sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Os 144.000 de Apocalipse 7.

IMPORTANTE: O texto a seguir é de autoria de William Hendriksen (1900/1982). Renomado pastor, professor e autor de diversos comentários bíblicos, foi uma das maiores autoridades da atualidade na escatologia cristã.

Então, subitamente, dramaticamente, João vê o outro anjo subindo do lado oeste. Ele tem o selo do Deus vivo. Grita aos quatro anjos que estão no controle ou retendo os quatro ventos de juízo. Em alta voz lhes diz:
“Não danifiqueis nem a terra, nem o mar, nem as árvores, até selarmos em suas frontes os servos do nosso Deus”.
Essas aflições são punições para o mundo iníquo e perseguidor. Elas não o atingirão, se o selo de Deus está em sua fronte. O Senhor lançou sobre Cristo a iniqüidade de todos os crentes (Is 53:6). Esteja certo de que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8:28).
Esse selo é a coisa mais preciosa sob o céu. A Escritura fala do selo num sentido tríplice. Primeiro, um selo protege contra adulteração. Dessa forma, o túmulo de Jesus foi selado com uma guarda (Mt 27:66; cf. Ap 5:1). Segundo, um selo marca propriedade. Assim, lemos nos Cânticos de Salomão 8:6:
“Põe-me como selo sobre o teu coração”.
Terceiro, um selo certifica caráter genuíno. O decreto de que todos os judeus deveriam ser eliminados foi selado com o sinete do rei Xerxes (Et 3:12).
O cristão é selado nesse tríplice sentido. O Pai o selou, pois ele goza de sua proteção ao longo da vida. O Filho o selou, pois o comprou e redimiu com seu sangue precioso. Agora, ele o possui. O Espírito o selou (Ef 1:13), pois ele certifica que somos filhos de Deus (Rm 8:15).

Na passagem que estamos discutindo a ênfase cai sobre a propriedade e conseqüente proteção. Observe que os filhos de Deus são selados em “suas frontes”. No capítulo 14 encontramos outra vez essa mesma multidão selada em suas frontes, os 144.000. Ali lemos que eles têm em suas frontes o nome do Cordeiro e o nome do Pai. Esse nome, com toda probabilidade é o selo
[53] (cf. Também Ap 22:4).
João ouve o número dos selados. Ele não vê seu número exato, pois esses selados estão ainda na terra. Só Deus sabe quantas pessoas realmente seladas há sobre a terra. O número é 144.000. Esse, é claro, é um número simbólico. Primeiro o número três, indicando a Trindade, é multiplicado por quatro, indicando o número de toda a criação, pois os selados vem do leste, do oeste, do norte e do sul. Três vezes quatro resulta em doze. Esse número indica: a Trindade (3) operando no universo (4).
[54] Quando o Pai pelo Filho no Espírito executa sua obra salvadora na terra – o divino (3) operando no universo (4) – vemos na antiga dispensação os doze (3 x 4) patriarcas e, na nova, os doze apóstolos. Para chegar à compreensão da Igreja da antiga e da nova dispensações temos de multiplicar doze por doze. Isso nos dá 144.
Em completa harmonia com essa representação, lemos em Apocalipse 21 que a cidade santa de Jerusalém tem doze portões e doze fundamentos. Sobre os doze portais estão escritos os nomes das doze tribos dos filhos de Israel. Nas doze fundações estão escritos os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro (21:9-14). Lemos, também, que o número é de 144 cúbitos de altura (21:17).

É bem claro, portanto, que a multidão dos selados de Apocalipse 7 simboliza a totalidade da Igreja da antiga e da nova dispensações. A fim de enfatizar o fato de que não é pequena a referida porção da Igreja, mas toda a Igreja militante, esse número 144 é multiplicado por mil. Um mil é 10x10x10, que indica um cubo perfeito, isto é, uma completa reduplicação.
[55] (Ver Apocalipse 21:16) Os 144.000 indivíduos selados das doze tribos de Israel literal simbolizam o Israel espiritual, a Igreja de Deus na terra.
É errado dizer que o símbolo significa, em última instância, Israel segundo a carne. O apóstolo, certamente, sabia que dez das doze tribos haviam desaparecido na Assíria, ao menos em grande parte, enquanto que Judá e Benjamim haviam perdido sua existência nacional quando da queda de Jerusalém, em 70 A.D. Além disso, se o texto dizia respeito a Israel segundo a carne, por que Efraim e Dã seriam omitidos? Certamente, nem todos os da tribo de Dã estariam perdidos. Novamente, observe a ordem na qual as tribos estão organizadas. Não a tribo de Rubem, mas Judá é mencionada primeiro. Lembre-se de que nosso Senhor Jesus Cristo era da tribo de Judá (Gn 49:10). Mesmo o fato de esse número exato, doze mil, ser selado de cada tribo – harmonia em meio à variedade – deveria se suficiente para indicar que estamos lidando com um símbolo, como já indicado. Quanto ao significado desse símbolo, também não somos deixados no escuro. Em primeiro lugar, o próprio número, sendo o produto de 144 vezes um mil, é plenamente explicado em Apocalipse 21, conforme já demonstramos. Segundo, esse capítulo ele deve indicar a Igreja da antiga e da nova dispensações. Além disso, no capítulo 14 vemos, novamente, essa mesma multidão, os 144.000. Aí nos é dito explicitamente que esses são os que foram comprados da terra. Representam aqueles que seguem o Cordeiro por onde quer que vá, e a totalidade da Igreja militante, portanto, tal como também é claramente ensinado em Apocalipse 22:4.
[56] Cristo, havendo-os comprado com seu precioso sangue, possui-os, e o Pai (por Cristo, no Espírito) protege-os. Deixe que os ventos soprem; eles não causarão dano ao povo de Deus. Deixe que venham os juízos; eles não causarão mal aos seus eleitos!

[53]
Cf. nossa explicação de Apocalipse 2:17.

[54]
Cf. C. F. Wishart, op. cit., pp. 22ss.

[55]
Ibid., p. 23.

[56]
É também a visão de W. Milligan, que isso se refere à totalidade da Igreja (não somente aos judeus) op. cit., pp. 861: uma série de bem convincentes argumentos.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

PARALELISMO PROGRESSIVO - Interpretando corretamente o Apocalipse - Parte 2.

...continuação.

IMPORTANTE: O texto a seguir é de autoria de William Hendriksen (1900/1982). Renomado pastor, professor e autor de diversos comentários bíblicos, foi uma das maiores autoridades da atualidade na escatologia cristã.

II – Outros Argumentos em Favor do Paralelismo.

Há uma outra linha de raciocínio que confirma nossa posição de que cada uma das sete seções se estende do começo ao fim da nova dispensação e de que as sete correm paralelas umas às outras. [4] Diferentes seções atribuem a mesma duração ao período descrito. De acordo com o terceiro ciclo (capítulos 8-11), o maior período aqui descrito é de quarenta e dois meses (11:2), ou mil duzentos e sessenta dias (11:3). Agora, é um fato admirável que encontremos esse mesmo período de tempo na seção seguinte (capítulos 12-14), a saber, mil duzentos e sessenta dias (12:6), ou um tempo, dois tempos e metade de um tempo (3 ½ anos) (12:14). As três designações – quarenta e dois meses, mil duzentos e sessenta dias e um tempo, dois tempos e metade de um tempo – são equivalentes exatos. Assim, a seção das trombetas (capítulos 8-11) deve correr paralela à que descreve a batalha entre Cristo e o dragão (capítulos 12-14).
Um estudo cuidadoso do capítulo 20 revela que ele descreve um período sincrônico com o capítulo 12. Dessa forma, mediante esse modo de raciocínio, fica demonstrado o paralelismo.
Cada seção oferece-nos uma descrição de toda a era do evangelho, da primeira à segunda vinda de Cristo, e é fundada na História de Israel sob a antiga dispensação, à qual faz freqüentes referências.
Temos dito que a seção sobre as trombetas (capítulos 8-11) é paralela à seção sobre a mulher e o dragão (12-14) e à seção final (20-22), que também se estende além dela (21,22). Provaremos, agora, que essa mesma seção (capítulos 8-11) tem toda a aparência de ser paralela à das taças de ira (capítulos 15, 16). Observe, portanto, que a primeira trombeta (8:7) afeta a terra; o mesmo que a primeira taça (16:2). A segunda trombeta afeta o mar; o mesmo que a segunda taça. A terceira trombeta se refere aos rios; o mesmo com respeito à terceira taça. A quarta, em ambos os casos, se refere ao sol. A quinta se refere ao grande abismo ou ao trono das bestas, a sexta ao Eufrates, e a sétima à segunda vinda para juízo. [5]
Novamente, observe que a quarta seção (capítulos 12-14) apresenta, como os inimigos de Cristo e da sua igreja, o dragão, as duas bestas e a grande prostituta (Babilônia). Esses surgem juntos. É natural, portanto, inferir que eles caiam juntos. Isso se torna claro quando entendemos que o significado da besta e da grande prostituta, Babilônia, é o seguinte: A besta que sobe do mar é a perseguição que o dragão promove contra os cristãos, corporificada nos governos mundiais e dirigida contra o corpo dos crentes. Nos dias de João isso era feito pelo governo romano.
A besta que surge da terra é a religião anticristã de Satanás que objetiva enganar a mente e escravizar a vontade dos crentes. No tempo em que essas visões apareceram a João, essa besta estava incorporada na religião pagã e no culto ao imperador de Roma.
A grande prostituta, Babilônia, é a sedução anticristã que tentou roubar o coração e perverter a moral dos crentes. Nesse tempo a prostituta se revela como a cidade de Roma. Assim, quando Satanás cai, as bestas e a prostituta também caem. Eles sobem juntos; eles também caem juntos. A sexta seção (capítulos 17-19) descreve a queda da grande prostituta, Babilônia (capítulos 17,18) e das bestas (19:20), enquanto o sétimo ciclo descreve a queda de Satanás (20:10) e sua derrota final no dia do juízo. O juízo final sobre os quatro inimigos – o dragão, a besta que vem do mar, a besta que vem da terra e a grande prostituta – é descrito em duas seções separadas. Assim, essas duas devem ser paralelas. Cada uma descreve um período que se estende até o conflito final, o mesmo último julgamento quando os inimigos de Cristo e de sua Igreja receberão sua final e eterna punição. [6]
Nessa mesma relação há outro forte argumento que defende a posição de que as seções correm paralelas, assim como cada uma delas termina com a vinda do Senhor para juízo. A evidência a que nos referimos agora é obscurecida pela tradução. A seção sobre as taças de ira (15,16) termina com uma referência a uma batalha. (Ver 16:14, onde o conflito é chamado a batalha do grande dia de Deus, o Todo-poderoso.) A seção seguinte (capítulos 17-19), de novo, termina com a mesma cena de batalha. (Ver 19:19) Conforme o original, essa é a mesma batalha mencionada em 16:14, pois ali lemos:
“congregaram-se para pelejar contra ele”.
Finalmente, no fechamento da seção (capítulos 20-22), lemos mais uma vez:
“a fim de reuni-los para a peleja”. (Ver 20:8)
Todas as três seções, portanto, descrevem eventos que se dirigem à mesma grande batalha de Jeová. Elas são paralelas.
As sete seções são paralelas. Nosso argumento final para apoiar a posição paralelística é o fato de que encontramos exatamente a mesma coisa nas profecias de Daniel, que têm sido chamadas de Apocalipse do Antigo Testamento. Desse modo, as partes do sonho de Nabucodonosor (capítulo 2) correspondem exatamente às quatro bestas do sonho de Daniel (capítulo 7). [7] O mesmo período é coberto duas vezes, e visto de diversas perspectivas.
A divisão do Apocalipse em sete seções [8] é preferida por muitos autores, embora não haja unanimidade com respeito aos limites exatos de cada seção. [9] Nós preferimos a divisão dada, com pequenas variações, por L. Berkhof, S. L. Morris, B. B. Warfield e outros. É a mais natural. É claramente provida pelo próprio livro, cada seção findando, como temos demonstrado, no mínimo com uma referência à vinda de Cristo para Juízo. Isso é verdadeiro mesmo com respeito à seção final (capítulos 20-22; ver 22:20), embora vá além do juízo final, descrevendo o novo céu e a nova terra (cf. 7:9ss.). Sobretudo, se interpretada dessa forma, cada seção incorpora um tema que pode ser facilmente distinguido dos outros. Nossa divisão é a seguinte:

1. Cristo no meio dos sete candeeiros de ouro (1-3).
2. O livro com os sete selos (4-7).
3. As sete trombetas de juízo (8-11).
4. A mulher e o filho perseguidos pelo dragão e seus auxiliares (a besta e a prostituta) (12-14).
5. As sete taças de ira (15,16).
6. A queda da grande prostituta e das bestas (17-19).
7. O julgamento do dragão (Satanás) seguido pelo novo céu e nova terra, a Nova Jerusalém (20-22).

Chegamos ao final da série de estudos sobre Paralelismo Progressivo pelo ponto de vista amilenista, por William Hendriksen.

[4] Embora as visões descrevam a nova dispensação, elas têm a antiga dispensação como ponto de partida. Cf., por exemplo, 12:1-4; 17:10; 20:3 (“para que não mais enganasse as nações”).
[5] S. L. Morris, op. cit., p. 64.
[6] R. C. H. Lensk, op. cit., p. 553.
[7] S. L. Morris, op. cit., p. 27; W. M. Taylor, Daniel the Beloved, p. 124.
[8] Para um de muitos sistemas de divisão, ver H. B. Swete, The Apocalypse of St. John, pp. xxxiii e xliv.
[9] Os diversos sistemas de divisão nessas sete seções serão encontradas em L. Berkhof, op. cit., p. 339; H. B. Swete (para a divisão de Ewald), op. cit., p. xlv; P. Mauro, The Patmos Visions, pp. 11ss.; W. Milligan, op. cit., passim; S. L. Morris, op. cit., p. 29; M. F. Sadler, op. cit., pp. xviss.; C. F. Wishart, op. cit., p. 30; B. B. Warfield, op. cit., p. 645 nota.

domingo, 16 de agosto de 2009

PARALELISMO PROGRESSIVO - Interpretando corretamente o Apocalipse - Parte 1.

IMPORTANTE: O texto a seguir é de autoria de William Hendriksen (1900/1982). Renomado pastor, professor e autor de diversos comentários bíblicos, foi uma das maiores autoridades da atualidade na escatologia cristã.

Análise Geral.

I – As Sete Seções Paralelas.

1. Cristo no meio dos candeeiros (1:1-3:22)

O tema dos três primeiros capítulos do Apocalipse parece ser Cristo no meio dos sete candeeiros de ouro. Esses candeeiros representam as sete Igrejas (1:20). A cada Igreja João é levado a escrever uma carta (ver capítulos 2 e 3). Como esse número sete ocorre muitas vezes no Apocalipse, e é em todo lugar um símbolo daquilo que é completo, podemos ter como certo, com segurança, que esse é o caso aqui, e que ele indica a Igreja toda através de todo e espectro de sua existência até o próprio fim do mundo. Assim interpretada cada Igreja em particular é, por assim dizer, um tipo, não indicando um período definido na História, mas descrevendo condições que são constantemente repetidas na vida de diversas congregações. [1] Assim, essa seção parece perpassar toda a dispensação, da primeira vinda de Cristo para salvar o seu povo (1:5) à sua segunda vinda para julgar todas as nações (1:7). A última das sete cartas é escrita à Igreja em Laodicéia. É evidente que o capítulo 4 introduz um novo assunto – ainda que intimamente relacionado.

2. A visão do céu e dos selos (4:1-7:17)

Os capítulos 4-7 constituem a próxima divisão natural do livro. O capítulo 4 descreve aquele que está sentado no trono e a adoração daqueles que o cercam. Na mão direita do Senhor há um livro selado com sete selos (5:1). O Cordeiro toma esse livro e recebe adoração. Do capítulo 6 aprendemos que o Cordeiro abre os selos um a um. Entre o sexto e o sétimo selo temo a visão dos cento e quarenta e quatro mil que foram selados da incontável multidão postada ante o trono.
Deve-se notar cuidadosamente que essa seção também cobre toda a dispensação, da primeira à segunda vinda de Cristo. A primeira referência a Cristo retrata-o como sendo imolado, e, agora, como governando dos céus (5:5,6). Próximo do fim dessa seção é apresentado o juízo final. Observe a impressão da segunda vinda sobre os não-crentes:
“...e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono, e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?” (6:16,17).
Agora, observe a bem-aventurança dos crentes:
“Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vinda. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima” (7:16,17).
Esse é um retrato da Igreja triunfante toda, ajuntada de todas as nações e assim, em sua inteireza, postada diante do trono e diante do Cordeiro – um ideal que não é entendido até o dia da grande consumação. Temos, assim, perpassado toda a era do evangelho.

3. As sete trombetas (8:1-11:19)

A seção seguinte consiste dos capítulos 8-11. Seu tema central é: as sete trombetas que afetam o mundo. O que acontece com a Igreja é descrito nos capítulos 10 e 11 (o anjo com um pequeno livro, as duas testemunhas). Também, no fechamento dessa seção há uma clara referência ao juízo final.
“O sétimo anjo tocou a trombeta e houve no céu grandes vozes, dizendo: O reino do mundo tornou-se de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos... Na verdade, as nações se enfureceram; chegou, porém, a tua ira, e o tempo determinado para serem julgados os mortos, para se dar o galardão aos teus servos, os profetas, aos santos e aos que temem o teu nome, assim aos pequenos como aos grandes, e para destruíres os que destroem a terra” (11:15-18).
Tendo alcançado o fim da dispensação, termina a visão.

4. O dragão perseguidor (12:1-14:20)

Tudo isso nos leva aos capítulos 12-14: a mulher e o “filho varão” perseguidos pelo dragão e seus auxiliares. Essa seção também cobre toda a dispensação. Começa com uma clara referência ao nascimento do Salvador (12:5). O dragão ameaça devorar o filho varão. O filho é carregado para Deus e para o seu trono. O dragão, agora, persegue a mulher (12:13). Como seus agentes, ele emprega a besta que vem do mar (13:1), a besta que vem da terra (13:11,12) e a grande meretriz, Babilônia (14:8). Essa seção, também, termina com uma inspiradora descrição da segunda vinda de Cristo, para julgamento:
“Olhei, e eis uma nuvem branca, e sentado sobre a nuvem um semelhante a filho de homem, tendo na cabeça uma coroa de outro e na mão uma espada afiada... E aquele que estava sentado sobre a nuvem passou a sua foice sobre a terra, e a terra foi ceifada” (14:14-16).
5. As sete taças (15:1-16:21)

A seção seguinte compreende os capítulos 15 e 16, e descreve as taças de ira. Aqui, também, temos uma referência clara ao juízo final a aos eventos que ocorrerão em conexão com ele. Assim, lemos em 16:20:
“Toda a ilha fugiu e os montes não foram achados”.
6. A queda da Babilônia (17:1-19:21)

A seguir vem uma descrição vívida da queda da Babilônia e a punição infligida sobre a besta e o falso profeta. Observe a figura de Cristo vindo para julgar (19:11ss.).
“Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro, e julga e peleja com justiça”.
7. A grande consumação (20:1-22:21)

Isso nos leva a seção final, capítulos 20-22, pois Apocalipse 20:1 definitivamente começa com uma nova seção e introduz um novo assunto. [2] Esse novo assunto é a condenação do diabo. Uma comparação, sobretudo, com o capítulo 12 revela o fato de que, ao início do capítulo 20, estamos mais uma vez no limiar de nova dispensação. Enquanto em 12:9 nos é dito que, em conexão com a ascensão e a coroação de Cristo, o diabo é lançado à terra, aqui em 20:2,3, lemos que ele é preso por mil anos, sendo depois lançado no abismo. Os mil anos são seguidos por um tempo curto durante o qual Satanás é solto de sua prisão (20:7). Isso, por sua vez, é seguido da descrição da derrota final de Satanás em conexão com a vinda de Cristo para julgamento (20:10,11ss.). Nessa vinda, o presente universo, passando, deixa lugar para os novos céus e a nova terra, a nova Jerusalém (20:11ss.).
Uma leitura cuidadosa do livro do Apocalipse mostra claramente que o livro consiste de sete seções, e que essas sete seções correm paralelas umas às outras. Cada uma delas abarca toda a dispensação, da primeira à segunda volta de Cristo. Esse período é visto ora de uma perspectiva, ora de outra. [3]

continua...

[1] Ver W. Milligan, The Book of Revelation (Expositor's Bible),VI, p.836; E. H. Plumptre, The Epistles to the Seven Churches, p. 9; W. M. Ramsay, The Letters to the seven Churches of the Asia, pp. 30, 177ss.; R. C. Trench, Commentary on the Epistles to the Seven Churches in Asia, pp. 59ss.; C. F. Wishart, The Book of Day, p. 22.
[2] Ver Capítulo Quatorze, p. 245.
[3] Essa, visão, de uma forma ou de outra, é adotada por R. C. H. Lenski, op. cit., pp. 216, 240, 350, 358; S. L. Morris, The Drama of Christianity, p. 26; M. F. Sadler, The Revelation of St. John the Divine, pp. xvi.ss. Ver, além desses, B. B. Warfield, Biblical Doctrines, pp. 645, 661.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

As Duas Testemunhas - Apocalipse 11

IMPORTANTE: O texto a seguir é de autoria de William Hendriksen (1900/1982). Renomado pastor, professor e autor de diversos comentários bíblicos, foi uma das maiores autoridades da atualidade na escatologia cristã.

As duas Testemunhas.

A verdadeira Igreja é agora representada pelo símbolo das duas testemunhas. Essas testemunhas simbolizam a Igreja militante dando testemunho por meio dos seus ministros e missionários ao longo de toda a presente dispensação. O fato de que são duas testemunhas enfatiza a tarefa missionária da Igreja (cf. Lc 10:1). O Senhor envia seus missionários dois a dois; o que falta a um o outro supre.
Agora, a Igreja como organização, funcionando por meio de seus ministros e missionários, desenvolverá seu trabalho por 1.260 dias.
1
1
Esse é o período que se estende do momento da ascensão de Cristo até quase o dia do juízo final (cf. Ap 12:5,6,14). Trata-se, sem dúvida, do equivalente exato de 42 meses, pois 42 vezes 30 é 1.260 – e de “um tempo, tempos e metade de um tempo”, que são três anos e meio (Ap 12:14). É o período de aflições, a presente era do evangelho. Pode surgir a questão: Por que esse período é agora expresso em termos de meses (verso 2), depois em termos de dias (verso 3)? Aqui a nossa resposta é uma suposição: no verso 2 temos a figura de uma cidade sendo sitiada e, finalmente, tomada e pisoteada. A duração do sítio de uma cidade é geralmente expressa em termos de meses. No verso 3, entretanto, as duas testemunhas são descritas profetizando; essa é uma atividade diária. Elas testemunham a cada dia, pela dispensação inteira. Elas pregam o arrependimento, razão pela qual se vestem de saco.
Para que tenhamos uma visão nítida da figura da Igreja como uma poderosa organização missionária por toda a presente era do evangelho, ela é aqui descrita num quádruplo simbolismo.
Primeiro, assim como “as duas oliveiras e os dois candeeiros”, Josué e Zorobabel (?) (cf. Zc 4), representavam os ofícios pelos quais Deus abençoou Israel, assim durante a era do evangelho ele abençoa sua Igreja por meio de ofícios, a saber, a pregação da Palavra e o ministério de sacramentos.
Segundo, tal como os missionários saíram dois a dois (Lc 10:1), assim através da era do evangelho a Igreja, como uma organização, cumpre sua missão no mundo.
Terceiro, assim como o fogo do julgamento e da condenação saiu da boca de Jeremias para devorar os inimigos de Deus (Jr 5:14), assim também quando a Igreja de hoje, por meio dos seus ofícios, condena o ímpio, com base na Palavra de Deus, essa condenação realmente resulta em sua destruição (Mt 18:18).
Quarto, tal como Elias recebeu poder para fechar os céus de modo que não chovesse (1ºRs 17:1), e tal como Moisés recebeu autoridade para tornar as águas em sangue (Ex 7:20), também assim o poderoso ministério da Igreja desta presente época, no caso de sua mensagem ser rejeitada, tem de julgar e condenar o mundo.
Esse poder não é imaginário, mas muito real. O Senhor não apenas derrama desgraças sobre o mundo iníquo em resposta às orações dos santos perseguidos (8:3-5), mas também assegura à Igreja que, sempre que ela estiver engajada no ofício oficial da Palavra e verdadeira diante do mundo, seus julgamentos serão os seus julgamentos (Mt 16:19; 18:18,19; Jo 20:21-23).
Na verdade, num sentido moral, a Igreja ainda golpeia a terra com cada praga! O mundo iníquo deveria ser cauteloso, pois se alguém está firmemente determinado a prejudicar a Igreja, contra ele sai o fogo da boca das testemunhas de Deus.
Se alguém pretender [1] causar dano aos verdadeiros ministros e missionários, será igualmente destruído (verso 5).
Esta era do evangelho, contudo, chegará ao final (cf. Mt 24:14). A Igreja, como poderosa organização missionária, findará seu testemunho. A besta que sobe do abismo, isto é, o mundo anticristão, movido pelo inferno, pelejará contra a Igreja e a destruirá. Esta é a batalha do Armagedom. A besta não marará todos os crentes. Haverá crentes na terra quando Cristo voltar, embora sejam um pequeno número (Lc 18:8). Mas a Igreja, como poderosa organização missionária e para a disseminação do evangelho e o ministério da Palavra, será destruída. Como ilustração, pense na condição do comunismo na China no presente tempo; certamente, há crentes sinceros ali, mas e quanto à proclamação poderosa, oficial, aberta e pública e à disseminação do evangelho? E não é essa a condição que se espalha em outros países? Assim, logo antes da segunda vinda, o cadáver da Igreja, cujo testemunho oficial e público foi silenciado e sufocado pelo mundo, está tombado na praça da grande cidade. Esta é a praça da Jerusalém imoral e anticristã. Jerusalém crucificou o Senhor. Por causa de sua imoralidade e perseguição dos santos ela se tornou, espiritualmente, como Sodoma e Egito (cf. Is 1:10; 3:9; Jr 23:14; Ez 16:46). Tornou-se símbolo da Babilônia e da totalidade do mundo imoral e anticristão. Assim, quando lemos que o cadáver da Igreja está jogado na praça da grande cidade, [2] isso quer dizer, simplesmente, que a Igreja está morta no meio do mundo: ela não mais existe como instituição de influência e de poder missionário! Seus líderes foram mortos; sua voz foi silenciada. Essa condição dura três dias e meio, o que é um breve período (Mt 24:22; cf. Ap 20:7-9). O mundo nem mesmo permite que os corpos das testemunhas sejam enterrados. Esses corpos estão jogados nas praças, expostos aos insetos, aves e cães. O mundo faz um grande piquenique: ele celebra! As pessoas enviam presentes umas às outras e tripudiam sobre as testemunhas (cf. Et 9:22).
Sua palavra não os atormenta mais. Mundo estulto! Sua alegria é prematura.
Os cadáveres, de repente, começam a se mexer; o fôlego de vida de Deus entrou neles; as testemunhas se põem em pé. Em conexão com a segunda vinda de Cristo a Igreja é restaurada à vida, à honra, ao poder, à influência. Para o mundo, a hora da oportunidade se foi. No dia do juízo, quando o mundo verá a Igreja restaurada à honra e à glória, o mundo ficará paralisado de medo. A Igreja – ainda sob o simbolismo das duas testemunhas – agora ouve a voz: “Subi para aqui”. Imediatamente a Igreja ascende ao céu numa nuvem de glória. “E seus inimigos a contemplaram.” Não se trata de um arrebatamento secreto.
Agora, outra vez dirigimos nossa atenção para o mundo iníquo. Conquanto o resumo da História da Igreja tenha nos levado para o dia do juízo e alem dele, retornemos para os eventos que ocorrem pouco antes desse dia final. Como todos esses eventos se agrupam em torno da segunda vinda, é evidente que a expressão “naquela hora” não nos impede de fazê-lo. Na visão, o apóstolo vê que a terra está tremendo. Temos aqui a mesma figura de 6:12. Um terremoto imediatamente precede o juízo final. Já cai uma décima parte da cidade; em outras palavras, a obra da destruição começa. Tão terrível é o terremoto que mata sete mil pessoas. Este é, provavelmente, uma representação simbólica dos acontecimentos alarmantes nas vésperas do juízo final. O número sete mil não deve ser tomado literalmente; ele fala do número completo dos que são destinados à destruição pelo terremoto. Nem todos os iníquos serão destruídos. Aqueles que permanecem vivos ficam aterrorizados e “dão glória ao Deus do céu”. Isso, é claro, não significa que se converteram. Longe disso! Estão, simplesmente, chocados de terror. O Rei Nabucodonosor, em seus dias, muitas vezes glorificou o Deus do céu (Dn 2:47; 3:28; 4:1ss.; 4:34; 4:37). Mas isso não implica que ele era um homem convertido.
Agora tudo está pronto para o juízo final; pois, a despeito de todas as trombetas de advertência, o mundo permaneceu impenitente e, além disso, rejeitou o testemunho das duas testemunhas – a Igreja como uma organização – e as matou (verso 7). Portanto, agora o ajuste final deve ocorrer. Assim, lemos: “Passou o segundo ai, vem aí o terceiro ai”.

[1] Note a diferença nas duas formas verbais no original.
[2] O termo “grande cidade” sempre se refere à Babilônia e jamais à Nova e Santa Jerusalém.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...