quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Isaías 65:17-25... uma pedra no sapato do pré e pós-milenismo.

Importante: Dr. Kim Riddlebarger é pastor sênior na Igreja Reformada de Cristo e professor temporário de teologia sistemática no Seminário de Westminster, Califórnia.

Terry J. pergunta:

Uma passagem difícil para interpretar a partir de qualquer ponto de vista escatológico é Isaías 65:17-25 – em especial o versículo 20. Qual a sua opinião sobre o significado dessa passagem?

Wayne Rohde pergunta:

Fiquei contente ao ver a pergunta de Terry: “Isaías 65:17-25, particularmente o v. 20”.
Eu continuo convencido de que a posição amilenista facilmente faz mais justiça sobre todo o conselho de Deus. Parece-me que é quase certo que há uma avalanche de problemas com as posições pré-milenista (e pós-milenista), bem como uma avalanche comparável de passagens apoiando o amilenismo. Além disso, independentemente do sentido de Isaías 65:20 (e paralelos), não vejo nada nestes versos que corresponde ao que está acontecendo em Apocalipse 20:1-10. Assim como a passagem de Isaías não diz nada sobre um milênio, também Ap. 20 nada diz sobre abundância de recursos, belas casas, etc.
Mas o significado preciso dessa passagem me escapa, em termos de qual é a melhor maneira de entender a mensagem de Isaías. É Isaías 65 a mistura da era atual com a eternidade? Ou ele simplesmente está falando de forma figurada, a fim de empregar a linguagem de uma maneira que acentua a gloriosa condição dos novos céus e nova terra? Eu ansiosamente aguardo sua resposta!

Resposta do Dr. Kim Riddlebarger:

De acordo com os dispensacionalistas, Isaías está se referindo a uma era milenial na terra durante os mil anos do reinado de Cristo depois do Seu retorno (conferir J. Dwight Pentecost, Things to Come, 487-490). Por razões que em breve vamos explorar, este não pode ser o caso.
De acordo com os pós-milenistas, esta passagem se refere aos últimos dias de glória da Igreja na terra. John Jefferson Davis escreve:
“As bênçãos da Igreja nos últimos dias de glória de que Isaías 11:6-9 fala são reiteradas em Isaías 65:17-25. Este é o período - intensificado de bênção espiritual produzindo certas condições no mundo - que é denominado ‘novos céus e nova terra’ (v. 17). Refere-se à dramática renovação moral da sociedade antes do estado eterno, visto que Isaías fala de um tempo quando crianças ainda estão nascendo (v. 20), quando pessoas ainda estão construindo casas e plantando vinhas (v. 21) e se engajando em seus trabalhos seculares. Paulo usa uma linguagem similar quando diz que a salvação em Cristo é como uma ‘nova criação’ (2ª Cor. 5:17), ou ainda em Gálatas 6:15, ‘... nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura.’ As condições de saúde e paz temporal da qual Isaías 65 fala não são a essência do evangelho, mas elas são propriamente as conseqüências do evangelho quando o seu impacto no mundo é intensivo e extensivo. A mensagem de reconciliação com Deus também produz como fruto a reconciliação entre os homens e até mesmo com a ordem natural das coisas. Também deveria ser notado que Isaías 65:17-25 não faz qualquer referência à presença física do Messias na terra. Nos últimos dias, Deus deseja criar em Jerusalém (a Igreja) um regozijo (v. 18). Mas a realidade dos versos 18-25 não se referem exclusivamente ao estado eterno, nem ao tempo após o segundo advento, mas sim à era Messiânica quando Cristo ainda governará no céu ao lado direito do Pai.” (conferir John Jefferson Davis, The Victory of Christ’s Kingdom: An Introduction to Postmillennialism [Canon Press], 37-38).
Por quatro razões importantes, eu acho que ambas as interpretações (pré e pós-milenista) são falhas.
Primeiro, como Motyer assinala, Isaías 65:1/66:24 é um quiasmo [1], em termos de sua estrutura. Isso simplesmente significa que a lógica da passagem flui da abertura do versículo (Isaías 65:1-A1) e os versos finais (66:18-21-A2) – ambos lidando com aqueles que não ouviram nem buscaram ao Senhor – em direção ao centro do quiasmo, ou seja, A1 (65:1), B1 (v. 2-7), C1 (v. 8-10), D1 (v. 11-12), E (v. 13-25), D2 (66:1-4), C2 (v. 5-14), B2 (v. 15-17), A2 (v. 18-21). Neste caso, Isaías 65:13-25-E é o centro do quiasmo, e é, portanto, o tema central de toda a profecia e fala da alegria dos servos do Senhor na nova criação. Isto significa que a verdade central (ou ponto alto) desta profecia inteira é encontrada no centro desse quiasmo, não no fim (v. 66:22-24), que fala de Jerusalém como o centro do mundo. (ver J. Alec Motyer, The Prophecy of Isaiah: An Introduction & Commentary [IVP], 522-523).
O ponto é este. A parte fundamental de toda a passagem é a seção em questão (v. 17-25) que trata da nova criação comparando-a com Sião. As seções A1-D1 e A2-D2 devem ser cumpridas antes que a realidade esperada (E) venha a acontecer. Dada a estrutura da profecia como um todo, o clímax da passagem é o estado eterno (os novos céus e nova terra), não uma terra redimida incompleta em que as pessoas experimentam uma vida prolongada apenas para morrer mais tarde.
Segundo, os versículos 17-20 de Isaías 65 são compostos de dois poemas. O primeiro é um poema da nova criação (v. 17-18b), o segundo é um poema sobre a cidade e seu povo (v. 18c-20). Como Motyer nos diz:
“Toda esta passagem de Isaías usa os aspectos da vida presente para criar impressões da vida que ainda está para vir. Será uma vida de total provisão (v. 13), total felicidade (19cd), total segurança (v. 22-23) e totalmente de paz (v. 24-25). Coisas que nós não temos uma capacidade real para entender só podem ser expressas através de coisas que sabemos e experimentamos. Assim é que, na presente ordem das coisas a morte eliminou a vida antes que esta começasse, ou antes que estivesse totalmente amadurecida. Mas isso não será assim depois” (Motyer, The Prophecy os Isaiah, 530).
Em outras palavras, as metáforas são usadas para coisas que nós não podemos, nem Isaías pôde compreender completamente. A estrutura poética certamente aponta nessa direção.
Terceiro, como Meredith Kline assevera, a linguagem aqui reflete as bênçãos da aliança agora ampliadas à luz dos novos céus e nova terra. Essas bênçãos nos levam muito além da ordem natural, mas só podem ser entendidas à luz da ordem natural (Kline, Kingdom Prologue, 152-153).
Quarto, por acaso Isaías está nos dizendo que, como resultado da propagação do evangelho (“renovação moral”, conforme Jefferson) as pessoas viverão mais somente para morrer? Onde é que o evangelho promete vida longa? Ele promete vida eterna! De fato, não é toda a questão da profecia claramente especificada no verso 17?
“...eis que eu crio novos céus e nova terra...”
Este é um momento posterior aos eventos de Apocalipse 20:1-10, que descreve a ligação de Satanás com o reino dos santos no céu depois de sofrerem na terra, unicamente para terminar em uma grande apostasia antes do julgamento final. Ambos, pré e pós-milenismo, atribuem essa profecia ao mesmo período de tempo de Apocalipse 20. Mas, dada a estrutura quiástica e o uso de metáforas, não é muito melhor ver Isaías 65:17-25 como descrevendo o mesmo período de tempo de Apocalipse 21, que é claramente o estado eterno? Eu certamente acho que sim.

[1] Definição de quiasmo: Figura composta de uma dupla antítese cujos termos se cruzam. Ex: É preciso comer para viver e não viver para comer.

Traduzido por MAC.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Isaías 65:17-25... pedra no sapato de quem? - Parte 4 (Conclusão)

...continuação.

IMPORTANTE
: O texto a seguir é de autoria de David J. Engelsma. Pastor reformado e professor de Antigo Testamento no Protestant Reformed Seminary.


Um cumprimento espiritual de Isaías 65:17-25. (Conclusão)


O sonho pós-milenista de um mundo “cristianizado” na história repousa finalmente na profecia do A.T. de uma vinda gloriosa do reino de Cristo (ver editorial, “Those Glorious Prospects in Old Testament Prophecy”, 1 de agosto de 1996 Standard Bearer).
A profecia do A.T. que, mais do que qualquer outra, supostamente prova o pós-milenismo e refuta o amilenismo é Isaías 65:17-25:
“Porque, eis que eu crio novos céus e nova terra... porque eis que crio para Jerusalém uma alegria, e para o seu povo gozo... Não haverá mais nela criança de poucos dias, nem velho que não cumpra os seus dias; porque o menino morrerá de cem anos; porém o pecador de cem anos será amaldiçoado... O lobo e o cordeiro se apascentarão juntos, e o leão comerá palha como o boi... Não farão mal nem dano algum em todo o meu santo monte, diz o SENHOR.”
O pós-milenismo, que não pode encontrar apoio no N.T. para um ensino maciço da apostasia e perseguição da Igreja nos últimos dias, apela para a profecia do A.T. na medida em que insiste em interpretar essa profecia literalmente. Interpretando Isaías 65 dessa forma, haverá um cumprimento terreno da profecia: um reino terreno de Cristo com prazeres carnais, especialmente longos anos de vida (ver editorial, “A Spiritual Interpretation of Isaiah 65:17-25”, 15 de setembro de 1996 SB; para uma interpretação pós-milenista dessa passagem, ver editorial de 1 de agosto de 1996 SB, p.439, 440).
Nos editoriais de 15 de setembro e 1 de outubro de 1996, edições da SB, eu demonstrei que não existe e nem pode haver uma interpretação literal de Isaías 65. A profecia deve ser interpretada espiritualmente e tem, portanto, uma realização espiritual.
Qual é a interpretação espiritual e o cumprimento de Isaías 65:17-25?
Compreensivelmente, Isaías 65:17-25 profetiza a totalidade da obra redentora de Deus em Jesus Cristo. Como de costume entre os profetas, Isaías vê esta obra como um grande evento, da mesma forma como se vê as montanhas distantes em grande escala. Estão incluídos igualmente a perfeição da salvação (e do reino Messiânico) no Dia de Cristo e o início da salvação (e do reino Messiânico) em toda a era presente entre o Pentecostes e a última vinda de Cristo. Tudo na salvação, é claro, tem sua base na morte e ressurreição de Jesus pelos eleitos de Deus.
Que este é, de fato, o conteúdo da profecia de Isaías é provado pelo comentário do N.T. sobre essa passagem. Em 2ª Pedro 3:13, o Apóstolo aplica a profecia de Isaías 65:17 à obra de Deus em Jesus Cristo no dia da Sua segunda vinda. No contexto do ensinamento que a presente criação será destruída pelo fogo, Pedro diz:
“Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça.”
O Apóstolo Paulo, porém, nos ensina que há também um cumprimento da profecia em toda a presente era. Em 2ª Coríntios 5:17, ele nos diz que:
“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.”
A explicação oficial da profecia do N.T. é que a obra salvadora de Deus em Cristo será uma renovação da criação para o benefício da Igreja (os “eleitos” de Isaías 65:22), na segunda vinda de Jesus, e essa renovação tem início agora na regeneração de cada eleito em particular.
Não há nada no N.T. que reflita sobre alguma profecia ou revele alguma dica a respeito de um reino terrestre na história consistindo em benefícios materiais, domínio físico e um mundo de paz.
Especificamente, Isaías 65:17-25 é a profecia do novo mundo com novos céus e terra que Jesus Cristo vai criar na Sua segunda vinda. Este é o claro ensino de Isaías 65:17:
“Porque, eis que eu crio novos céus e nova terra;”
Éssa é a explicação do Novo Testamento, tanto em 2ª Pedro 3:13, já citado, quanto em Apocalipse 21:1:
“E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe.”
Quando o Senhor Jesus vier novamente com seu corpo glorificado no final da história, Ele vai destruir a atual forma da criação, a fim de recriar os céus e a terra – que Deus havia feito no começo – em sua nova, definitiva e gloriosa forma. A criação vai participar na gloriosa liberdade dos filhos de Deus (Romanos 8:19-22).
Este novo mundo será a morada da nova raça humana em Cristo, da Igreja eleita de todas as nações, dos crentes e seus filhos (Isaías 65:22,23). A nova criação vai ser como uma casa para os santos porque Deus vai morar com eles na pessoa de Jesus Cristo na comunhão da aliança eterna. O novo mundo que virá será o “meu (de Deus) santo monte” (Isaías 65:25).
Não haverá problemas nem tristeza, absolutamente, nem mesmo uma lágrima sequer (Isaías 65:19). Apocalipse 21:4, a luz do Novo Testamento sobre a profecia, informa-nos que a razão é que não haverá morte no novo mundo. Cristo, o poderoso rei Messiânico, terá destruído o último inimigo por nós (2ª Coríntios 15:26).
Como é típico da profecia do Antigo Testamento, o profeta anunciou a vinda deste mundo imortal em linguagem figurada: longa vida terrena (v. 20). Nenhuma criança morrerá na infância; morrer aos cem anos seria como perecer jovem; todos os habitantes vão ter completado seus dias, etc. A realidade será sem morte! Vida eterna em corpo e alma ressuscitados, porque a vida do povo de Deus no novo mundo será a vida eterna do Cristo ressuscitado.
O Novo Testamento em vários lugares dá sua explicação sobre esta e outras profecias do Antigo Testamento que fazem o uso de figuras, como por exemplo, João 5:25,26. Apocalipse 21:4, a interpretação oficial do Novo Testamento de Isaías 65:20, coloca acima de qualquer suspeita que isto é o que Isaías significa:
“E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte...”
Os pecadores serão excluídos do novo mundo, eles perecerão eternamente sob a maldição de Deus no inferno (Isaías 65:20b; conferir Apocalipse 21:8).
A retirada da maldição do mundo amado de Deus com base na morte redentora de Cristo e pelo poder do Seu Espírito também afetará os animais. Haverá animais na nova criação, assim como na criação original de Gênesis 1 e 2. A redenção de Cristo será experimentada por eles para que possam viver em paz uns com os outros da mesma forma como acontecia no início da criação, antes da transgressão do primeiro e infiel “rei” (Gn 1:29-31). Não haverá morte no mundo animal e vegetal.
A completa ausência da morte no novo mundo será devido a perfeita purificação do pecado da criação. Pedro nos fala sobre isso:
“...em que habita a justiça.” (2ª Pedro 3:13)
Somente a justiça habitará lá. Não se achará nenhuma injustiça na nova criação. Todos os ímpios terão perecido sob o julgamento de Deus (v. 7).
Não é esta uma salvação maravilhosa?
Esta não seria uma grande esperança para os crentes e seus descendentes, perfeitamente capaz de sustentá-los e todas as suas presentes tribulações?
Não é este o senhorio e reino eterno de Jesus, o Messias Glorioso?
Sua vitória não será manifestada como incomparável? Todos os inimigos destruídos, inclusive a morte. Todo o povo de Deus perfeitamente liberto do sofrimento e da morte para a bem-aventurança da comunhão com o Deus trino ante a Sua face, Jesus, o Cristo. A criação será transformada em um novo mundo, cuja bondade e esplendor causarão o total esquecimento da antiga forma do mundo para sempre.
Todo esse cumprimento de Isaías 65:17-25 será espiritual. A profecia mantém diante de nós, assim como mantinha antes o verdadeiro israelita nos dias de Isaías, uma salvação espiritual; bênçãos espirituais; vida espiritual; e, de fato, um mundo espiritual. Pois o último Adão é espiritual, e nós esperamos viver uma vida espiritual em nossos corpos espirituais em uma criação espiritual (1ª Coríntios 15:42-54).
O segundo cumprimento específico de Isaías 65:17-25 é a vida espiritual em Cristo pela fé de cada filho regenerado de Deus no período entre o Pentecostes e a segunda vinda. Esta é a explicação oficial da profecia de Isaías pelo Apóstolo em 2ª Coríntios 5:17:
“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é.”
Ele – o cristão – é uma nova criatura “já”, o que está de acordo com o cumprimento da profecia de Isaías 65:17.
O novo mundo que está chegando com o Dia de Cristo já invade o mundo atual por meio do evangelho no poder do Espírito Santo. Ele penetra no coração de cada filho eleito de Deus. Isso faz dele uma nova criatura. Há em sua vida um começo da libertação do pecado, da tristeza e da morte; há um começo da alegria, da comunhão com Deus, da vida eterna, de Isaías 65:17-25. Tudo isso mostra-se em sua confissão de Cristo e comportamento. Isso traz sobre o cristão a perseguição daqueles que odeiam o Messias e se opõem ao Seu reino, os inimigos do novo mundo.
Este poderoso começo da nova criação na vida do cristão aqui e agora, não é, contudo, levar gradualmente o mundo atual ao ponto culminante do reino de Cristo. Os santos regenerados não realizarão a “era de outro” pós-milenista”.
Visto que nosso corpo físico atual se tornará, no futuro, o corpo espiritual pelo milagre da ressurreição no Dia de Cristo, assim também a presente e lamentável criação se tornará, no futuro, uma criação gloriosa e espiritual pelo milagre da recriação no Dia de Cristo.
“Eis”, diz o Senhor pelo profeta, “que eu crio novos céus e nova terra.”
O homem não pode realizar isto, nem mesmo aquele que for redimido.
Nem mesmo o pós-milenista.

Chegamos ao final da série de estudos sobre o texto de Isaías 65:17-25 pelo ponto de vista amilenista, por David David J. Engelsma.

Traduzido por MAC.

Veja também este artigo original em inglês: http://www.prca.org/articles/amillennialism.html#No11

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Isaías 65:17-25... pedra no sapato de quem? - Parte 3

...continuação.

IMPORTANTE: O texto a seguir é de autoria de David J. Engelsma. Pastor reformado e professor de Antigo Testamento no Protestant Reformed Seminary.

Um cumprimento espiritual da profecia de Isaías 65:17-25.

Interpretar literalmente as profecias do A.T. nos leva e vislumbrar um reino terreno de Cristo, e isso é feito pelos pós-milenistas.
Além disso, uma constante interpretação literal leva ao absurdo. Nem mesmo o mais ardente defensor e praticante de uma interpretação literal de Isaías 65:17-25 pode sustentá-la, como já foi demonstrado anteriormente.
Mas a profecia do A.T da vinda do reino Messiânico não pode ser interpretada dessa forma. Para que isso fosse possível, na melhor das hipóteses, deveríamos considerar tornarmo-nos pré-milenistas dispensacionalistas, focalizando a escatologia na restauração do Israel do A.T. com suas glórias terrenas e, na pior das hipóteses, como Hermam Bavink nos alertou, retornarmos ao judaísmo.
O N.T. nos instrui a interpretar a profecia do A.T. espiritualmente. Através das “figuras” terrenas familiares aos profetas e seus ouvintes, o Espírito Santo predisse as glórias espirituais de Jesus Cristo, Sua Igreja e Sua nova criação. Essas características terrenas – casas, vinhas frutíferas, o trabalho bem sucedido, dias livres de problemas e sem pranto, viver centenas de anos, Jerusalém – não são e nunca foram a realidade da profecia para o israelita espiritual daquela época. Ele ou ela – os israelitas – viam através dessas características e além delas melhores e superiores perspectivas.
“Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam.” (1ª Coríntios 2:9)
Sobre isso o que podemos entender? Casas, vinhas frutíferas, o trabalho bem sucedido, dias livres de problemas e sem pranto, viver centenas de anos e Jerusalém, são todas as coisas que os olhos viram e ouvidos ouviram, penetrando no coração do homem apenas para que pudesse imaginar. Por isso, essas não são as coisas que Deus preparou para os israelitas espirituais que o amavam.
Aquelas trivialidades terrenas, outrora usadas para representar o reino e a vida celestial, certamente não são a realidade das profecias do A.T. para nós, crentes do N.T., que já começamos a experimentar a vida, as riquezas e a glória do Cristo ressuscitado pelo dom e habitação do Espírito do Pentecostes.
Creio que o pós-milenista realmente não aprecia o absoluto desinteresse com o qual o amilenista trata o “esplêndido” reino terreno do pós-milenismo.
Suponha por um momento que os reconstrucionistas, pela persistência das igrejas e por seus próprios esforços heróicos, em aliança com cristãos de outras denominações, realizam este sonho. O mundo inteiro, incluindo todas as nações, será governado por cristãos e serão cumpridas as expectativas de Kik, Boettner, North, Chilton, Gentry, entre outros.
Porém, nós amilenistas não vamos pular de alegria. Por que deveríamos? Ora, ainda haverá morte neste mundo. Cedo ou tarde, ainda vamos ter que sentir a amarga angústia da separação da esposa amada, dos filhos, pais e amigos. Que diferença faz passar por essa tristeza depois de quinhentos anos, e não depois de cinqüenta anos? Na verdade, a dor depois de quinhentos anos deve ser pior que a dor após cinqüenta anos.
O pecado ainda existirá no reino pós-milenial. Todo dia nós teremos consciência da nossa miserável culpa e vergonha, que é o pior sofrimento de todos. Todo dia teremos que lutar interiormente contra o pecado que arrancará de nós o gemido: “Oh, miserável homem que sou”. Que diferença pode fazer Gary North sentado no trono do mundo e Kenneth Gentry Jr. no comando das rádios, televisão, filmes e internet?
Haverá hordas de ímpios neste reino pós-milenial e até mesmo o mais otimista pós-milenista tem que admitir isso, mas eles vão esconder essa informação. Exteriormente, eles estarão em conformidade com a lei de Deus, particularmente as regulamentações civis do A.T., seja pelo desejo egoísta de desfrutar da prosperidade material ou por medo de uma vingança por parte dos “cristãos” reconstrucionistas. Mas em seus corações eles vão odiar a Deus. Eles vão ser interiormente rebeldes contra Cristo. No final do milênio eles se levantarão contra o Senhor (Ap. 20:7-9).
Isto é uma ofensa ao amilenismo. Ora, Se houvesse ao menos um inimigo de Cristo no reino, isso O afligiria, pois haveria no reino messiânico um desprezo pelos mandamentos de Deus, pelo menos nos corações e mentes dos ímpios. E, como o saltério diz: “porque os teus estatutos são desprezados, com imensa tristeza e choro.
Não haverá visão alguma de Deus na face de Jesus Cristo neste reino pós-milenista, a não ser por um olhar deturpado.
Somente por estas razões, nós amilenistas não estaríamos entusiasmados com este reino reconstrucionista. Na verdade, estaríamos gemendo, como fazemos hoje, esperando pela redenção do nosso corpo (Rm 8:23). Nós estaríamos chorando noite e dia pela vingança divina de Cristo sobre seus inimigos (Lucas 18:1-8). Nós estaríamos orando com fervor: “Senhor, ponha um fim neste negócio pós-milenista o mais rápido possível, e venha depressa.”
O que é ainda mais angustiante para o amilenista é que este reino pós-milenial pretende ser a forma final e culminante do reino Messiânico. De acordo com os pós-milenistas em geral e os reconstrucionistas em particular, com o fim do milênio o reino de Cristo chega ao seu fim. Segundo eles, a eternidade que se segue não será o reino Messiânico, mas somente o reino vazio de Deus.
É isto o que eles pensam do reino de Cristo! Que este reinado terrestre por meio da igreja, cheio de pecado, morte, e os réprobos não regenerados que odeiam e amaldiçoam a Cristo de manhã, de tarde e de noite, é o clímax e a conclusão do reino do Senhor.
Eis aí uma triste derrota!
Se este é o reino Messiânico em toda a sua grandeza, então Cristo está destinado a ser apresentado publicamente como um nobre fracassado.
Os reconstrucionistas nunca se cansam de se referirem aos amilenistas como pessimistas. Eles não hesitam em acusar a igreja em toda a história de ser responsável pelo fracasso de implementar o reino milenial.
Ora, é sobre pessimismo que eles querem falar?
Pois bem. É o reino terrestre pós-milenista – com o pecado, a morte e os ímpios – o melhor que Cristo pode fazer como rei?
Para o amilenista, por ventura, Cristo é uma falha desculpável?
Eu não acredito nem por um momento. O amilenista tem ótimas defesas contra essa indecorosa noção pós-milenista.
O sonho pós-milenial não é o reino Messiânico, muito menos o ápice e o fim disto.
Tampouco seja isto a profecia de Isaías 65:17-25, como nós iremos ver.

continua...

Traduzido por MAC.

Veja também este artigo original em inglês: http://www.prca.org/articles/amillennialism.html#No10

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Isaías 65:17-25... pedra no sapato de quem? - Parte 2

...continuação.

IMPORTANTE: O texto a seguir é de autoria de David J. Engelsma. Pastor reformado e professor de Antigo Testamento no Protestant Reformed Seminary.

O pós-milenismo – no que diz respeito ao ensino das últimas coisas, sobretudo a vitória terrena da igreja e o início de uma era de ouro na história futura – embasa sua teoria na profecia do Antigo Testamento, mas, decisivamente, não na doutrina do Novo Testamento sobre os dias que conduzem à vinda de Cristo.
Segundo ele (o pós-milenismo), a profecia do A.T. prevê uma perspectiva gloriosa para Judá e Jerusalém. Uma dessas passagens é Isaías 65:17-25. Nela, Deus cria novos céus e nova terra (v. 17). Neste mundo novo, Jerusalém e os seus cidadãos se regozijarão (v 18). Não haverá quem morra jovem e os velhos pecadores serão amaldiçoados (v. 20). Os habitantes de Jerusalém viverão produtiva, rentável e pacificamente, livre da decepção, oposição e dificuldade. Construirão casas e viverão nelas, plantarão vinhas e comerão do seu fruto; viverão uma vida sem lágrimas (vs 19-23). Esta vai ser a alegria deste novo mundo em que até mesmo os animais vão viver em paz:
“O lobo e o cordeiro se apascentarão juntos...” (v. 25).
De acordo com o pós-milenista reconstrucionista Gary North, isso prova que, quanto mais a igreja trabalha de forma agressiva para “dominar” as nações e a cultura, tão logo haverá um longo período de vitória terrena, prosperidade e paz na terra para os santos antes da segunda vinda de Cristo. Este será o reino messiânico de Jesus em sua glória final. North comenta:
“A passagem de Isaías 65 profetiza o começo de uma nova era na terra antes do julgamento final (uma vez que o pecado ainda estará presente) em que haverá grandes bênçãos materiais, incluindo a possibilidade de viver por um longo tempo (Prefácio, em Kenneth L. Gentry Jr., He Shall Have Dominion, Institute for Christian Economics, 1992, p. xxvii, para uma explicação mais extensa dessa passagem, por North em agosto de 1996, p. 439, 440).
Para o pós-milenista, a passagem de Isaías 65 não é apenas uma das muitas profecias do Antigo Testamento que prevêem um futuro glorioso de poder terreno e de paz para a Igreja na história, mas é também a passagem que apóia a posição pós-milenista contra o amilenismo. Segundo North, é...
..."uma passagem mais do que qualquer outra na Bíblia, que refuta categoricamente o amilenismo" (He Shall Have Dominion, p. xxviii).
O erro de uma interpretação literal da profecia.

A interpretação pós-milenista da passagem é falha. O erro é evidente e grave. O deslize está em interpretar a profecia do A.T. de forma literal, de modo que o seu cumprimento passa a ser terreno, e não espiritual.
North livremente reconhece que sua interpretação da passagem em questão é literal. Ele se orgulha disso como se fosse uma virtude, e se empenha na luta contra a interpretação espiritual amilenista, tratando-a como uma falha. Ele diz:
“um pós-milenista pode interpretar essa passagem literalmente: uma era vindoura de vastas bênçãos no milênio antes do retorno de Jesus no julgamento final. O mesmo pode fazer um pré-milenista... mas o amilenista não pode admitir a possibilidade de que tal era seja literal, tanto quanto admitir uma cultura grandemente abençoada na história. Sua escatologia nega qualquer literalismo, assim como o triunfo do cristianismo. Portanto, ele tem que espiritualizar ou 'alegorizar' esta passagem (He Shall Have Dominion, p. xxviii).
Ora, comparar a interpretação espiritual da profecia do A.T. com “alegorização”, ou é ignorância, ou é malícia. Ambos são imperdoáveis para quem afirma ser um defensor da fé reformada. Mas o nosso interesse é atraído para essa alarmante admissão pós-milenista de uma interpretação literal da profecia do A.T.
Será que ele não sabe que essa insistência em uma interpretação literal das profecias do A.T. faz com que o pós-milenista reconstrucionista rompa com toda a tradição reformada? Comentando sobre essa passagem em discussão (Isaías 65:17-25), João Calvino escreveu:
“Agora os profetas esperam aquelas coisas relacionadas com a vida presente, e emprestam metáforas delas; mas isto é uma orientação ensinada por eles para subirmos mais alto e abraçar a abençoada vida eterna. Não devemos fixar nossa atenção em bênçãos passageiras, mas devemos fazer uso delas como uma escada, que, sendo elevada até o céu, podemos desfrutar de bênçãos eternas e imortais (Comentário sobre o livro do profeta Isaías, vol. 4, Eerdmans , 1956, p. 401).
Expressando, não uma particularidade reformada holandesa, mas o consenso protestante, o grande teólogo holandês e reformado Herman Bavinck escreveu:
“E este reino (do Messias) é esboçado pelos profetas em tons e cores, com figuras e formas, que foram todas derivadas das circunstâncias históricas em que viveram ... Mas naquelas sensíveis formas terrenas a profecia coloca um conteúdo eterno... Pinturas proféticas para nós, mas uma única imagem do futuro. Ou esta imagem deve ser tomada literalmente como ela se apresenta (causando uma ruptura com o cristianismo e levando a um enganoso retorno para o Judaísmo), ou ela exige uma interpretação muito diferente do que a tentada pelo chiliasmo (milenismo).”
Esta "muito diferente" e correta interpretação das profecias do Velho Testamento é, continua Bavinck, "simbólica" e "espiritual" (The Last Things, Baker, 1996, pp.90-98).
Gary North não sabe que a questão da interpretação literal ou espiritual da profecia do A.T. é o ponto básico entre o pré-milenismo dispensacionalista que contradiz a fé reformada – com sua teoria do "arrebatamento" – e a reformada teologia da aliança?
Os pós-milenistas não vêem que os Espírito de Cristo falando no N.T. nós dá uma simbólica e espiritual interpretação da profecia do A.T.? A “reconstrução” do tabernáculo de Davi não é cumprida na restauração do domínio terrestre exercido por sua linhagem real, mas na salvação espiritual dos gentios (comparar Amós 9:11 com Atos 15:16-19).
Ainda, Deus os chama de “meu povo”. A expressão “que não era Meu povo” não é referência ao Israel terrestre como o literalista espera, mas a igreja espiritual formada por judeus e gentios (comparar Oséias 1 e 2 com Romanos 9:24-26).
O novo templo de Ezequiel não é uma construção física que ainda será erguida na cidade de Jerusalém, mas o corpo espiritual de Jesus Cristo (comparar Ezequiel 40-48 com João 2:18-22 e I Pedro . 2:1-10).
Bavinck, de maneira não muito severa, disse que, interpretar literalmente as profecias do A.T. é o mesmo que...
...“romper com o cristianismo e retornar ao judaísmo.”
O reconstrucionista com sua declarada interpretação literalista da profecia do A.T., sua imposição das leis civis – que regulavam a nação de Israel – aos cristãos do N.T. (se não para os dias atuais, então com a vinda do milênio), e sua vontade de impor cerimônias, como as leis dietéticas dos judeus e os trajes dos sacerdotes judeus sobre a igreja da nova dispensação, sucumbiu a este perigo mortal.
Comumente o pós-milenismo flerta com esta terrível heresia por causa da sua identificação do reino messiânico com um reino terreno de domínio físico, prosperidade material e paz mundial. Esta foi, e é, a esperança dos judeus (cf. João 6). O motivo é uma interpretação literal das profecias do A.T.

A impossibilidade de uma interpretação literal.

Seja qual for o significado de Isaías 65:17-25, ela não é uma profecia de melhoria da presente forma da criação, como por exemplo, melhores casas, campos e condições de trabalho, extensão da vida física em centenas de anos e diminuição dos problemas do mundo.
O cumprimento de Isaías 65:17-25 não é terreno.
A profecia não pode ser interpretada literalmente. O N.T. ensina que toda profecia é cumprida espiritualmente em Jesus Cristo. Seu evangelho e Sua Igreja não ensinam este literalismo.
Decididamente a passagem de Isaías 65 não pode ser interpretada literalmente, e Gary North erra ao fazê-lo. Caso contrário, significa que a Jerusalém literal e terrena do A.T. juntamente com os judeus, vão ser o principal deleite de Deus na vinda do reino messiânico (v. 18).
Interpretada literalmente, a passagem ensina que em nenhum lugar alguém irá chorar na “era de ouro”: não chorará a mãe que dá a luz, a criança que é castigada pelo pai, o pecador arrependido, pessoas no velório de um ente querido, etc. Porque:
“...nunca mais se ouvirá nela voz de choro nem voz de clamor.” (v. 19).
Além disso, uma interpretação literal exige que antes da segunda vinda de Cristo, antes da renovação radical de todas as coisas, o lobo feroz será amigável com o cordeiro e que os leões pastarão (v. 25).
Assim, os reconstrucionistas são muito otimistas, como eles mesmos costumam dizer. Mas mesmo o mais otimista deles realmente espera que esta mudança radical no mundo animal antes da segunda vinda de Cristo aconteça? As rãs deixarão de comer insetos? Aranhas não apanharão mais as moscas? Visto que os cordeiros estarão a salvo dos lobos e os bois dos leões, eles também irão estar a salvo dos cristãos? Vamos todos nos tornar vegetarianos no milênio? Pois isso é exigido por uma interpretação literal.
North, Gentry, e seus companheiros não podem explicar literalmente as gloriosas palavras da abertura desta importante profecia:
“Porque, eis que eu crio novos céus e nova terra” (v. 17).
Interpretar literalmente, como diz North, não é falar vagamente de uma...
...“transformação fundamental da forma como funciona atualmente o nosso mundo”.
Mas Isaías não profetiza isso. Ele profetizou um “novo” mundo. Essa será a novidade, disse o profeta, que será radicalmente diferente do mundo atual. Será um novo mundo distinto do mundo “antigo”.
Este mundo novo não surgirá por uma transformação gradual, muito menos por uma transformação “advinda de uma mudança ética de uma grande parcela da humanidade”, como explica North. Em linguagem simples, o novo mundo de Isaías 65 não virá a existir pelos esforços da Igreja em dominar a cultura, nem como resultado da obediência dos homens à lei.
Mas Deus “criará” um novo mundo. A palavra em hebraico é bârâ’, que descreve a ação exclusivamente divina de chamar à existência as coisas que não são como se fossem. Por um milagre do poder, sabedoria e bondade de Deus, comparável e superando a maravilha da criação original dos céus e da terra, um novo mundo irá substituir o antigo. Esta maravilha será um ato de pura graça, não algo que os santos mereçam por manter a lei.
A interpretação de North não faz justiça ao claro sentido do pensamento principal desta importante profecia, e explicá-la literalmente muito menos.
Isaías 65:17-25 não fala sobre o mundo atual, Jerusalém, judeus, vida longa e livre de problemas, belas casas, boas fazendas, abundância de recursos, momentos felizes e lobos mansos.
Trata-se de Jesus Cristo, Sua Igreja, salvação, vida eterna e um novo e diferente mundo.
Trata-se do Cristo espiritual, de um povo espiritual, da salvação espiritual, bênçãos espirituais, vida espiritual e um mundo espiritual.
Se a profecia não é sobre isso, então os judeus podem ficar com ela.
O cristão não está interessado.

continua...

Traduzido por MAC.

Veja também este artigo original em inglês: http://www.prca.org/articles/amillennialism.html#No9

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Isaías 65:17-25... pedra no sapato de quem? - Parte 1

IMPORTANTE: O texto a seguir é de autoria de David J. Engelsma. Pastor reformado e professor de Antigo Testamento no Protestant Reformed Seminary.

Um texto crucial.


Podemos tomar Isaías 65:17-25 como representante de todas as profecias do Antigo
Testamento em que o pós-milenismo fundamenta sua esperança. Esta é a passagem que começa com a promessa do Deus Jeová de criar "novos céus e nova terra" (v. 17). O versículo 20 declara que, neste novo mundo:
"Não haverá mais nela criança de poucos dias, nem velho que não cumpra os seus dias; porque o menino morrerá de cem anos; porém o pecador de cem anos será amaldiçoado."
Os versículos 21-23 profetizam um futuro pacífico, próspero e proveitoso para os eleitos e os seus descendentes. A passagem termina estendendo a paz da nova criação para o mundo animal:
"O lobo e o cordeiro se apascentarão juntos, e o leão comerá palha como o boi...."
Eu escolhi esta passagem intencionalmente. Os pós-milenistas recorrem a este texto como sendo o mais forte apoio de sua doutrina de uma vindoura era de ouro, e como a mais clara refutação do amilenismo. O argumento é que a passagem prediz uma criação renovada em que ainda haverá a morte e o pecado. No mundo dos novos céus e nova terra, uma criança morrerá com cem anos e os pecadores serão amaldiçoados. Logo, eles dizem, esse não pode ser o caso da nova criação depois da volta de Jesus, mas que é a verdade referente a era de ouro do pós-milenismo.
O pós-milenista e reconstrucionista Gary North assegura a seus leitores que:

"Esta detalhada e, obviamente, literal profecia, acima de todas as outras passagens da Bíblia, resulta em grandes problemas para os amilenistas, que negam a vinda de qualquer período literal de bênçãos em todo o mundo" (Unconditional Surrender: God's Program for Victory, Institute for Christian Economics, 1988, p. 145).
Kenneth L. Gentry Jr. chama Isaías 65 de:
"a principal passagem estabelecendo a concepção espiritual da mudança operada por Cristo na história."
O leitor desavisado não deve ser enganado pelas palavras “a concepção espiritual". Gentry não tem em mente as bênçãos espirituais como significando o perdão dos pecados. Gentry entende Isaías 65 como sendo um promissor...
... "período sem precedentes, literal (leia-se: física, carnal) de bênçãos para a humanidade antes da ressurreição".
Com um curioso desprezo pelo programa escatológico que ele mesmo sugere, Gentry diz que Isaías 65...
... "não representa qualquer problema para o pós-milenista, nem para o pré-milenista".
Ora, ambos (pós e pré-milenismo) esperam e desejam um reino carnal na história, recheado com "guloseimas" materiais. Mas, eles dizem, a passagem é, no entanto, uma nítida pedra no sapato para o amilenista. Enfatizam que este é talvez o maior e único problema exegético que o amilenismo enfrenta, razão pela qual raramente amilenistas comentam sobre a passagem em questão, e quando tentam, suas explicações não fazem muito sentido (He Shall Have Dominion: A Post-millennial Eschatology, Institute for Christian Economics, 1992, pp. 360-365).

continua...


Traduzido por MAC.


Veja também este artigo original em inglês: http://www.prca.org/articles/amillennialism.html#No08
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