo milênio de luxo e sensualidade aqui na terra." Para afirmar sua opinião, escreveu um tratado a respeito do Apocalipse, tratado esse fortemente combatido por Dionísio em suas duas obras relativas às Promessas. Na segunda dessas obras, ele menciona Nepos (já então falecido) e a grande ênfase de seus seguidores ao trabalho que escrevera acerca do Apocalipse, no qual ensinava a existência, no futuro, de um reino de Cristo na terra. Dionísio fala de sua sincera estima e grande consideração por Nepos, em virtude de sua fé, sua capacidade de trabalho, seu devotamento ao estudo das Escrituras e a maneira pela qual tinha deixado este mundo. Contudo, diz ele, a verdade tem de ser honrada e amada acima de tudo. Sentia-se, por isso, coagido a opor-se aos pontos de vista de Nepos. Declara que em Arsinoe, onde tal doutrina prevalecia, provocara "cisões e apostasias de igrejas inteiras."
Conta-nos Dionísio que visitou Arsinoe. E...
"... depois de haver convocado os presbíteros e mestres dos crentes nas aldeias, estando presentes os irmãos que quiseram comparecer, eu os exortei a examinar a doutrina em público. Quando apresentaram o livro de Nepos sobre o Apocalipse como uma espécie de armadura e fortaleza inexpugnável, sentei-me com eles durante três dias, da manhã à noite, procurando refutar o que nele se continha."
Dionísio presta homenagem à inteligência e ao espírito dócil daqueles irmãos e demonstra de que maneira, sensata e conciliadora, discutiu com eles, não tentando eximir-se de responder a objeções e procurando, tanto quanto possível, manter-se dentro do assunto. O objetivo supremo era que a verdade prevalecesse e todos recebessem o estabelecido nas doutrinas das Escrituras Sagradas. Afinal, o fundador e líder da doutrina, Corácio, na presença de todos os irmãos, em alto e bom som, "confessou e declarou" que não mais aceitaria aquela doutrina, pois havia ficado plenamente convencido pelos argumentos opostos - no que se regozijaram os outros irmãos presentes.
Se não conseguimos ter o mesmo tato e o mesmo espírito conciliatório de Dionísio, ao apresentar o nosso trabalho, sinceramente pedimos desculpas. Mas, em verdade, cremos que muitos dos nossos amados irmãos no Senhor, que divergem de nós nos assuntos ventilados neste livro, estudarão de novo a sua posição. Por anos a fio, durante toda a vida, talvez tenham ouvido pregadores repetir o assunto: um reino terreno de mil anos, centralizado em Jerusalém, e o que têm lido sempre seguiu a mesma linha. Agora, no entanto, se lhes apresenta um outro ponto de vista, que cremos seja o das Escrituras, dos Reformadores e dos Puritanos. Que ele conquiste a aceitação de nossos leitores!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

CAPÍTULO XVI - Estará próximo o grande evento?

...continuação.

Importante: O texto a seguir é de autoria do Rev. William J. Grier (1868-19??).

Quando Cristo esteve na terra, alguns pensavam que o reino viria imediatamente na sua glória, porém Ele corrigiu essa idéia - (Lucas 19:11-27). É verdade que o Salvador exaltado disse:
"Certamente cedo venho" (Ap 22:20).
Devemos, no entanto, nos lembrar de que, do ponto de vista divino, a vinda está sempre próxima pois, para Ele, mil anos são como um dia (2ª Pedro 3:8) e, também, de que o Novo Testamento considera toda esta dispensação como "os últimos dias" (Hebreus 1:1,2; 1ª João 2:18).
Haverá quaisquer indicações nas Escrituras para advertir que estará próximo o Seu aparecimento glorioso? Alguns fatos são citados, dos quais os seguintes são os principais:

1 - A chamada dos gentios - O ministério de pastores e professores terá de continuar até que todos os eleitos sejam reunidos e toda a Igreja, levada à estatura da perfeição em Cristo (Ef 4:11-13). Todas as nações terão de ouvir o evangelho através da instrumentalidade dos servos de Cristo e então virá o fim (Mt 28:19,20; 24:14). Isso não quer dizer que todos os indivíduos terão de ouvir e, muito menos, de ser salvos. Significa que as nações, cada uma e como um todo, terão oportunidade e que haverá indivíduos de todas as nações entre os remidos (Ap 7:9).

2 - A conversão de Israel - O Dr. Charles Hodge insiste que em Romanos 11 se ensina que haverá uma conversão nacional dos Judeus. Dr. G. Vos concorda que "no futuro se verificará uma ampla conversão de Israel." Alguns exegetas têm considerado a expressão "todo o Israel" de Rm 11:26 como dizendo respeito ao Israel espiritual, enquanto que os Professores Louis Berkhof e William Hendriksen a tomam como significando "todos os eleitos entre o povo do antigo concerto." Não nos julgamos aptos para, com firmeza, adotar uma dessas opiniões. Concordamos, todavia, com a prudente declaração do Bispo Waldegrave. Comentando o cap. 11 da carta aos Romanos, diz ele:
"É provável que haja um generalizado voltar de Israel para o Senhor antes da Sua vinda."
Isso não significa que todo israelita será salvo, porém que entre eles haverá conversões em escala jamais atingida. Quase ao fim de Seu ministério na terra, o Senhor disse que os judeus não O veriam até que O aclamassem como bendito. Em outras palavras, a atitude de um número muito grande de judeus estará mudada, quando Ele vier pela segunda vez (Mt 23:39; Lucas 13:35). Não se diga que isso coloca a vinda de Cristo num futuro demasiado longínquo. Assim como Deus deu capacidade à luz para viajar à espantosa velocidade de 300.000 Km por segundo, pode também, quando o desejar, enviar a luz do Seu evangelho e rapidamente reunir o número total dos Seus escolhidos entre gentios e judeus.
Preocupamo-nos em ressaltar (contrariando muito do ensino dispensionalista atual) que a bênção virá aos judeus apenas por uma forma: através da fé em Cristo (Rm 11:23); que só poderão ser salvos por meio do evangelho da graça soberana (Rm 11:32; At 4:12); e que não existe esperança alguma para um judeu simplesmente por ser judeu. Ele precisa, como o pecador gentio, se arrepender e ser convertido, para que seus pecados possam ser apagados (At 3:19). Não há distinção entre judeu e grego (Rm 10-12). Ambos têm de ser salvos pelo sacrifício expiatório de Cristo. Falar em esperança para o judeu só pelo fato de ser judeu, como fazem alguns dispensionalistas, é pregar um outro evangelho (Gl 1:8). Será correto saudar a volta dos Judeus não convertidos, rebeldes, para a Palestina como o cumprimento de profecia? Parece-nos que não, pois que a profecia une intimamente as idéias de conversão e "restauração" (v. Dt 30:8-10; Ez 20:38). As promessas do Antigo Testamento - de restauração à terra - tiveram cumprimento parcial na volta do cativeiro da Babilônia. São cumpridas totalmente na vinda do Israel espiritual - a descendência inumerável de Abraão - (Gl 3:29 e Rm 4:16-18) para o seu verdadeiro lar em Cristo e, afinal, à sua herança nos novos céus e nova terra (2ª Pe 3:13; Ap 21:1). A real circuncisão são os crentes judeus e gentios (Fp 3:3), cidadãos da Jerusalém celestial (Gl 4:26), os que chegam ao Monte Sião (Hb 12:22). Já demonstramos, no capítulo VI, que o Novo Testamento dá um sentido espiritual e amplo às promessas do Antigo Testamento, as quais, à primeira vista, podem parecer interessar exclusivamente aos judeus.

3 - A vinda do Anticristo - No tempo dos apóstolos, já atuava o sentimento anticristão (2ª Ts 2:7, 1ª Jo 2:18). Alcançará o máximo de sua força logo antes da segunda vinda do Senhor. Haverá uma grande apostasia e o poder anticristão será, muito provavelmente, concentrado em um indivíduo, a encarnação de toda a impiedade (2ª Ts 2). Muitas vezes, se tem perguntado:
"Tornar-se-á o mundo melhor ou pior, à aproximação da vinda do Senhor?"
Há passagens na Bíblia que parecem ensinar claramente que o mundo será muito ímpio então, como foi nos dias de Noé e nos de Ló. Por outros trechos, entende-se que se dará um desenvolvimento gradativo do reino de Cristo (ex. Mt 13:31-33). Ambos os quadros são indubitavelmente verdadeiros. Conforme diz o Prof. R.B. Kniper:
"Falando de um modo geral, as condições da terra estão se tornando melhores e piores ao mesmo tempo. Testemunha-se a cristianização de povos pagãos e o retrocesso de cristãos ao paganismo."
É provável que...
"... ao passo que o reino da verdade se for estendendo gradativamente, o poder do mal reunirá forças, à aproximação do fim." (Dr. Vos)
Embora tais acontecimentos tenham sido apresentados com clareza como antecedendo a Vinda, ninguém, senão Deus, sabe a época em que ela se dará. Tomará de surpresa a humanidade. Nenhum dos sinais dados é de tal natureza que possa determinar "o dia e a hora". Além disso, lembremo-nos de que a primeira vinda de Cristo foi prenunciada por sinais e, no entanto, surpreendeu a todos ou a quase todos. A maioria tinha prestado pouca ou nenhuma atenção aos sinais.
Disse Agostinho:
"Aquele dia está escondido para que todos os dias estejamos alerta."
Discordando do dogmatismo de alguns de seus contemporâneos, que consideravam iminente a segunda vinda, ele escreveu, com grande beleza:
"Aquele que ama a vinda do Senhor não é o que afirma estar muito distante, nem o que a declara próxima, mas é quem a aguarda com fé sincera, firme esperança e amor fervoroso, esteja próxima ou longínqua."
continua...


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

CAPÍTULO XV - Satanás, um inimigo derrotado e condenado.

...continuação.

Importante: O texto a seguir é de autoria do Rev. William J. Grier (1868-19??).

No Livro do Apocalipse, do capítulo 12 em diante, são destacados três grandes inimigos de Nosso Senhor e dos Seus santos: Satanás (o grande dragão vermelho), a besta e o falso profeta (a segunda besta do capítulo 13 é, em capítulos posteriores, chamada de falso profeta). No capítulo 19, temos a vitória do Rei dos reis e Senhor dos senhores sobre Seus inimigos. Vem exterminar as nações e assegura sua completa derrota. Todos os exércitos inimigos são inteiramente destruídos e "todas as aves se fartam com a sua carne." É uma impressionante descrição de vitória total. Cristo elimina a besta, o falso profeta e todos os seus seguidores, e pisa o lagar da vinha do furor e da ira de Deus, Todo-Poderoso.
É indubitável que o capítulo 19 nos leva diretamente ao fim do mundo e, à completa vitória de Cristo. Entretanto, embora nos conduza ao fim, uma coisa esse capítulo não faz. Mostra-nos a condenação dos principais agentes de Satanás - a besta e o falso profeta e seus adeptos; todavia, não nos fala da condenação do próprio enganador. Isso é o que nos será mostrado logo a seguir. Assim, o tema principal dos primeiros dez versículos do capítulo 20 é a derrota de Satanás.
Não é de estranhar que, ao descrever essa derrota, o apóstolo João nos leve atrás, ao início da era cristã. Tal retrocesso está perfeitamente de acordo com a estrutura do Livro. Assim é que nos capítulos 10 e 11, como tivemos, já, ocasião de destacar, parece perfeitamente claro que, ao soar da última trombeta, se complete todo o plano de Deus para a história humana.
"[...] quando tocar a sua trombeta, se cumprirá o segredo de Deus [...] (10:7) [...] e o tempo dos mortos, para que sejam julgados [...] (11:18)
Contudo, apesar dessa descrição do fim, o capítulo 12 nos conduz, novamente, ao princípio da era cristã, pois aí encontramos a cena do dragão esperando para devorar a criança que vai nascer; a sua frustração e derrota. A "criança-varão" é arrebatada para Deus e Seu trono. É evidente que essa criança-varão é Cristo, pois é descrita (12:5) como destinada a "reger todas as nações com vara de ferro" (sem dúvida, do Seu trono, como Mediador e, especialmente num dia futuro, como Juiz). Além disso, quando o dragão é precipitado, uma grande voz proclama:
"Agora é chegada a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do seu Cristo;" (12:10)
Assim, o assunto do capítulo 12 é o nascimento de Cristo e a Sua vitória sobre Satanás, consumada quando da Sua ascensão ao céu.

Uma volta ao começo da era cristã condiz perfeitamente com a estrutura do Livro do Apocalipse, além do que, se a vitória de Cristo sobre Satanás é o que se tem em vista apresentar, necessário se faz levar o leitor para trás, para o ministério de Cristo e a Sua cruz, pois o testemunho dos autores do Novo Testamento é unânime quanto ao fato de ter sido por meio da vitória de Cristo na cruz que Satanás foi "precipitado" na derrota.

Embora o capítulo 20 se assemelhe a outras seções do livro, conduzindo-nos do início da era cristã à grande consumação e ao Juízo final, apresenta algumas características que lhe são peculiares. Sua principal cena é a do acorrentamento de Satanás durante mil anos. Nessa vitória sobre Satanás por mil anos há um aspecto terreno e um celestial.
1 - O Aspecto Terreno (Ap 20:1-3 e 7-10). Os versículos 1 a 3 referem-se à prisão de Satanás. Trata-se de linguagem literal ou simbólica? Sem dúvida, existe simbolismo aí. Mesmo um literalista apaixonado como Walter Scott admite que a chave, a corrente e o selo mencionados são símbolos. Mas, se é assim, por que não considerar igualmente simbólicos os "mil anos" para os quais são usados?
Quando falamos do termo "mil anos" como um símbolo, não queremos dizer que não exista nele uma noção de tempo. Pode indicar um longo período, mas essa é apenas uma parte do seu significado. Outros exemplos de uso simbólico de números são encontrados em abundância no Apocalipse. Os "sete espíritos" em 1:4 são, evidentemente, o perfeito Espírito de Deus. Quem pode duvidar de que o número 666, em 13:18, tem uma linguagem própria? E no que diz respeito à cidade quadrangular, com comprimento, largura e altura de 12.000 "furlongs" (2.412 Kms,), se procurarmos considerar essas enormes dimensões unicamente no seu sentido literal, perderemos a sua profunda significação. O mesmo acontece com o número mil - é o número três, sagrado, adicionado ao sagrado número sete, para formar dez, número da perfeição, que é elevado à terceira potência (ou ao cubo). Fala da completa e perfeita vitória de Cristo sobre Satanás.

Há mais de 1.500 anos, Agostinho chamou atenção para o fato de que o acorrentamento de Satanás aqui mencionado é o mesmo citado pelo Senhor, quando falou de "manietar o valente" (Mt 12:26-29). O valente é Satanás e Cristo é mais forte que ele, pois veio para manietá-lo e despojá-lo de seus bens. Cristo está se referindo à Sua missão neste mundo. Isaías, no capítulo 53, que trata dos sofrimentos de Cristo, descreve também os resultados daqueles sofrimentos:
"[...] com os poderosos repartirá ele o despojo." (v. 12)
Através dos Seus padecimentos, Ele venceria Satanás e não deixaria de tomar os despojos da Sua conquista.

Muitos encontram grande dificuldade em admitir que Satanás possa estar preso agora, em vista de toda a escuridão, falsas religiões e terrível maldade predominantes sobre toda a terra. Devem, contudo, observar, em primeiro lugar, que linguagem igualmente forte é empregada com respeito à condição atual de Satanás, em passagens bastante claras das Escrituras. O apóstolo Paulo descreve Cristo como despojando Satanás e triunfando sobre ele e as suas hostes, pela cruz (Cl 2:15) e o autor da carta aos Hebreus fala de Cristo como "aniquilando o diabo" pela Sua morte (Hb 2:14). Pouco antes de ir para a cruz, o próprio Jesus disse que Satanás estava para ser expulso e julgado (Jo 12:31; 16:11). Em verdade, a vitória era tão segura que Ele a ela se refere como já alcançada.

O Dr. Robert Strong conta que, no princípio de 1938, o semanário decididamente pré-milenista "The Sunday School Times" publicou um desenho feito pelo Dr. E. J. Pace, que apresentava de forma mais interessante e vívida a concepção neo-testamentária de um Satanás frustrado e preso. Assim descreve ele o desenho:

"Ao fundo, vê-se a cruz do Calvário. Em primeiro plano, Satanás está agachado. Há os dizeres: 'O homem forte de Mateus 12:29.' Está acorrentado e olha, com preocupação, por sobre o seu ombro esquerdo, para 'o lugar horrível de fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos.' O desenho é intitulado: 'Um inimigo derrotado e condenado.' Abaixo dessas palavras, aparecem os seguintes versículos: 'Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo.' (1ª João 3:8); e 'para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo.' (parte de Hebreus 2:14)."
Dr. Strong sugere que, para se tornar esse desenho completo como uma impressionante representação do ensino do Novo Testamento sobre o "acorrentamento" de Satanás, bastaria acrescentar-lhe uma linha: "Veja-se também Apocalipse 20:2." Convém observar que as Notas da Bíblia Scofield afirmam ser permitido a Satanás "certo poder" durante esta dispensação da Graça, acrescentando tratar-se de "um poder rigidamente limitado e apenas tolerado por Deus."
Em segundo lugar, deve-se notar que essa vitória sobre Satanás se coaduna com uma contínua atividade de sua parte, que é admitida por Deus. Nos Evangelhos, lemos que, ao voltarem os discípulos de certa missão, caracterizada, entre outros sinais, pela expulsão de demônios, Jesus disse:
"Eu via Satanás, como raio, cair do céu." (Lc 10:18)
Entretanto, essa "queda" não o incapacitou. Empregou o máximo de seu poder contra Cristo não muito depois. Em 2ª Pedro 2:4, lemos:
"Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo."
O chefe dos anjos que pecaram foi Satanás e aqui está descrito como "lançado no inferno" e "preso em cadeias". Não obstante, o próprio Pedro, em sua primeira carta, 5:8, diz:
"[...] o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar."
Está, assim, perfeitamente claro, pelo estudo dessas passagens, que a "queda" de Satanás e as suas "cadeias" não o privam de atividades constantes entre os homens. Da mesma forma, o "acorrentamento" de Satanás, no capítulo 20 do Apocalipse, não significa a cessação total de suas maléficas influências. Seu caso pode ser comparado, sob certos aspectos, ao de Al Capone, o gangster de quem foi dito (com exagero, sem dúvida) que governava Chicago da cadeia de Chicago. Satanás está, de fato, acorrentado, mas dispõe de uma corrente bem comprida!

Em terceiro lugar, chamamos atenção para o fato de que esta passagem (Ap 20) fala de uma restrição especial imposta a Satanás. Repetidamente é ele mencionado nas Escrituras como sob limitação. Nos dois primeiros capítulos de Jó, aparece muito ativo, embora coibido. É-lhe permitido destruir os bens de Jó, mas não lhe pode tocar o corpo. Quando essa restrição é levantada, ainda assim ele é limitado, sendo-lhe proibido tirar a vida de Jó; quanto a esse ponto ele está acorrentado. O Apocalipse, como um todo, apresenta Satanás ativo, embora sob um freio. No capítulo 9, quando as forças do mal são liberadas, a chave do poço do abismo tem de ser usada para essa liberação. Quem a usa é "uma estrela caída do céu", i.e., Satanás. Note-se, porém, que ele não tem direito à chave. Ela lhe é dada. Além disso, no capítulo 12 ele combate a mulher e a sua semente, mas não obtém sucesso algum. Poder-se-ia julgar que, então, teria condições para vencer todos à sua frente. Há, todavia, a mão divina frustrando seus esforços. Em outras palavras, ele está sob controle.

No capítulo 20, se declara que Satanás está acorrentado "para que não mais engane as nações, até que os mil anos terminem" (v. 3). O objetivo especial da prisão, aqui enfatizado, é este: "para que não engane as nações". Não se diz que as nações serão salvas e, se elas não o forem, num sentido muito real estarão ainda sob "o engano". Parece, assim, que a sentença "não mais engane as nações" se refere a determinado tipo de engano que não mais poderá ser exercido por Satanás. Dr. William Hendriksen se refere aos tempos do Antigo Testamento, quando Deus permitiu que as nações andassem pelos seus próprios caminhos (Atos 14:16), e estabelece contraste entre isso e o conhecimento de Cristo largamente generalizado hoje. Deduz que:
"O acorrentamento de Satanás e o fato de ser atirado ao abismo para ali permanecer durante mil anos indicam que, através da atual dispensação da Graça, iniciada com a primeira vinda de Cristo, e que se estenderá até a Sua segunda vinda, a influência do diabo na terra é diminuída. Por conseguinte, é ele impotente para evitar a expansão da igreja entre as nações por meio de um trabalho missionário ativo."
Embora possa ser verdadeira tal sugestão, o contexto indica outra explicação do "engano" que Satanás está privado de exercer. O versículo 3 diz que ele não mais enganará as nações até que terminem os mil anos. O versículo 7 repete esse pensamento e no versículo 8 se acrescenta que - uma vez terminados os mil anos - ele surgirá para enganar as nações e reuni-las para "a guerra". Em outras palavras, o "engano" que não lhe é permitido agora e que, no fim, poderá exercer está claramente declarado: não se lhe admite "reunir as nações para a guerra" (no grego, "polemos"). Satanás tem um grande raio de ação, porém essa restrição lhe é imposta. O que é essa "guerra" se revela nos capítulos 16:14-16 e 19:19, onde se descreve a mesma, culminante, batalha. É a batalha, ou a guerra do grande dia do Deus Todo Poderoso. Afinal, terá chegado a hora e se permite a Satanás exercer esse tipo de "engano", o que fará em grande escala, provocando o último conflito mundial. Inspirará um ataque em massa contra a igreja de Cristo. As nações que reunirá são citadas como "Gog e Magog", termos tirados da descrição dos inimigos do povo de Deus, feita por Ezequiel. Os três capítulos 16, 19 e 20 falam desse "congregar de nações" e dessa "guerra", João está descrevendo a opressão final que se fará à igreja de Cristo, em todo o mundo, precedendo a Sua segunda vinda. A Igreja é simbolizada na figura de um arraial e uma cidade. Chega ao ponto de parecer que vai ser destruída, mas, rápido como um relâmpago, Cristo intervirá e inflingirá derrota total a todos os Seus inimigos que são, também, os da Igreja. Seguir-se-ão a ressurreição e o julgamento final de todos, desde o mais alto governante até o mais humilde escravo (Ap 20:11-15).

2 - O Aspecto Celestial (Ap 20:4-6). Estes versículos apresentam o aspecto celestial dos "mil anos". O versículo 3 fala de Satanás sendo acorrentado por mil anos, e acrescenta:
"E depois importa que seja solto por um pouco de tempo."
O 7º e 8º versículo repete o mesmo pensamento:
"E, acabando-se os mil anos, Satanás será solto da sua prisão,
E sairá a enganar as nações [...]"
É evidente que os versículos 7 a 10 são uma continuação direta dos de 1 a 3, de sorte que os de 4 a 6 constituem como que um parênteses. Esse parênteses trata do reinado dos santos por mil anos. Dr. Hendriksen formula as seguintes perguntas com respeito ao assunto:


a) Onde será esse reino? - Observe-se não haver menção de Palestina ou Jerusalém nesses versículos. Os santos são descritos como assentados sobre tronos (v. 4). Conforme dissemos no capítulo anterior, sempre que se faz referência a tronos, no Apocalipse, quer se trate do de Cristo, quer dos de Seu povo, são localizados no Céu. A probabilidade, então, é que seja esse o caso também aqui. Em verdade, não pode deixar de ser assim, em vista da expressão "Eu vi as almas daqueles que foram decapitados" (v. 4). "Almas" estão aqui quase que em contraste com "corpos", pois é indubitável dar o capítulo ênfase à ressurreição dos corpos. O que temos nesta cena é, portanto, uma visão de espíritos desencarnados. As lutas dos santos na terra, tão evidentes no Apocalipse, constituem apenas uma parte da sua história, no grande dia final, vistas do lado de cá. A Igreja se congregando no lar do céu é a outra parte, gloriosa.


b) Qual a sua natureza? - Os que dele participam são descritos como ressurretos, pois terão passado pela "primeira ressurreição." Os que pertencem a Cristo são mencionados no Novo Testamento como "ressuscitados com Cristo" (Cl 3:1, Ef 2:6, Rm 6:5-8). Suas lutas neste mundo são repetidamente apresentadas no Apocalipse, muitas vezes sob símbolos; e a bênção do estado eterno após a ressurreição final consta dos capítulos 21 e 22, em grande parte sob símbolos também. Não deveríamos esperar alguma referência à felicidade de que já gozam, antes da ressurreição final, aqueles que morrem em Cristo Jesus? E será de surpreender que tal felicidade seja descrita em linguagem simbólica?

Os santos da "primeira ressurreição" são apresentados em contraste com "os outros mortos" que não viverão até o fim do período dos mil anos. Os que tiverem ido para o céu estão mortos no que diz respeito aos seus corpos, porém vivem e reinam com Cristo em glória. Os "outros" estão mortos em ambos os sentidos, físico e espiritual, e ressuscitarão (no corpo) apenas para sofrer a terrível segunda morte. Essa é a única ressurreição para eles. Poder-se-á objetar que isso envolve o tomar em dois sentidos a palavra "viver", nesses versículos, ou seja, no quarto, como uma ressurreição espiritual e, no quinto, como ressurreição do corpo. Mas em outra passagem João se refere a essas mesmas duas diferentes espécies de "vida" em poucos versículos (Jo 5:25, 28 e 29). E neste mesmo trecho (Ap 20), emprega a palavra "morte" em dois sentidos: morte do corpo e morte espiritual (v. 5 e 6). Assim, não é apenas possível atribuir aqui dois significados à palavra "vida"; há quase que uma exigência de que o façamos.
"[...] e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos." (Ap 20:4)
Se alguém argumenta, dizendo que "viveram" está no tempo aoristo (grego "ezêsan") e, portanto, indica um acontecimento e não um estado, respondemos que "reinaram" é, igualmente, um tempo aoristo e indica, reconhecidamente, um estado. (Mesmo em Ap 2:8, onde "ezêsan" é usada referindo-se à ressurreição de Cristo, se a colocarmos, como convém, junto a Ap 1:18, verificaremos que diz respeito a um estado e significa: "Ele estava em um estado de morte e tornou-se vivo para sempre.").

O que se descreve neste "reino" dos santos é a felicidade dos mortos em Cristo. Suas almas são aperfeiçoadas em santidade e recebidas nos mais altos céus, onde contemplam a face de Deus, em luz e glória. "Bem-aventurados os mortos que morrem no Senhor."


c) Quem dele participa? -
"E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos." (Ap 20:4)
Além dos termos indefinidos - "eles" e "lhes", existem aí duas expressões para descrever aqueles que vivem e reinam com Cristo. São: a) os mártires e b) os que recusaram a marca do mundanismo. Alguns encontram dois ou três grupos nessa descrição. É melhor considerá-la como de um grupo, isto é, simplesmente cristãos fiéis nas lutas através dos séculos. São Suas testemunhas leais, que não amaram suas vidas a ponto de temerem a morte. Esses cristãos conhecem, por experiência, a realidade das palavras "Não há coroa sem cruz." Essa visão os apresenta como gozando da sua recompensa no céu. Cristo foi exaltado, depois de Sua morte, para reinar, como Rei Messiânico, à mão direita de Deus. Aqui, os Seus santos fiéis são também descritos como entronizados. Á eles concede que se sentem com Ele no Seu trono, assim como Ele também venceu e se sentou com o Pai, no Seu trono (Ap 3:21).


O reino de mil anos é, portanto, o longo período entre a primeira e a segunda vindas do Senhor. O número 1.000 não somente traz a idéia de um longo período, mas também, e mais particularmente, simboliza a perfeição, segurança e bem-aventurança celestiais. Quando João se utiliza do número 1.000 para descrevê-lo, diz "tudo o que poderia ser dito para trazer às nossas mentes a idéia da perfeição absoluta." (B. B. Warfield).

Quão pouco se encontra, realmente, no capítulo 20 do Apocalipse susceptível de sugerir a idéia comum acerca de um milênio! Muitos responderão que ela já surge no Velho Testamento, cujas profecias falam de uma "idade de ouro" na terra. Parece-nos, todavia, muito mais lógico considerar tais profecias como relativas ao novo universo, depois de transformado. Afinal, as profecias do Velho Testamento não alcançam apenas um reino transitório, mas atingem a eternidade.

A interpretação que acabamos de apresentar do capítulo 20 de Apocalipse está em perfeita harmonia com o resto do Novo Testamento, o qual não deixa lugar para um reino intermediário entre o atual reino de Cristo e o eterno, de glória. Condiz, igualmente, com a característica de grande parte do livro: cenas e símbolos, não fugindo ao sentido da própria passagem.

Chegamos ao fim de nossos estudos das Escrituras a respeito da segunda vinda. Podemos concluir, utilizando-nos do sumário do Dr. Robert Strong, com ligeiras modificações:


1 - A dispensação da graça irá até a segunda vinda, com a Igreja de Cristo prosseguindo na obra de reunir um povo para o Senhor.

2 - Ao se aproximar o fim dessa dispensação, surgirá uma grande apostasia, fortemente promovida pelo "homem do pecado", o anticristo pessoal, que comandará a grande rebelião final contra Deus e o Seu Cristo. Esse será um tempo de grande sofrimento para os fiéis.

3 - O Senhor Jesus virá, visível e gloriosamente. Ressuscitará os santos mortos, transformará os que estiverem vivos e reunirá todos os remidos, levando-os para estar com Ele. Destruirá o anticristo e julgará o mundo. Refará a terra e os céus, para que se tornem a habitação de eterna justiça.


Esses acontecimentos serão praticamente simultâneos, de sorte que haverá um grande e apoteótico evento no fim do mundo. Ele virá com os Seus santos - os mortos benditos - para levá-los à felicidade final de novos céus e nova terra. Virá para os Seus santos, os que estiverem vivos, então. TODOS OS REMIDOS, EM SEUS CORPOS GLORIFICADOS, SERÃO REUNIDOS EM UMA GRANDE MULTIDÃO PARA ESTAR "PARA SEMPRE COM O SENHOR."


continua...


sexta-feira, 5 de novembro de 2010

CAPÍTULO XIV - A interpretação dada pelos pré-milenistas ao capítulo 20 do Apocalipse.

...continuação.

Importante: O texto a seguir é de autoria do Rev. William J. Grier (1868-19??).

Podemos considerar a "Exposição do Apocalipse" escrita por Walter Scott como revelando o ponto de vista generalizado entre os pré-milenistas. Assim esboça ele o capítulo 20:
"Há quatro grandes ações: primeiro, a prisão de Satanás no abismo, durante mil anos (vs. 1-3); em segundo lugar, o reinado, com Cristo, de todos os santos do céu, durante mil anos (vs. 4-6); a seguir, vem a última e desesperada tentativa de Satanás para obter, novamente, o domínio do mundo, sua completa derrota e condenação final (vs. 7-10); por fim, o julgamento dos ímpios mortos (vs. 11-15)."
Os pré-milenistas em geral acham que os mil anos citados no capítulo 20 constituem o período do reino de Cristo em pessoa, aqui na terra, sobre o povo de Israel restaurado e as nações gentias vencidas. Durante esse tempo, Satanás estará acorrentado e o mal, reprimido, enquanto com Cristo reinarão os Seus salvos, ressuscitados e trasladados. Nesse milênio, serão cumpridas as profecias do Velho Testamento com respeito à domesticação de animais selvagens e à restauração do templo, do culto e do ritual judaicos. Ao findar-se o milênio, Satanás será solto por um tempo limitado e insuflará as nações a se rebelarem contra o governo de Cristo e Seus santos, no que será bem sucedido, e comandará um número incontável de rebeldes, mas será vencido e então encontrará sua perdição final, no lago de fogo. Seguir-se-á o julgamento dos ímpios.
Vamos, agora, examinar essa interpretação. Walter Scott dá ênfase ao "caráter simbólico da cena" no tocante ao acorrentamento de Satanás. Diz ele:
"O anjo tem a chave do abismo e uma grande corrente na mão. Não é preciso insistir no simbolismo da cena, pois se evidencia à primeira vista."
Scott pondera que os símbolos de chave, corrente e selo querem significar que "por intervenção angélica" a "liberdade de Satanás é restringida e sua esfera de operações, diminuída." Depois de admitir o emprego de símbolos no versículo primeiro, nega ele o simbolismo nos versículos 2 e 4 - a chave e a corrente são símbolos, mas os mil anos não. Os mil anos, diz Scott...
"... em nosso modo de ver, devem ser considerados não com qualquer sentido simbólico, porém, significando exata e literalmente aquele período de tempo. A expressão "O MILÊNIO" - designando um período em que o Senhor reinará com Seus santos aqui na terra, em pessoa e publicamente reconhecido - se origina desse capítulo."
Ainda bem que Scott admite que, sendo Satanás um ser espiritual, a chave e a corrente devem ter significado espiritual e não ser consideradas como objetos materiais. Formulamos, no entanto, enérgico protesto contra a forma, sem qualquer justificativa, pela qual esse autor mistura o simbólico e o literal, a seu bel-prazer. Uma palavra é simbólica, porque ele assim o deseja, ao passo que outra, no versículo seguinte e até no mesmo, deve, no seu entender, ser tomada em um sentido absolutamente literal. Essa é a característica do comentário de Scott ao Apocalipse em outros trechos, e determina toda a interpretação pré-milenista.
Os que consideram o número "mil" como literal não atentam para o emprego dos números no Apocalipse. Eles têm uma linguagem especial. Mesmo Walter Scott não toma o número "sete" no seu sentido estritamente literal; aceita que as sete Igrejas "representam a Igreja Universal." Mas por que seria um número simbólico e outro não? O Bispo Wordsworth chama atenção para o fato de que o número "mil" é usado mais de vinte vezes no Apocalipse, e acrescenta:
"Nem uma vez sequer, creio, é empregado com significação literal mas, sempre, como um número perfeito."
O Professor William Milligan comenta:
"Se interpretarmos literalmente os mil anos, será esse o único caso em que um número, no Apocalipse, é assim tomado e esse fato deve ser suficiente para destruir tal interpretação."
Como é que os pré-milenistas encontram um reino na terra nos versículos 4-6? Lá não existe tal indicação. Em verdade, João teve o cuidado de dizer que viu "as almas dos que tinham sido decapitados." Isso esclarece que a visão não é de santos glorificados, que tiveram os corpos já transformados, mas dos que foram despojados dos seus corpos e se encontram no Paraíso de Deus.
Diz o versículo 4:
"E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos."
Não há qualquer razão para que se coloquem os tronos na terra. Os pré-milenistas, tão severos em se agarrar à letra da passagem, considerando o termo "mil anos" no seu sentido literal, deveriam ater-se ao que realmente ali se diz. Em outro lugar, no mesmo livro, tais tronos são localizados no céu (Ap 4:4), em cujo caso os próprios pré-milenistas acham que se senta nos tronos o grupo dos redimidos e glorificados no céu.
Outra grande dificuldade para o pré-milenista, com a sua insistência no literalismo, é a identificação dos que estão sentados nos tronos. Apenas dois grupos são definidamente citados: os que foram decapitados por testemunharem de Jesus e os que se recusaram a se submeter à besta. Mas os pré-milenistas se esforçam arduamente por colocar aqui a ressurreição de todos os justos. Walter Scott percebe a dificuldade e procura introduzir todos os justos nas palavras "eles" (assentaram-se) e "lhes" (foi-lhes dado todo o poder), constantes da primeira parte do versículo 4 (cap. 20). Afirma Scott:
"A palavra 'eles' (em português, o sujeito oculto de 'assentaram-se') refere-se, evidentemente, a uma classe bem conhecida... São todos os crentes do Velho e do Novo Testamento, ressuscitados ou transformados à vinda do Senhor nos ares. Esse é um grupo muito maior de santos do que o constituído pelos mártires; por isso, não há outro lugar para o colocar no reino a não ser aí, sob os dois pronomes 'eles' e 'lhes'."
Acontece, todavia, que não existe menção de todos os justos, no versículo 4, interpretado literalmente.
Walter Scott acha que os "decapitados" e aqueles "que não adoraram a besta" são os que serão martirizados durante o período da tribulação após o "arrebatametno" dos santos. Afirma que eles ressuscitarão às vésperas do milênio na terra, i.e., ao fim do período da tribulação e anos depois da ressurreição dos outros santos. Isso ele depreende das palavras:
"As almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus [...], e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos. [...] Esta é a primeira ressurreição."
Na realidade, de acordo com a própria interpretação de Scott, não seria a primeira, uma vez que a primeira ressurreição teria tido lugar anos antes, por ocasião do arrebatamento!
O Cónego A. R. Fausset, culto pré-milenista, também admite a dificuldade de colocar todos os justos no versículo 4, com base em sua interpretação literal. Ele afirma:
"Acerca do alcance da primeira ressurreição nada se diz aqui."
E nos aconselha a estudar 1ª Coríntios 15 e 1ª Tessalonicenses 4. Os pré-milenistas desejam, às vezes, que aceitemos todo o seu esquema de um milênio como perfeitamente claro, e até óbvio no capítulo 20 do Apocalipse. Evidentemente, não é assim.
A idéia de um reinado terreno de mil anos envolve os seguintes paradoxos:

1) Os santos glorificados estarão em uma terra ainda não "glorificada" ou renovada, i.e., ainda não purificada pelo fogo;
2) Santos, com corpos glorificados, se misturarão com santos e com pecadores que não terão corpos glorificados. Seria um "mixtum gatherum";
3) Satanás será acorrentado para que não mais engane as nações; apesar disso, elas continuarão, realmente, inimigas de Cristo, prontas para obedecer a Satanás e a guerrear contra os santos, tão logo termine o milênio. Os rebeldes parecem até mais numerosos que os justos, ao se findar esse período, pois são "como a areia do mar", enquanto que os santos se reúnem em um "arraial" e em uma "cidade" e só fogo vindo do céu salva o frágil agrupamento.

Aprofundando-se alguém no estudo da interpretação literal dada pelos pré-milenistas, encontra terríveis dificuldades, oriundas da própria passagem. Existe, ainda, o problema de conciliar a sua teoria com o que vimos ser o testemunho unânime do restante do Novo Testamento, onde há esclarecimentos e instruções a respeito da segunda vinda. (v. nota abaixo).
No capítulo seguinte será apresentada uma interpretação muito mais satisfatória do capítulo 20 do Apocalipse.

Nota: Muitas passagens das Escrituras apontadas como dando base à idéia de um reino de Cristo na terra durante mil anos se referem, em verdade, ao que se deve entender como "reino eterno." Ex.: 2ª Samuel 7:16, Isaías 9:7, Daniel 2:44; 7:14 e Lucas 1:33.

continua...


sábado, 23 de outubro de 2010

CAPÍTULO XIII - O testemunho do Apocalipse.

...continuação.

Importante: O texto a seguir é de autoria do Rev. William J. Grier (1868-19??).

No exame desse livro, algumas de suas características devem ser particularmente observadas:

1 - O emprego de símbolos - É essencialmente simbólico. Há, nele, o que se pode chamar de linguagem didática. Por exemplo, apresenta informações claras acerca da segunda vinda de Cristo. Mas as tentativas de uma interpretação literal esmorece no rochedo do caráter patentemente simbólico de muito do seu conteúdo. Está escrito, na sua maior parte, em linguagem de sinais. João o recebeu em visões. Estava (literalmente, "foi arrebatado") no Espírito, no dia do Senhor. O mundo invisível lhe foi desvendado e, como num grande drama, sucessivas visões passaram à sua vista.
Pensemos na visão de Pedro, mencionada no capítulo 10 de Atos. Em estado de transe, viu um grande lençol, atado pelas quatro pontas, que desceu do céu, trazendo toda sorte de quadrúpedes, répteis e aves. Embora com certa dificuldade a princípio, Pedro acabou por perceber o sentido profundo daquela visão. Ela o preparava para reconhecer que Deus não fazia acepção de pessoas e receberia, sem qualquer reserva, gentios que cressem, assim como judeus. O mesmo acontece com as visões de João. Se as tomarmos literalmente, correremos o grave risco de obter apenas a casca, perdendo o grão - o verdadeiro sentido.
Tem havido alguns exegetas, como o Dr. Seiss, que insistem em uma interpretação totalmente literal. O próprio livro nos alerta contra isso. Fala, por exemplo, de uma mulher assentada "sobre sete montanhas", porém nenhuma mulher o poderia fazer. Refere-se, também, a um assombro no céu: uma mulher, sofrendo para dar à luz, "vestida com o sol e a lua sob os seus pés, tendo sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas", e continua a descrever a mesma mulher como tendo "as duas asas de uma grande águia." Não é exato que os próprios termos de tais descrições nos advertem contra a sua interpretação literal?
No capítulo 14:4, lemos:
"Estes são os que não estão contaminados com mulheres; porque são virgens [...] Estes são os que dentre os homens foram comprados como primícias para Deus e para o Cordeiro."
Será bem difícil aos nossos amigos literalistas averiguar um trecho como esse!
Lemos:
"E o parecer dos gafanhotos era semelhante ao de cavalos aparelhados para a guerra; e sobre as suas cabeças havia umas como coroas semelhantes ao ouro; e os seus rostos eram como rostos de homens.
E tinham cabelos como cabelos de mulheres, e os seus dentes eram como de leões.
E tinham couraças como couraças de ferro; e o ruído das suas asas era como o ruído de carros, quando muitos cavalos correm ao combate." (9:7-9)
Descreve, ainda, "uma grande saraiva caída dos céus, pedras do peso de um talento (mais de 45 quilos) (16:21) e, também, uma carnificina tão grande, que provocou um mar de sangue "pelo espaço de mais de 200 milhas, chegando até aos freios dos cavalos (14:20). Aceitar essas figuras literalmente é estragar o que foi escrito. Os detalhes são traçados exclusivamente para demonstrar o horror das coisas focalizadas.
Não faltam indicações de que João não está fazendo uma descrição literal, mas apresentando alegorias. No capítulo 19:11-21, temos a vinda do Salvador, Rei dos reis e Senhor dos senhores, em um cavalo branco, com uma espada, e as aves do céu são chamadas para comer a carne de Seus inimigos, que Ele vencerá. Eis aí um quadro altamente expressivo de vitória total e todas as figuras de uma guerra são empregadas para torná-lo vívido. Mas a passagem contém uma advertência, repetida, de que não se trata de uma guerra literal. Duas vezes o escritor nos diz ser o instrumento da vitória uma espada que "saía da boca" do Conquistador. Não poderíamos pensar no Senhor da Glória empenhado em luta corpo-a-corpo com Seus inimigos. É bastante que Ele fale, como fez no Getsêmane (Jo 18:6) e Seus inimigos caem por terra.
O grande dragão vermelho do capítulo 12, diz-nos João claramente, é Satanás. As bestas do capítulo 13, um tanto semelhantes às citadas em Daniel, nos apresentam forças anti-cristãs, políticas e religiosas. Em um folheto intitulado "Comunismo e Cristianismo", David Bentley Taylor escreve:
"É profundamente lamentável que o livro do Apocalipse seja tão pouco explicado aos Cristãos... Em nenhuma outra parte das Escrituras está tão vívida e minuciosamente descrita a situação do povo de Deus na China, como nesse livro. Se você quer perceber o que há, sentir o ambiente ali, leia o 13º capítulo do Apocalipse e lá coloque os cristãos chineses e os missionários naquele país. Os primeiros dez versículos indicam a força que têm de enfrentar; os oito últimos dão uma idéia da propaganda e eficiência que são associadas a essa força."
Em outras palavras, esse é um caso da besta que sai do mar e da que sai da terra, ante os nossos olhos.

2 - Desenvolvimento em direção ao clímax - Há um progresso, no livro, em direção ao grande clímax. As sete cartas (cap. 2 e 3) formam uma seção. O resto do livro se divide em seis partes. Em cada uma delas, João nos leva ao fim e depois começa de novo, de um ponto anterior. Há considerável paralelismo entre as várias seções (ou partes) e, se examinarmos com cuidado o fim de cada uma, descobriremos que a narração se movimenta num constante crescendo até atingir o clímax.
O capítulo 6 leva até a proximidade do fim, com os homens gritando às montanhas e rochas:
"Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro;"
O capítulo 11 também introduz o fim, com a última trombeta proclamando o acabar do Tempo.
No capítulo 14 o fim é descrito sob a figura de uma dupla colheita: a do trigo e a das uvas.
O capítulo 16 conduz à voz que vem do trono dizendo "Está feito" e à entrega da taça do vinho da indignação de Deus.
Leva-nos o capítulo 19 à vinda do Conquistador, no cavalo branco, Rei dos reis e Senhor dos senhores, vitorioso sobre todos os Seus inimigos.

O capítulo 20 nos conduz ao grande trono branco e todos os mortos, pequenos e grandes, na presença de Deus, cena que é seguida pelo quadro glorioso dos novos céus e nova terra - a consumação absoluta.
Há, sem dúvida, um desenvolvimento de ação até chegar ao clímax.

3 - Harmonia com o restante das Escrituras - Em nosso exame do ensino do Novo Testamento com respeito à segunda vinda de Cristo, deixamos o Apocalipse até agora não apenas por ser o último livro da Bíblia, porém por ser um princípio seguro guiar-se o pesquisador pelo que está claro e bem definido, nas Escrituras, para a compreensão do que é figurado e de difícil interpretação.
"Dentro dos devidos limites", diz o Dr. B.B. Warfield, "a ordem de investigação deve ser do que é mais claro para o mais obscuro."
Já verificamos não existir qualquer alusão, nos demais livros do Novo Testamento, a um reinado de mil anos de Cristo na terra. Não só a palavra "milênio" não aparece nem uma vez, mas a própria concepção é desconhecida fora do capítulo 20 do Apocalipse. Mesmo quando Paulo está tratando com os Judeus expressamente do seu futuro, como no capítulo 11 da carta aos Romanos, nada diz acerca da restauração nacional e da preeminência da nação Judaica sob o cetro do Messias, durante o milênio, o que seria de esperar que fizesse, se tais coisas tivessem de acontecer. Tem-se geralmente extraído dessa passagm (cap. 20 do Apocalipse), mal interpretada, a idéia de um milênio e procurado impo-la à força ao resto das Escrituras. Entretanto, essa concepção inexiste. Nos demais livros acresce ter sido, conforme vimos, definitivamente excluída, pelo ensino de muitas passagens.
O testemunho unânime dos Evangelhos, do Livro de Atos e das Espístolas é que a segunda vinda trará, como acompanhamento, a ressurreição geral e o juízo final de toda a humanidade. Encontramos esse ensinamento também no Apocalipse? Certamente, sim.
No versículo 7 do 10º capítulo, lemos:
"Mas nos dias da voz do sétimo anjo, quando tocar a sua trombeta, se cumprirá o segredo de Deus, como anunciou aos profetas, seus servos."
O capítulo seguinte nos diz que "o sétimo anjo tocou a sua trombeta" e os vinte e quatro anciãos dizem:
"[...] e chegou a tua ira. Chegou o tempo de julgares os mortos e de recompensares os teus servos, os profetas, os teus santos e os que temem o teu nome, tanto pequenos como grandes, e de destruir os que destroem a terra." (11:18)
Aqui está o fim. Os mortos são julgados, os santos de Deus recompensados e os ímpios destruídos. O Apocalipse fala de um julgamento geral, como o fazem os demais livros das Escrituras.
Vale a pena observar igualmente o cap. 16:14-16. Os três espíritos imundos...
"vão ao encontro dos reis da terra e de todo o mundo, para os congregar para a batalha, naquele grande dia do Deus Todo-Poderoso. Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia, e guarda as suas roupas, para que não ande nu, e não se vejam as suas vergonhas. E os congregaram no lugar que em hebreu se chama Armagedom."
A escola pré-milenista comum (por ex., o Dr. Charles Feinberg) acha que a "vinda de Cristo como um ladrão" será para o "arrebatamento secreto". Neste trecho, todavia, ela está colocada na época que esses intérpretes consideram como o término do período da grande tribulação, depois do arrebatamento!
No capítulo 20, vs. 12-15, lemos a respeito do grande trono branco e dos mortos, grandes e pequenos, em pé, perante Deus.
"[...] e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras.
E deu o mar os mortos que nele havia; e a morte e o inferno deram os mortos que neles havia; e foram julgados cada um segundo as suas obras.
E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte.
E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo."
Dr. Warfield comenta:
"É o julgamento geral, parece óbvio. Os por ele atingidos são descritos como 'os mortos tanto pequenos como grandes', parecendo tratar-se de uma designação geral. Que a convocação para o julgamento não é apenas dos ímpios parece claro, pois não apenas foi aberto o 'livro das ações' porém, também o 'livro da vida' (mencionado duas vezes) e somente são lançados no lago de fogo aqueles cujos nomes não foram achados escritos no 'livro da vida.' Daí concluir-se haver alguns presentes cujos nomes estão escritos no 'livro da vida.' A destruição da morte e do inferno não significa ser o julgamento só dos inimigos de Deus. Quer dizer, simplesmente, que daí por diante, conforme Paulo também afirma em 1ª Coríntios 15, não haverá mais morte. Existe, sem dúvida, a 'segunda morte', mas essa é o lago de fogo, isto é, o castigo eterno. Trata-se, assim, do grande julgamento final, que é apresentado à nossa contemplação, incluindo a ressurreição geral e preparando a entrada para o destino eterno."
Assim, o Apocalipse se une ao testemunho unânime dos demais livros da Bíblia: uma ressurreição geral e um julgamento universal.
Resta examinar uma passagem bem conhecida - a que deu origem à teoria de um milênio terreno e é considerada seu sustentáculo: o capítulo 20 do Apocalipse. A Bíblia Scofield admite haver tal doutrina procedido desse trecho.

continua...


sábado, 9 de outubro de 2010

CAPÍTULO XII - Três interpretações do Apocalipse.

...continuação.

Importante
: O texto a seguir é de autoria do Rev. William J. Grier (1868-19??).


Os intérpretes do Apocalipse podem ser agrupados em três escolas principais, conforme a resposta que dão à pergunta:

"A que período de tempo se referem as visões e acontecimentos do Livro?"
Se respondem:
"ao passado", são preteristas (do Latim - praeter, passado).
Se respondem:
"ao futuro", são futuristas.
Se a resposta é que entendem o Livro como abrangendo, em sua extensão, toda a história do reino de Cristo, eles são o que o Dr. N.B. Stonehouse qualificou de "compreensivistas", isto é, adotam uma interpretação que compreende passado, presente e futuro dentro do escopo do Livro.

1 - O Preterista - sustenta que o livro tem em vista, pelo menos como objetivo principal, acontecimentos contemporâneos do apóstolo João, ou que estavam muito próximos, quando ele o escreveu. Suas profecias foram cumpridas até o tempo de Constantino, i.e., até o começo do quarto século depois de Cristo. Um jesuíta, Alcasar (1614 d.C.) foi o criador dessa escola.

O Apocalipse, a nosso ver, indica com a maior clareza que não se limita aos dias dos Césares. Conforme escreve o Dr. William Milligan:

"Trata de muita cousa que deverá acontecer até o fim dos tempos, até a total realização da luta da Igreja, até a sua completa vitória e a consecução do seu descanso. . . Há um desenvolvimento gradativo no livro, que só termina com o final advento do Juiz de toda a terra."
A interpretação preterista resumiria o Apocalipse a um manual de história da Igreja sob os Césares. É patente, contudo, que a obra tem um alcance muito mais vasto e muito maior utilidade.

2 - O futurista - assegura ser o objetivo do livro - o primordial, pelo menos, descrever os eventos que se centralizam na volta de Cristo. Essa interpretação transfere a verdadeira importância da maior parte do Livro para um período curto, no fim dos tempos (pelo menos na sua interpretação mais estrita). O jesuíta Ribera (1603 d.C.) fundou esta escola. John N. Darby, entre outros, adotou essa interpretação, que está, hoje, muito difundida. Em sua grande maioria, os pré-milenistas são futuristas. Walter Scott, em seu Comentário do Apocalipse, dá a interpretação futurista comum.

"Os capítulos 2 e 3 descrevem a história moral da Igreja em sucessivos períodos, a partir do fim do primeiro século do Cristianismo... Nos capítulos 4 e 5 a cena se passa no céu, e não na terra, tendo os santos sido removidos para o seu lar celestial... Colocamos o arrebatamento dos santos depois da ruína da Igreja, demonstrada no capítulo 3, e antes da glória descrita no capítulo 4."
E continua Scott, dizendo que:
"Os eventos relativos aos selos, às trombetas e às taças da ira se dão após o arrebatamento e antes do aparecimento em glória."
E acrescenta:
"Seria impossível compreender o Apocalipse, se isso não se percebesse claramente."
Como se pode perceber isso claramente, se não existe o menor indício de um "arrebatamento" entre os capítulos 3 e 4 e nenhuma sugestão, em ponto algum, de que as cartas às sete igrejas, que ocupam os capítulos 2 e 3 indicam sete "períodos sucessivos" na história da Igreja?
O Dr. D.G. Barnhouse diz, ao expor o Apocalipse:

"A base para o estudo (ou o seu ponto de partida) é que a maior parte deste livro está inteiramente fora da época da Igreja e que o reajuntamento de Israel é o centro da cena, sendo que a Igreja nem aparece."
Assim, essa surpreendente teoria futurista pede que creiamos não ter o livro do Apocalipse - em sua quase totalidade - coisa alguma a ver com a Igreja, suas lutas, tribulações e triunfos. Philip Mauro, que tinha sido futurista, teve razão ao afirmar que essa teoria...
"... tende a anular o interesse por esse livro maravilhoso, empurrando as suas profecias para muito longe de nós, fazendo que as suas revelações, transcendentemente importantes, pareçam destinar-se a uma outra dispensação que não a nossa, a dispensação chamada 'dos santos em tribulação', desligando-o, assim, do restante da Bíblia."
Mauro acrescenta:
"Há alguns anos, quando levantei essa questão em conversa com um futurista, ele sugeriu que não nos incomodássemos com os 'santos em tribulação' mencionados em um, apenas, dos 66 livros da Bíblia. Mas eu me incomodo, e muito, especialmente por estar firmemente persuadido de que os 'santos em tribulação' da escola futurista são de todo imaginários. Os verdadeiros 'santos em tribulação' somos nós, o povo de Deus desta dispensação (Jo 16:33, At 14:22)."
Seria de muito pequeno conforto, por certo, para os santos do tempo de João, muitos dos quais, como ele próprio, sofrendo sob o imperador Domiciano, receber um livro que tratasse quase que exclusivamente de homens que viriam a existir milênios mais tarde.

3 - O "Compreensivista" - O que adota este ponto de vista afirma que o Livro não trata de um período limitado do reino de Cristo no seu início (conforme diz o preterista) ou no fim (como o futurista), mas abrange toda a história desse reino, desde o primeiro advento até a consumação.

Esse grupo engloba:


a) Escola Histórica da Igreja;

b) Continuidade Histórica;

c) Histórico do Reino.


O primeiro desses grupos considera o livro como apresentando as fases principais da história da Igreja. Esse ponto de vista surgiu nos primeiros séculos da era cristã. Os primeiros escritores a tratar do assunto eram futuristas apenas num ponto: achavam que as visões do Apocalipse estavam começando a se cumprir no tempo deles. Criam que as cousas previstas estavam sendo preparadas nos seus dias e não diziam respeito apenas ao fim. Lutero e os reformadores em geral pertenciam a essa escola e autores posteriores, como o Bispo Wordsworth (1807-1885), seguiram suas pisadas.

O segundo grupo difere do primeiro principalmente por interpretar o livro como História ininterrupta. Não existe, no seu entender, sobreposição de visões: os selos seguem um a outro em sequência cronológica. O sétimo selo abrange as sete trombetas; as trombetas seguem-se uma a outra no tempo e a sétima trombeta abrange as sete taças da ira. Assim, do primeiro selo à sétima taça a História decorre sem interrupção, do princípio ao fim da era cristã. Muitos dos que assim pensam acham que estamos nos dias da sétima taça e, portanto, perto da consumação.

O terceiro grupo é algumas vezes chamado de "simbólico" ou "espiritual" ou, ainda, de "Filosofia Histórica". Parece-nos preferível classificá-lo como a Escola do "Histórico do Reino", que não considera o Apocalipse como um relato contínuo, ininterrupto, da História da Igreja, nem mesmo, num sentido mais estrito, como um sumário dessa História. Toma, porém, o Livro como...

"... tratando do reino de Deus, em toda a sua extensão, do começo ao fim, com o seu desenvolvimento até o grande clímax: a segunda vinda de Cristo." (Dr. Stonehouse).
Esses três pontos de vista, dentro do "Compreensivismo" têm em comum o fato de considerar o Livro como abrangendo toda a história do reino de Cristo. Em seu favor, deve-se dizer que estão de acordo com o restante do Novo Testamento. O Novo Testamento tem uma perspectiva escatológica: traz-nos sempre à mente a vinda do Senhor como a gloriosa esperança. Mas coloca, igualmente, tremenda ênfase no fato estupendo da encarnação do Senhor e na profunda significação de Sua morte, ressurreição e ascensão. Esses eventos foram tão importantes, tão decisivos, que deram início aos "últimos tempos" (Hb 1:1; 9:26, 1ª João 2:18, 1ª Co 10:11) e através deles o povo de Cristo já está de posse da vida eterna e, mesmo agora, já assentado nos lugares celestiais (Ef 2:6).
Em Mt 28:18-20 temos um testemunho claro do valor decisivo da morte e da ressurreição do Senhor. Aí Ele afirmou ter sido investido de autoridade universal, entregou aos discípulos o grande encargo de levar a Sua mensagem a todo o mundo, e prometeu-lhes Sua contínua companhia até a consumação dos séculos. Em 1ª Coríntios 15, também, somos levados à contemplação do reino de Deus consumado (por ex., nos versículos 50-55), porém aí se dá forte ênfase aos fatos de Cristo já estar reinando e abolindo todo império, e potestade, e força, e deve reinar até serem vencidos todos os Seus inimigos, o último dos quais é a morte, que há de ser "tragada na vitória", por ocasião da ressurreição dos santos (vs. 24-26, 54).

É natural encontrar-se no Apocalipse essa mesma ênfase dos outros livros do Novo Testamento - ênfase não apenas no grande acontecimento final, mas também no estabelecimento e na preservação da Igreja antes de tal evento, e na contínua presença de Cristo com ela. É exatamente isso o que se dá.

A visão de Cristo exaltado, no primeiro capítulo, dá a tónica ou, pelo menos, a perspectiva de todo o livro. O Senhor está no meio dos castiçais e declara possuir as chaves da morte e do Inferno. Essa visão se relaciona intimamente às sete cartas dos capítulos 2 e 3 e simultaneamente constitui a introdução do livro todo. Isso se evidencia pelo fato dos principais elementos usados na descrição do Senhor, feita no capítulo 1, serem repetidos não apenas nos capítulos 2 e 3, mas igualmente no 19 (vs. 12, 15 e 21). O Senhor está, portanto, permeando toda a Sua Igreja e governa todas as coisas, tendo as chaves de todos os reinos.

No capítulo 1, vemos o reino de Cristo já presente nos tempos de João, pois o Seu povo pode dizer:

"E nos fez reis e sacerdotes." (v. 6)
João e seus companheiros crentes faziam parte desse reino (v. 9), cujo destino, sem dúvida, muito os preocupava. Sob um imperador que o perseguia, a própria existência desse reino estava ameaçada. A imensa extensão de sua história, cheia de grandes acontecimentos, é então exposta por João, visando a confortar. Recebe ele ordem para escrever sobre "coisas que estão acontecendo e as que depois destas hão de acontecer" (1:19), o que parece indicar que o livro abrange a história completa do reino de Cristo, até a consumação. Apresenta ele persistentemente a gloriosa esperança e o apoteótico fim, mas também é rico em ensinamentos relativos à atual luta do cristão. Incita-o a batalhar corajosamente e o conforta com o pensamento de uma redenção já obtida e do Cordeiro vitorioso já no meio do trono. Em outras palavras, o Apocalipse insiste na imensa importância do que Cristo vai fazer, mas anuncia também as transformações que ocorrerão, no que Ele já fez e continua fazendo.
Se o Livro trata de toda a história do reino de Cristo, não haverá qualquer interrupção nessa história? Parece particularmente claro que sim, no fim do capítulo 11. Nos capítulos 10 e 11, ao som da última das sete trombetas é proclamado que não haverá mais tempo - tudo está consumado e o segredo de Deus terminou, tendo sido recompensados os Seus servos e punidos os ímpios. Em seguida, o capítulo 12 nos leva de volta ao primeiro advento - o nascimento de Cristo e Sua ascensão aos céus. O Prof. Kromminga, um dos mais recentes advogados do ponto de vista da continuidade histórica, reconhece haver nessa passagem uma volta ao início da era cristã. Na realidade, há tantos casos de volta, de recapitulação, bem como de antecipação, e tantos episódios isolados, que consideramos incorreta a interpretação desse segundo grupo (História ininterrupta). É, de fato, impossível colocar os detalhes do Livro no panorama dos acontecimentos da História. A própria diversidade de interpretações entre os adeptos dessa escola testemunha isso. Seria até injusto para com os pobres e incultos que procuram estudar o Apocalipse que fosse correta tal forma de o interpretar. Poucos de nós conhecem bem a história desses dezenove séculos. Não cremos que haja Deus deixado a interpretação do Apocalipse depender do conhecimento da história da Igreja.
O que o Apocalipse apresenta é o grande drama do conflito entre Cristo e o Seu povo de um lado, e Satanás e seus seguidores do outro. Compreende o desenrolar de toda a história do reino de Cristo do princípio da era cristã ao grandioso clímax da segunda vinda.

continua...

terça-feira, 5 de outubro de 2010

CAPÍTULO XI - Novos céus e uma nova terra.

...continuação.

Importante: O texto a seguir é de autoria do Rev. William J. Grier (1868-19??).

A Carta aos Romanos.


Nos versículos 3 a 16 do segundo capítulo da epístola aos Romanos, lemos:
E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus?
Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento?
Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus;
O qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber:
A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção;
Mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniqüidade;
Tribulação e angústia sobre toda a alma do homem que faz o mal; primeiramente do judeu e também do grego;
Glória, porém, e honra e paz a qualquer que pratica o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego;
Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas.
Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados.
Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados.
Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei;
Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os;
No dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho.
Trata-se aqui, indiscutivelmente, do julgamento final. Mesmo a ressurreição dos justos está implícita, quando o apóstolo se refere aos que procuraram a imortalidade como a recebendo em "vida eterna". Nesta passagem, Paulo ensina que o julgamento dos justos e dos maus será simultâneo. "No dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens por meio de Jesus Cristo" duas coisas acontecerão: os que houverem procurado glória, honra e incorruptibilidade receberão vida eterna e aos que tiverem sido desobedientes sobrevirão indignação e angústia. Dr. David Brown diz:
"Essa passagem é singularmente decisiva. Observe-se a alternação dos justos para os ímpios e dos ímpios para os justos, na descrição de um mesmo dia de julgamento."
Diz o Bispo Waldegrave:
"Ela nos instrui, declarando clara e reiteradamente que, assim como haverá uma convocação simultânea de justos e injustos, haverá igualmente simultâneo julgamento, sem exceção de um só indivíduo, no Tribunal de Juízo para a eternidade."
Não fica bem aos pré-milenistas tomar "o dia" aqui mencionado como um período de mais de mil anos, com um julgamento no seu início e outro no fim, citando, como apoio, o texto "um dia é para o Senhor como mil anos". Conforme sugere o Bispo Waldegrave:
"Poderíamos, com igual propriedade, sustentar que o resto do texto 'e mil anos como um dia' dá a interpretação correta do 'milênio' de Apocalipse 20. Paulo, em Romanos 2, e o seu Mestre, em Mateus 25, declaram, coincidentemente, o julgamento simultâneo de toda a humanidade. O apóstolo descreve um só evento, perfeitamente unificado, no qual são decididos os destinos de todos - para sempre."
A 1ª Epístola de Pedro.

No primeiro capítulo desta carta, lemos que o povo escolhido de Deus tem uma "viva esperança" de "uma herança incorruptível, incontaminável e que não pode murchar, guardada nos céus" para ele (1ª Pedro 1:3,4). A herança milenária, a cujo respeito muitos são tão entusiastas, não deixa de ser mesclada com o mal - uma parcela bem considerável de mal, que se manifesta, ao fim do período, em uma multidão de rebeldes cheios de perversidade infernal. Essa herança do milênio é terrena e de duração limitada. Mas a herança para a qual Pedro chama a atenção do crente não apresenta qualquer defeito; coisa alguma a macula. Sua felicidade é eterna e "no céu". Não é de admirar que Pedro exorte os crentes a colocar sua esperança, inteiramente, na graça que lhes estava sendo trazida "na revelação de Jesus Cristo" (1ª Pedro 1:13), pois que, quando Cristo aparecer, toda a Igreja resgatada será levada para estar para sempre com o Senhor, nas mansões celestiais, às quais não terão acesso o mundo, a carne, ou satanás.

A 2ª Epístola de Pedro
.

No capítulo 3 desta epístola, o apóstolo se dispõe a fazer lembrar a seus leitores verdades já bem conhecidas. Isso faz porque surgiriam escarnecedores, que zombariam da doutrina da volta de Cristo, dizendo: "Onde está a promessa de sua vinda?" Esses escarnecedores imaginariam que o mundo continuaria sempre como foi no passado. Mas Pedro assegura o contrário.
"Mas os céus e a terra que agora existem pela mesma palavra se reservam como tesouro, e se guardam para o fogo, até o dia do juízo, e da perdição dos homens ímpios.
Mas, amados, não ignoreis uma coisa, que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia.
O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se.
Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão.
Havendo, pois, de perecer todas estas coisas, que pessoas vos convém ser em santo trato, e piedade,
Aguardando, e apressando-vos para a vinda do dia de Deus, em que os céus, em fogo se desfarão, e os elementos, ardendo, se fundirão?
Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça.
Por isso, amados, aguardando estas coisas, procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz." (2ª Pedro 3:7-14).
Destaquemos alguns pontos nesta passagem:

1) Pedro não está ensinando coisa nova, pois expressamente diz estar repetindo verdades bem conhecidas, ensinadas por profetas e apóstolos. Usa a mesma figura empregada pelo Senhor Jesus e por Paulo, quando compara a vinda do Senhor à de um "ladrão" (ver 2ª Pedro 3:10, Mateus 24:42-44 e 1ª Ts 5:2).

2) O "dia do Senhor" e a vinda do Senhor são uma e a mesma cousa. Observemos a conexão. Escarnecedores dirão:
"Onde está a promessa da Sua vinda?"
A isso Pedro responde:
"O Senhor não retarda a sua promessa... O dia do Senhor virá."
E acrescenta:
"nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra."
Os escarnecedores podem zombar da "promessa de sua vinda", mas Pedro nos assevera, por duas vezes, que aquela promessa há de ser cumprida, com absoluta certeza, na vinda do dia do Senhor, que trará novos céus e uma nova terra. Notemos ainda: o Senhor referiu-se a Sua vinda comparando-a com à de um ladrão. Pedro fala do "dia do Senhor" comparando-o à vinda de um ladrão. Essa é uma nova indicação de que "a vinda" e "o dia do Senhor" são um mesmo acontecimento.

3) Por ocasião da "vinda" ou "dia do Senhor" haverá uma grande conflagração. Uma palavra grega muito forte é empregada com referência ao desaparecer dos céus e da terra - uma palavra que indica um incêndio total. Haverá grandes transformações cataclísmicas, quando o Senhor vier. Surgirão um novo céu e uma nova terra, sendo que o primeiro céu e a primeira terra terão desaparecido. Aquele que está assentado no trono dirá:
"Vede, faço novas todas as coisas."
Isso não se coaduna com a doutrina pré-milenista de que Jesus virá para reinar em Jerusalém sobre um mundo muito parecido com o atual. Pelo que se lê em 2ª Pedro, não haverá "velho mundo" após a Sua vinda. E certamente o coração cristão se delicia em pensar que não é sobre o mesmo mundo pecador que O rejeitou que Ele virá reinar, porém sobre um mundo novo.

4) Essa destruição do céu e da terra será inesperada - "O dia do Senhor virá como um ladrão à noite, quando os céus desaparecerão e a terra será queimada." O falecido Rev. James Hunter, M.A., citando esse texto, deu uma forte resposta aos pré-milenistas que "dizem ser a Bíblia para eles infalivelmente verdadeira e, apesar disso, afirmam, com os cientistas ateus, que a terra durará ainda centenas de anos - mais de mil anos." Se tivessem razão, a dissolução da terra estaria ainda muito longe e não poderia sobrevir inesperadamente.

5) A vinda de Cristo surgirão um novo céu e uma nova terra em que haverá perfeição absoluta (2ª Pedro 3:13). O Rev. James Hunter, certa vez, disse:
"Tem-se a impressão de que o diabo deve ter rasgado o terceiro capítulo da segunda carta de Pedro da Bíblia de alguns cristãos atuais."
Ele estava pensando nas idéias estranhas a respeito de um reino terreno, após a vinda de Cristo, um reino formado, em grande parte, por homens e mulheres não regenerados, deixados para esse fim; um povo que um comentador pré-milenista (Walter Scott) admite estar "em condições - para dizer o mínimo - imperfeitas." Hunter continuou, afirmando que Cristo, quando vier, não terá de se preocupar com o suprir de pessoas o novo mundo. Estarão à mão: os seus próprios redimidos.
"Impiedade", disse Hunter, "não existirá naquele mundo... tendo sido removidos a maldição e o pecado que a ocasionou, nada haverá a ferir ou destruir na santa montanha de Deus."
No novo céu e na nova terra, diz Pedro, "habita a justiça." Em Romanos 8:21, somos informados de que a "criatura mesma (a própria criação) será redimida da servidão da corrupção para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus." Paulo prossegue, dizendo que não apenas a criação, mas "nós mesmos gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção de nossos corpos." Toda a natureza, agora gemendo sob a maldição pronunciada quando se deu a queda, aguarda uma libertação e renovação correspondentes à libertação dos redimidos. Essa libertação não pode ser o milênio, uma vez que o pecado permanecerá durante ele, embora contido pelo governo de Cristo. É à "gloriosa liberdade (literalmente, à liberdade da glória) dos filhos de Deus" que a criação deseja ardentemente ser admitida. Essa liberdade gloriosa, experimentada quando da redenção ou ressurreição do corpo, é um estado de perfeição absoluta. Podemos ver que Paulo (Rm 8:21,23) e Pedro (em sua segunda carta) se referem à mesma grande transformação ou ao "fogo" de que emergirão novos céus e uma nova terra, apropriados para serem a morada dos santos glorificados.

6) Pedro concita os crentes - em vista da inevitável dissolução do céu e da terra, quando Cristo vier - a que aguardem e apressem "a vinda do dia de Deus, quando os céus em fogo se desfarão e os elementos, ardendo, se fundirão." O dia do Senhor e o dia de Deus são manifestamente o mesmo, pois o que deverá acontecer em um é citado como acontecendo também no outro (2ª Pedro 3:10 e 12). Para o grande evento de que Pedro fala, os cristãos devem estar em constante preparo, santificando-se enquanto o aguardam. Será um grande dia para eles.

7) Evidentemente, será um dia temível, de juízo e perdição para os ímpios (v. 7). Vindo com o imprevisto de um ladrão, os alcançará desapercebidos. Ressalta dos versículos 7, 10-12 que o dia da "destruição" dos céus e da terra pelo fogo é o mesmo "dia de julgamento e perdição dos ímpios" e o dia feliz que os cristãos devem esperar com alegria. Essa passagem (2ª Pedro 3) não deixa lugar para um milênio em que, após a segunda vinda, pessoas não salvas passarão a viver, participando de algo da sua bem-aventurança. Não existirá qualquer mal, ainda que um mal controlado, em todo o vasto domínio dos santos de Deus, ressurretos e glorificados. Eles herdarão, afirma Pedro, um novo céu e uma nova terra onde só habita a justiça. Vamos passar, agora, ao livro do Apocalipse. Recordemos, no entanto, o ensino dos Evangelhos, do Livro de Atos e das Epístolas. Verificamos que nenhum deles, em passagem alguma, ensina que a segunda vinda dará lugar a um reino provisório onde as glórias dos santos ressurretos, com seus corpos glorificados, serão partilhadas com pecadores. O testemunho unânime do Senhor Jesus e Seus apóstolos é que a segunda vinda trará perdição total aos ímpios e felicidade eterna aos crentes e desse estado eterno de bem-aventurança o pecado estará completamente e para sempre excluído. Dr. Robert Strong, de cujos artigos no "The Presbyterian Guardian" recebemos muitas sugestões sobre o assunto, resume o ensino do Novo Testamento no tocante à segunda vinda da seguinte forma:
"O Senhor volta a um mundo que ainda é hostil ao seu Evangelho e ao Seu domínio. Ressuscita os corpos dos santos mortos e os traslada, bem como os Seus santos que ainda vivem, para permanecerem com Ele. Destrói o Anticristo e seus seguidores rebeldes em uma catástrofe de fogo que consome também o mundo. Estabelece o trono do Seu julgamento e convoca perante ele homens e anjos. Então, os que tiverem sido justificados serão absolvidos publicamente e aclamados como Seu povo e os homens ímpios e anjos rebeldes serão com justiça destinados à perdição eterna. Cria novos céus e uma nova terra a fim de serem a habitação da justiça para sempre. Considerando que nós, os que cremos, aguardamos tais acontecimentos, devemos nos esforçar diligentemente para sermos encontrados em paz, sem mácula e inculpáveis à Sua vista. Que outros sejam despertados para buscar o Senhor enquanto se pode achar!"
continua...

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...