terça-feira, 14 de julho de 2009

Conclusão do capítulo 9 de Daniel e o arrebatamento secreto, Parte 3.

...continuação.

IMPORTANTE
: O texto a seguir é de autoria de David Martyn Lloyd Jones. Ele foi pastor da Capela de Westminster em Londres e mesmo depois de sua morte (1981) ele ainda é considerado um dos maiores pregadores da atualidade.


Portanto, eis os dois pontos de vista, e lhes pediria que os ponderassem criteriosamente e em oração. Vejo nesta seção de Daniel uma profecia mais chocante do que o ocorrido literalmente quinhentos anos mais tarde. Que previsão do evangelho! Que maravilhosa profecia do eterno caminho de Deus para a salvação! Vocês se lembram que Daniel estava aflito. Perguntou ele: o que irá acontecer? Qual será o futuro? E eis a resposta: é informado do que sucederá à sua nação e a seu povo. Mas, graças a Deus, não pára aí. É também informado do que Deus fará em cumprimento de seu antigo pacto e promessa. É informado sobre o Messias, a justiça eterna, a expiação, a reconciliação e de toda a glória da salvação cristã. Portanto, a impressão que tenho é de ser totalmente desnecessário introduzir uma lacuna entre as semanas sexagésima nona e septuagésima. A septuagésima procede diretamente da sexagésima nona. Essas coisas seguem uma seqüência e aconteceram na mesma seqüência ensinada aqui.

Uma outra questão que a mesma escola de interpretação ensina diz respeito não só ao tempo de Sua vinda, mas também ao modo de Sua vinda. Estou me referindo ao que comumente se chama arrebatamento preliminar dos santos. Ora, essa doutrina, da mesma forma que a interpretação de Daniel, capítulo 9, não era conhecida antes de 1830. Foi primeiro ensinada numa das conferências proféticas que se tornaram conhecidas como “The Powerscourt Conferences on Prophecy” (Conferências de Powerscourt sobre Profecia). O ensino é que há uma diferença entre a vinda de Cristo e o aparecimento de Cristo, também chamada o “dia do Senhor” ou “a manifestação do Senhor” ou “o aparecimento do Senhor”. Diz-se que a vinda de nosso Senhor tem referência somente à Igreja, ao povo cristão, e não se aplica diretamente ao mundo. Quando nosso Senhor vier, Ele virá somente para Seus santos. Os santos do Velho Testamento ressuscitarão, os santos cristãos que já tiverem morrido também ressuscitarão, e os cristãos que permanecerem na terra serão transformados e serão levados com esses outros santos ressurretos para encontrar o Senhor nos ares. Então, dizem, depois que a Igreja já estiver removida, e depois que o Espírito Santo também já tiver partido com a Igreja, o remanescente judaico será deixado aqui na terra. Os judeus já terão voltado para a Terra Santa, o templo terá sido construído e os sacrifícios estarão sendo oferecidos. Então o anticristo aparecerá e fará um pacto, e fará tudo o que eu venho descrevendo. Isso continuará até o dia do Senhor, quando nosso Senhor regressar, dessa vez com os santos – não para eles, mas com eles. Então Ele destruirá o anticristo e introduzirá o grande período do milênio.

Segundo esse ensino surgido em 1830, a segunda vinda de nosso Senhor será então em dois estágios, haverá duas vindas, separadas uma da outra. Ele virá a primeira vez só para receber os santos para Si mesmo. Ele virá a segunda vez, acompanhado pelos santos, para destruir o anticristo e introduzir o período do milênio. Mas não pára aí. Essa primeira vinda do Senhor será secreta. Ninguém O verá senão os santos. Será um arrebatamento secreto. Os incrédulos não saberão que Ele veio. Tudo de que estarão cientes é que os crentes a quem conheciam não mais vivem entre eles.

Vocês percebem a importância desse ensino? O arrebatamento secreto pode acontecer a qualquer momento; não há sinais prévios. Difere do ponto de vista tradicional que já lhes expus, o qual afirma que o anticristo deverá aparecer e será revelado antes que a segunda vinda de nosso Senhor se concretize. Não, sustenta-se que essa vinda do Senhor para Seus santos precederá a manifestação do anticristo e todas as suas obras nefastas. Essa é obviamente uma importantíssima questão para ser considerada.

Eu já disse que a doutrina do arrebatamento secreto não apareceu antes de 1830. Temos de fato uma afirmação autoritativa de como ela começou. Houve um estudioso do Novo Testamento chamado Tregelles, que pertencia aos assim chamados Irmãos de Plymouth. Tregelles foi sem dúvida um dos maiores eruditos em crítica textual do Novo Testamento do século dezenove, e além disso ele era um piedoso homem de Deus. Em 1830 e subsequentemente, ele esteve presente nas Conferências de Darby e de B. W. Newton e de outras pessoas pertencentes a essa escola. Eis o que Tregelles diz:

“Não estou cônscio de que havia algum ensino definido que haveria um arrebatamento secreto da Igreja numa vinda secreta até que isso fosse apresentado na forma de discurso na igreja de Mr. Irving, o que então foi recebido como sendo a voz do Espírito. Mas se alguém mais asseverou ou não tal coisa, foi dessa suposta revelação que surgiu a moderna doutrina e a moderna fraseologia”.
Ora, deixem-me lembrar-lhes do Rev. Edward Irving. Foi um notável pregador escocês cuja história de toda sua vida é digna de leitura. Foi um grande orador dotado de um intelecto privilegiado, e por certo tempo foi assistente do grande Dr. Thomas Chalmers na Escócia. Então foi para Londres onde exerceu um ministério fenomenal, tornando-se o pregador mais popular da cidade. Toda espécie de pessoas se apinhavam para ouvi-lo, pessoas da alta sociedade e de outras classes, por causa de usar extraordinária oratória, e às vezes também por causa da novidade de seus pontos de vista. Infelizmente, o pobre Edward Irving – para ser bondoso – parece ter-se tornado ligeiramente desequilibrado em seus ensinamentos. Começou a falar em línguas, segundo alegava, e a pregar que Deus lhe dera uma visão.
Nota do Mac: Na questão dos dons do Espírito adoto a linha pentecostal clássica de interpretação (até o presente momento), então, nesse ponto, eu e o autor do presente estudo discordamos.
Então fundou uma nova igreja que se denominou Igreja Apostólica. Alegava que a igreja era ainda apostólica, que os apóstolos e profetas não teriam cessado no final do período da Igreja Primitiva, mas que deveria haver ainda apóstolos e profetas, os quais ainda deveriam receber revelações, dedicar-se à pregação profética, ter visões e falar em línguas, etc.

Nota do Mac: Para entender melhor a pneumatologia de Lloyd Jones, ver o excelente artigo do Rev. Augustus Nicodemus que encontra-se nesse link.
Seus seguidores alegavam fazer tudo isso, e essa era a razão por que se chamavam a Igreja Católica Apostólica. Teve por certo tempo alguns seguidores, mas gradualmente o apoio diminuiu e se desvaneceu. Ora, Tregelles diz que até onde sabia, a doutrina do arrebatamento secreto da Igreja na vinda de nosso Senhor foi primeiro ensinada como resultado de uma pregação profética na igreja de Edward Irving. Originou-se do falar em línguas, interpretadas por alguém; alias, Tregelles enfatizou isso ao afirmar que tal ensino foi recebido por “revelação”.

Espero que estejamos percebendo a importância disso, porquanto existem hoje formas de ensino que atraem determinadas pessoas que alegam ser muito espirituais, e uma vez mais o ensino é baseado numa revelação que supostamente foi dada por Deus a uma pessoa em particular. Estou destacando um ponto geral aqui. Segundo meu entendimento do Novo Testamento, devemos sempre suspeitar de um ensino que se baseia em alguma suposta “revelação”. Se vocês lerem sobre a origem dos Adventistas do Sétimo Dia, bem como vários outros assuntos, vieram, segundo alegam, como revelação a uma certa senhora White. Não surgiram de um estudo das Escrituras, porém vieram de uma revelação. Ora, é preciso que considerem se tal coisa pode ser equiparada com o ensino do Novo Testamento com respeito à doutrina. A igreja Católica Romana, naturalmente, alega que ela é tão inspirada quanto a Igreja Primitiva, e que Deus lhe tem dado revelação subseqüente ao cânon do Novo Testamento. Eis por que os católicos romanos podem agora ensinar a concepção imaculada e a ascensão de Maria, e assim por diante – revelações foram dadas à parte das Escrituras.


continua...

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