terça-feira, 26 de maio de 2009

A interpretação de Daniel 9:24-27, Parte 2.

...continuação.

IMPORTANTE
: O texto a seguir é de autoria de David Martyn Lloyd Jones. Ele foi pastor da Capela de Westminster em Londres e mesmo depois de sua morte (1981) ele ainda é considerado um dos maiores pregadores da atualidade.


Portanto, agora vou considerar o que exatamente encontramos aqui em Daniel, capítulo 9, e indicarei os diferentes pontos de vista enquanto prosseguimos juntos. Preocuparemo-nos particularmente, por certo, com os versículos 24 a 27, os versículos do final do capítulo. Eis o cenário. Os filhos de Israel jazem em cativeiro em Babilônia, mas o tempo de terminar o cativeiro se aproxima. Daniel começa o capítulo nos informando que, pelo estudo que empreendera, descobriu que o cativeiro duraria setenta anos.

“No primeiro ano de Dário, filho de Assuero... eu, Daniel, entendi pelos livros que o número de anos, de que falara o Senhor ao profeta Jeremias, que haviam de durar as desolações de Jerusalém, era de setenta anos”.
E Daniel, à luz desse fato, se chega a Deus em oração e formula a pergunta óbvia:
“E agora, o que vai acontecer?”
Ele admite o pecado, admite que a nação merecera tudo o que lhe aconteceu, porém ele quer saber: e o futuro? E então a resposta é dada pelo anjo Gabriel. E podemos ler essa resposta nos versículos 22 a 27.
Lembro-lhes novamente que têm havido muitas interpretações diferentes deste capítulo. Os que conhecem o comentário IVF (ABU) da Bíblia notarão que estarei seguindo, na essência, a exposição dada ali pelo professor Edward Young do Westminster Theological Seminary em Filadélfia, U.S.A., o qual apresenta uma interpretação e exposição muito excelentes segundo o entendimento tradicional protestante deste capítulo. Incidentalmente, Edward Young, homem que considero um grande erudito em Velho Testamento, diz que esta é indubitavelmente uma das passagens mais difíceis em todo o Velho Testamento, e não há dúvida sobre isso.

Então, o que nos é dito? Bem, antes de tudo, focalizamos as próprias frases, as exatas palavras que são usadas, antes de chegarmos a interpretá-las. A primeira coisa de que somos informados é que Deus havia decidido algo com respeito ao povo:

“Setenta semanas são determinadas sobre teu povo e sobre tua cidade santa”.
A primeira coisa, portanto, é entender que Deus tem um plano para o povo. Ele determinou que certas coisas lhes seriam feitas. O que acontece a Israel não é algo casual ou acidental; é tudo determinado por Deus. E assim temos aqui agora uma previsão, uma predição. A profecia inclui predição – não é apenas predição, mas a inclui. Não é simplesmente pregação, porém nos informa o que está para acontecer. E agora enfrentamos imediatamente o termo setenta semanas.
O que significam as palavras “setenta semanas”? Bem, estritamente falando, essas palavras não devem ser traduzidas “setenta semanas”, e, sim, “setenta setes”. Pode-se argumentar que sete dias perfazem uma semana; sim, mas não se segue necessariamente que aqui se tenciona uma semana. O significado literal é “setenta setes”. Há um período de tempo referido como “sete”, e vai haver setenta desses “setes” particulares. Ora, há quem diga que setenta semanas significam simplesmente isto: 490 dias, e que na profecia um dia sempre significa um ano, de modo que setenta semanas, necessariamente, significam 490 anos. Entretanto, eis uma discussão em si aberta: acaso na profecia, um dia significa sempre um ano? E vocês descobrirão que existe toda espécie de discordância, e há quem diga que é assim no capítulo 9, mas não nos outros capítulos.

Sou levado à conclusão de que não é sábio considerar o “setenta” e o “sete” como sendo termos exatos. Sugiro-lhes que, em profecia, os números são simbólicos. Não se destinam a ser exatos, entretanto se destinam a comunicar uma idéia. Ora, desejo usar uma frase que foi usada por um homem que foi provavelmente o maior comentarista evangélico do último século, com certeza foi o maior na Alemanha, homem esse chamado Hengstenberg. Se por ventura vocês encontrarem um livro com o nome de Hengstenberg nele, comprem-no, guardem-no e devorem-no! Hengstenberg disse que esses números nas Escrituras podem ser descritos como que possuindo limitação velada. Eis uma frase formidável: ele são definidos, e no entanto não definem no sentido em que vocês podem dizer exatamente quando uma coisa começa e quando ela termina. Sim, há uma espécie de certeza neles, mas também uma certa incerteza, e isso se deve ao fato das pessoas não compreenderem a parte oculta da limitação que tantos dos maiores nomes na história provaram estar absolutamente errados. O grande Bengel se fez culpado disso. Gratton Guinness, um dos grandes expositores deste tema no século passado, também estava errado. Tais homens disseram que os números são absolutamente definidos, e afirmaram que poderiam dizer-nos quando uma coisa estava para acontecer, no entanto estavam errados e sempre estarão errados. Deus quer que saibamos que o tempo é definido na mente dEle, a Segunda vinda do nosso Senhor acontecerá no tempo determinado, mas vocês e eu jamais poderemos dizer o dia exato. Há indicações que nos farão pensar e estar de prontidão, mas nunca podemos dizer que acontecerá em tal e tal data. Toda história da profecia está entulhada com os destroços das reputações de homens que nunca levam em conta o fato da limitação velada: exato e contudo não exato, sendo a exatidão oculta a nós.

Sugiro-lhes, portanto, que uma boa maneira de entendermos esses números “setenta” e “sete” é esta: no simbolismo bíblico, que sete é sempre um número perfeito, como é o número dez. Assim, o sete vezes dez , que é setenta, pressupõe a era completa, o período completo, dividido novamente em períodos perfeitos sugeridos pelo número sete. E sugiro-lhes que, quanto mais vocês captarem a idéia de que não devem enfatizar demais esses números, mas considerá-los simbolicamente, mais bem sucedidos serão em sua leitura das Escrituras e menos sujeitos a cair em erro e a levar a profecia à difamação.


continua...

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