IMPORTANTE: O texto a seguir é de autoria de David Martyn Lloyd Jones. Ele foi pastor da Capela de Westminster em Londres e mesmo depois de sua morte (1981) ele ainda é considerado um dos maiores pregadores da atualidade.
Acaso vocês não conseguem ver tudo isso no Novo Testamento? Admiro-me que alguém não consiga vê-lo. Olhem para as palavras: “extinguir a transgressão”. Não sobreveio a esse povo, em 70 d.C., um tipo de juízo final? Nosso Senhor o advertira, e finalmente chegou:
“Setenta semanas estão decretadas sobre o teu povo e sobre a tua cidade.”E então o povo e a cidade sofreram juízo, e o tem sofrido desde então.
Em seguida temos: “dar fim aos pecados”. Não teríamos aqui nosso bendito e glorioso evangelho cristão? Durante esse período deu-se um fim ao pecado. Foi estabelecido na colina do Calvário o manancial para os pecados e impureza. Abriu-se a vereda da expiação. O caminho do perdão finalmente se abriu. E então visualizem-no por este outro prisma: “para expiar a iniqüidade”. O que é o evangelho que nos foi confiado? Ei-lo, diz Paulo:
“Pois que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo.” (2ªCo 5:19)Daniel nos está fornecendo uma previsão daquilo que propriamente aconteceu durante esse período.
O que mais? Lemos: “e trazer a justiça eterna”. Vocês se lembram que o outro ponto de vista diz que a justiça da nação de Israel será eternamente estabelecida. Mas não recebemos tal informação. Simplesmente se nos diz que a justiça eterna será introduzida. Acaso a justiça eterna não foi introduzida por nosso bendito Senhor e Salvador, por Sua vida perfeita, por haver Ele feito uma oblação pelo pecado? A vereda da justiça de Deus, diz Paulo em Romanos, já começou. É o meu evangelho, diz o apóstolo:
“Porque no evangelho é revelada, de fé em fé, a justiça de Deus.” (Rm 1:17)Eis a justiça eterna, e jamais haverá outra. É a justiça de Deus em Jesus Cristo, e é a única justiça que Deus reconhecerá ou que a humanidade conhecerá. Ela é, na verdade, uma justiça eterna.
E em razão da justiça introduzida por nosso Senhor, Ele “selará a visão e a profecia”. Cristo é o cumprimento das profecias.
“Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas cumprir.” (Mt 5:17)Portanto, a profecia e a visão estão seladas, naturalmente, porque nosso Senhor é Aquele para quem todas elas apontam. Então, “e ungir o Santo dos santos”. E Ele foi ungido. As Escrituras neotestamentárias nos dizem especificamente que Deus O ungiu. Ele é o Messias. Portanto sugiro-lhes que o versículo 24 é inteiramente messiânico. É uma profecia do que aconteceria quando Cristo viesse realizar Sua obra perfeita.
O versículo 25 não apresenta dificuldade alguma; é perfeitamente claro. Ao chegarmos ao versículo 26, eis a informação que recebemos:
“E depois de sessenta e duas semanas será cortado o ungido, e nada lhe subsistirá”.Ora, sabemos que foi o que exatamente aconteceu. E então?
“E o povo do príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário.”E isso aconteceu literalmente. Tito era o nome do príncipe; e de uma forma terrível e quase diabólica ele e seus legionários romanos destruíram a cidade de Jerusalém e o templo. Josefo descreve o que aconteceu:
“Nunca houve sobre a terra um massacre tal como o que houve então, o sofrimento, a tribulação, a crueldade daquela guerra ainda se avolumam em toda a história”.E eis aqui, admiravelmente, uma profecia desse evento.
E então vamos juntos para o versículo 27:
“E ele fará um pacto firme com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação”.Ora, eu lhes apresentei o outro ponto de vista que sugere que essa é uma referência ao príncipe do povo que virá. Mas tentem experimentar isso – leiam esta seção em voz alta para alguém que não tem levado em conta a passagem e perguntem a quem o “ele” se refere. Porventura o sujeito de quem se faz referência em todo o parágrafo não seria o Messias? O outro príncipe surge e realiza sua obra, mas o tema, o sujeito, é o Messias. “Ele fará um pacto firme com muitos por uma semana” – e o Messias fez isso. Vocês recordarão que fizemos um grande esforço para enfatizar que a leitura correta é “confirmará” – não fará – “o pacto”. Ele estabelecerá um pacto que já estava em existência. E o Senhor Jesus Cristo não teria feito isso? O pacto da graça e da salvação retrocede a Abraão; aliás, retrocede ao jardim do Éden, como já vimos previamente (ver volume 1, Deus o Pai, Deus o Filho). O Senhor Jesus Cristo veio para confirmar esse pacto, e Ele o confirmou. Ele o estabeleceu. Ele o tornou sólido. Ele é a ratificação de todo o pacto. E o ratificou derramando Seu sangue, como o autor da Epístola aos Hebreus nos ensina (cap. 9). Oh, sim, e então prossegue:
“e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação.”O grande antítipo havendo chegado, os tipos, naturalmente, não são mais necessários. Quando “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29) veio e foi morto para fazer a oblação expiatória, as sombras e tipos não são mais necessários. Portanto, o sacrifício e a oblação são feitos para cessar e, de uma forma admirável, cessaram. Não existe templo, e os sacrifícios não são mais oferecidos. A oferenda final já foi feita, uma vez para sempre, como novamente o livro de Hebreus continua enfatizando e reiterando.
Mas de repente lemos isso:
“e sobre a asa das abominações virá o assolador, e até a destruição determinada, a qual será derramada sobre o assolador.”Simplesmente isso. A conseqüência imediata da rejeição dEle pelos judeus foi que a cidade deles foi atacada e totalmente destruída, de modo que, em certo sentido, Ele mesmo lhes fez isso. Noutras palavras, existe um paralelo entre os versículos 26 e 27. Há duas seções para o versículo 26, e duas seções para o versículo 27. Na primeira metade do versículo somos informados acerca do Messias sendo cortado e nada restando; e, em conexão com isso, há uma terrível inundação, e a guerra com toda sua desolação que literalmente ocorreu em 70 d.C. E há uma repetição exata das mesmas duas coisas no versículo 27. Antes de tudo, o próprio Messias confirmando e ratificando o pacto e, por Sua morte, pondo fim aos sacrifícios; e em seguida, na segunda metade, a desolação e a guerra e a destruição que ocorreram. E tudo aconteceu literalmente em 70 d.C.
continua...