sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Vamos ao que interessa!!!

Antes de começar a postar sobre a interpretação amilenista a respeito das muitas passagens bíblicas relacionadas ao assunto principal, a saber, o milênio de Apocalipse 20, primeiramente temos que entender melhor o que é, o que não é e o que pretende o amilenismo.
Para sabermos sobre o que estamos falando e em torno do que o assunto gira, é extremamente pertinente neste momento citar o texto base no qual não só o amilenismo, mas também o pós-milenismo e o pré-milenismo constroem suas argumentações. Segue abaixo o texto, versão ACF (grifo meu):
20:1 E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na sua mão.
20:2 Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos.
20:3 E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pós selo sobre ele, para que não mais engane as nações, até que os mil anos se acabem. E depois importa que seja solto por um pouco de tempo.
20:4 E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos.
20:5 Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram. Esta é a primeira ressurreição.
20:6 Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos.
20:7 E, acabando-se os mil anos, Satanás será solto da sua prisão,
20:8 E sairá a enganar as nações que estão sobre os quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, cujo número é como a areia do mar, para as ajuntar em batalha.
20:9 E subiram sobre a largura da terra, e cercaram o arraial dos santos e a cidade amada; e de Deus desceu fogo, do céu, e os devorou.
20:10 E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre.
20:11 E vi um grande trono branco, e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a terra e o céu; e não se achou lugar para eles.
20:12 E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante de Deus, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras.
20:13 E deu o mar os mortos que nele havia; e a morte e o inferno deram os mortos que neles havia; e foram julgados cada um segundo as suas obras.
20:14 E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte.
20:15 E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo.
O motivo (ou um dos motivos) pelo qual confesso o amilenismo como sendo puramente bíblico e hermeneuticamente estável é a clareza com que ele expõe seus argumentos que, diga-se de passagem, são de fácil entendimento.

O QUE É.

Embora o termo amilenismo a princípio possa sugerir a descrença num milênio, na verdade isso se dá pelos amilenistas não crerem em um reino futuro e literal de mil anos após a vinda de Cristo, conforme o pré-milenismo ensina. Anthony A. Hoekema, ao citar Jay E. Adams fala que este “...sugeriu que o termo amilenismo seja substituído pela expressão milenismo realizado. Este último termo, sem dúvida, descreve mais acuradamente a posição “amilenista” do que o termo usual, uma vez que os “amilenistas” crêem que o milênio do Apocalipse 20 não é exclusivamente futuro, mas está agora em processo de realização. Entretanto, a expressão milenismo realizado é um tanto desajeitada, substituindo um simples prefixo por uma palavra de cinco sílabas.”[1]
Para o amilenista, o milênio é “...uma representação da presente era da igreja, iniciada no primeiro século até o retorno triunfal de Cristo, para dar início à eternidade, quando, então, haverá os novos céus e a nova terra”.[2]
Ainda, baseado no método gramático-histórico de interpretação, o amilenismo é uma linha escatológica forte e que respeita o gênero apocalíptico da revelação que foi dada a João (pois há quem diga que não seja apocalíptico) no qual as figuras e os simbolismos são evidentes.[3]

O QUE NÃO É.

Apesar da discordância de alguns, o método histórico-crítico de interpretação das Sagradas Escrituras não faz parte da escatologia amilenista, e sim da desastrosa e caótica teologia liberal. Os teólogos liberais com seus pressupostos relativistas, humanistas e iluministas são algumas vezes identificados como amilenistas por fazerem uma interpretação “alegórica” da Bíblia. A verdade é que tal afirmação não passa de um sofisma, uma declaração perniciosa que geralmente é feita por aqueles que não estão verdadeiramente inteirados sobre o assunto, e pior ainda, que não mostram qualquer sinal ou disposição para um diálogo, o que pra começo de conversa seria um ótimo sinal de humildade.
Há também uma acusação que diz que o amilenismo é uma escatologia anti-semita, principalmente por “divulgar” a teologia da substituição. A teologia da substituição ensina que a Igreja tomou o lugar de Israel e que não mais há promessas para o Israel étnico por este ter falhado com Deus em seus propósitos. Bem, então eu teria que perguntar: Mas isso não é vedade? Sim, é verdade, mas temos que lembrar que Israel não foi simplesmente “jogado fora” do propósito da salvação, mas antes, como se fosse uma segunda chance, Israel foi “refeito” maior e melhor por meio da Igreja, haja visto que agora fazem parte dela (da Igreja) tanto gentios como judeus (Rm 11; Gl 3; 6:16; Hb 8).

O QUE PRETENDE.

O amilenismo chama a atenção para alguns fatos. O primeiro deles é que a segunda vinda de Cristo é um evento único e não uma produção cinematográfica hollywoodiana, com várias seqüências de “filmes” de uma mesma história. Chega a ser espantoso como as pessoas dificultam e complicam passagens bíblicas tão claras sobre as últimas coisas, muitas vezes pela força do tradicionalismo denominacional que as impedem de enxergar pelo Espírito.
Uma última questão que gostaria de levantar, crendo eu que seja a mais importante, é saber que a escatologia amilenista nos dá uma perfeita visão bíblica do Reino, ou melhor, o verdadeiro Reino do qual Jesus Cristo falava e veio implantar entre nós. Esse Reino não é físico, literal e futuro, mas sim espiritual e presente. Quão fácil os pré-milenistas esquecem do que Cristo disse em João 18:36:
Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui.
Não devemos esperar por algo que não acontecerá e não condiz com a realidade bíblica do reinado atual de Cristo. Ele já governa sobre a vida de cada crente neste mundo, mesmo em meio às adversidades e investidas de Satanás. Este, por sinal, foi exposto a humilhação (Cl 2:15), com seu poder enfraquecido por ter sido amarrado (Ap 20:2) por conseqüência da poderosa obra redentora do nosso Senhor. Jesus saqueou (Mt 12:29) a casa desse “valente” derrotado, furtando os seus bens. Esses bens somos nós, resgatados por Cristo para reinar com Cristo.

[1] Anthony A. Hoekema, A Bíblia e o futuro (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1989), p. 211.
[2] Pr. Roberto do Amaral Silva em O Milênio (São Paulo: Ed. Vida, 2005), p. 11.
[3] Dois artigos interessantes sobre liberais e mitos na bíblia podem trazer luz sobre essa questão, por Augustus Nicodemus.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

PRÓLOGO - Sou diferente, fazer o que?!

Graça e paz caro(a) leitor(a).

É com muito prazer e satisfação que venho através desse post inaugurar esse modesto blog, bem como uma série de mensagens que tem a linha de interpretação escatológica AMILENISTA como foco principal. Talvez para muitos, esse seja apenas mais um blog de teologia, mas gostaria de chamar sua atenção para observar algumas questões que considero pertinentes, tendo em vista que congrego em uma comunidade pentecostal clássica.

1) Primeiramente, o que difere este blog dos demais é o fato de eu ser pentecostal, como já disse anteriormente. Para aqueles que estão mais familiarizados com questões escatológicas, sobretudo a respeito do milênio (Ap 20), sabem que praticamente é muito raro existir um pentecostal/amilenista, já que a maioria dos cristãos que defendem o amilenismo são de profissão de fé reformada como (e principalmente) os presbiterianos.

2) Com o surgimento do pentecostalismo no início do século XX na rua Azusa, o pré-milenismo começou a ganhar força, já que seu conceito aparece defendido nos primeiros séculos da Igreja (assim como o pós-milenismo e o amilenismo). A hermenêutica da teologia pré-milenista possui uma abordagem futurista/literalista do Apocalipse e com freqüência arroga para si o fato de fazer tal hermenêutica com base no método gramático-histórico de interpretação. Digo literalista (e não literal) porque interpreta de forma equivocada muitas passagens com claros e evidentes simbolismos e sentido não literal como o caso de Ap 20. Para esclarecer melhor essa questão, o Rev. Augustus Nicodemos responde a um comentário feito em seu blog no post sobre interpretação gramático-histórico: “[...] o método G-H de interpretação não é necessariamente literalista, isto é, ele não lê o texto sempre literalmente, mas somente quando a literalidade faz parte do gênero.” Ou seja, mesmo uma leitura gramático-histórica do Apocalipse vai considerar as descrições, os números, as figuras, etc, como sendo figurados. O fato é que não podemos confundir interpretação literalista com ortodoxia, ou seja, dizer que a forma como o pré-milenismo faz a sua hermenêutica do Apocalipse seja verdadeiramente correta e conseqüentemente bíblica (parece-me óbvio que não é).

3) Mesmo sendo pentecostal, não tenho receio de dizer que ele (o pentecostalismo) erra ao adotar o pré-milenismo como linha escatológica e por isso resolvi criar esse blog, para que não só o amilenismo seja difundido entre a comunidade pentecostal como também os meus amados irmãos em Cristo que professam a mesma linha denominacional possam ver a coerência e compromisso que a teologia amilenista possui com uma hermenêutica séria da Bíblia.

4) Por último, mesmo dentro do amilenismo pode-se notar divergências de opiniões aqui ou ali, porém nada que possa desqualificar o mesmo. Basicamente são dois os segmentos amilenistas mais conhecidos: o amilenismo agostiniano e o amilenismo clássico. Eu defendo o último por ser o mais centrado e bíblico e futuramente irei postar algo sobre as principais diferenças entre esses “irmãos” escatológicos. Também vale lembrar que Amilenistas geralmente adotam o idealismo para explicar as interpretações “alegóricas” do Apocalipse, competindo assim com outras linhas interpretativas como a preterista, historicista, futurista e a dispensacionalista progressista (essas são as mais conhecidas). Mesmo tendo já um certa instrução sobre essas questões em particular, penso que o idealismo não supre e/ou não suporta em boa parte o que interpreta e tenciona a respeito do Apocalipse, muito embora eu ainda não tenha um posição específica para defender. Há também um argumento muito usado por alguns teólogos (os que se opõe ao amilenismo) que alia o liberalismo teológico ao amilenismo. É verdade que não só entre os amilenistas, mas também pós-milenistas e mesmo entre outras correntes teológicas que não somente a escatológica existem liberais, logo, é correto dizer que o amilenismo não gera liberais, mas são alguns deles que pelos seus próprios motivos acabam adotando o amilenismo, fazendo assim com que por vezes haja confusão.

No mais, quero deixar registrado minha alegria em ter a sua atenção voltada para as minhas futuras postagens e espero conquistar sua admiração mesmo que venhamos a divergir nos pontos supracitados e/ou que ainda virão.

[ATUALIZADO - 01/06/2010]


Atualmente, mesmo congregando em uma comunidade de teologia e prática pentecostal clássica, minha compreensão sobre a doutrina do batismo no Espírito Santo mudou. Após confrontar com as Sagradas Escrituras o ponto de vista pentecostal sobre o assunto, cheguei a conclusão que o mesmo não se sustenta, ainda que para alguns tudo seja apenas uma questão de terminologia.

Portanto, creio que o termo "batismo no Espírito Santo" refere-se à conversão e não a uma experiência subsequente a ser buscada. Creio sim no enchimento e capacitação do Espírito na vida do cristão, mas entendo que são obras distintas do batismo no Espírito Santo.


Um forte abraço, em Cristo.

Mauricio Machado, vulgo MAC.
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